domingo, 2 de junho de 2024

K

Sol


  • Há um Sol
  • enterra lento,
  • Em terra lento
  • até podia estar

um anoitecer magnífico,

teatral, sinfónico.
O barulho das pessoas
era indiferente:
entre o palrar,
o nada dizer,
condição de homens,
de mulheres
e até podia ser Saturno
num enterrar 
sepulcral,
que os copos,
as bocas continuariam
a nada dizer...
Mas era o Sol,
aquele magnífico,
lento,
enterrado Sol,
para mim K. 626,
um Mozart triste,
magnificente,
final,
acompanhava
aquele enterro.
Era sempre na terra
que tudo terminava,
Era aqui o sol pôr,
por entre a indiferença
de quem nunca soube mudar.
Para quê modificar-se?
se até o Sol tem sido
sempre igual?

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terça-feira, 7 de maio de 2024

K

Urdir

quarta-feira, 1 de novembro de 2023

K

Tens trens?



Espero

na estação,

apenas a arrogância da névoa

num atraso celeste

ou infernal?

É longínquo o apito,

chega o ruído sobre mim nos carris,

desacelera, guincha, pára;

um ruído metálico percorre-me,

iça-me para dentro 

do Comboio da Não Existência: 

na carruagem 

nada…

como se um imenso vazio

um buraco tudo sugasse,

e a morte, a própria morte, 

oca de si,

me levasse ao colo

rumo à indiferença, 

ao desprezo 

{de mim mesmo...}.

Arranca, baforando,

não há lugar de chegada,

paragem assobiada,

familiar abraçada,

apenas o nada…

(“Guarda-te de chegares

    tão longe que nem 

    distingas os caminhos,

    ou as memórias

    dos que te são                    

    queridos.”

     Fala de Cristo a Saulo,

     em Damasco)

    


Originalmente publicado, com alterações, na minha página de Instagram (instagram.com)

(Imagem: acervo digital do A.)

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sábado, 2 de setembro de 2023

K

Serpes

 

Viver cansa,
Aborrece,
Satura.
Respirar
Nada traz
De novo,
Muito menos
O ar.
Abraça a víbora
E aguarda
A sua
Verticalidade,
E é nessa
Horizontalidade
Em que te ficarás,
Um afastamento
Em chocalho,
E tu já foste
Num riso
Que de acordado
Já nada tem.

Publicado originalmente na
minha página do Instagram
(www.Instagram.com)

(Foto do autor)

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terça-feira, 1 de agosto de 2023

K

Manuscriptum

domingo, 5 de março de 2023

K

Bússola

 







Calcorreavam os caminhos;

vinham dos moinhos altos,
detrás dos velhos choupos,
das urzes, de arbustos,
das acelgas miúdas.
Havia um pranto no ar,
duas exclamações
potentes entre si.
Pó nos caminhos,
estradas vivas, entre jardins.
Ao longe, o foguetório,
as bandas, a música.
Mas eles corriam atrás
doutros marcos, de vida nova.
Não a viam, não a tinham;
e os seus passos longos,
ignaros de festas, de folias,
retinham trajectos
sem bússola, sem rumo;
sem esperança, também.

(Foto do autor)

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sábado, 25 de fevereiro de 2023

K

mão



  •   As tuas mãos,
  • O teu sorriso perlado 
  • Escorregando entre matizes de 
  • heras estáticas, o meu rir
  • Procurando o teu, as heras
  • Marcam o tempo que não há e eu
  • Fico, os dedos buscando esse anuir
  • Esse “já volto" que define o tempo
  • Em que vives, 
  • A tua longa e vivaz harmonia
  • Cadência de tempos em que a tua memória 
  • Nos brinda com a tua presença.

  • Estares ou teres estado,
  • É igual,
  • O teu tempo,
  • A tua presença 
  • Estão sempre por aqui,
  • Vislumbra-se onde estás,
  • Heras imóveis 
  • Em mil novecentos e tal…

(Fonte das imagens: acervo do autor)

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

K

vertical

É nessa verticalidade, nesse chão que te foge que apontas ao alto que os ramos exigem mais. Ganhas aos prédios,


o Sol clama por ti 

dia após dia, 

até as tuas raízes são céu;

apontas sempre tão alto, 

ambicionas o véu do templo 

erecção madura essa, 

atalhas Lua, Marte, Júpiter, 

nem voltas, nesse teu ar

de delfim, Roi-Soleil, 

com um semi-sorriso

domesticas uma corte, 

um núncio apostólico, 

um inexistente primeiro-ministro... 

Que é feito de ti, cipreste? 

Que de tanto cresceres, 

foste parar à Corte de Versalhes, 

podada duas gerações mais tarde? 

(foto do autor)

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sábado, 13 de agosto de 2022

K

Mhi'alma








Sei que o tempo
É outro.
Que já não anoitece
Por detrás da tua colina,
Tens uma fraga, agora,
Contaram-me,
E também não queres
Fenómenos por lá.
Assim, muda o tempo,
O teu Sorriso
Os teus Olhos Bonitos,
Continuam iguais,

Iguais a tudo o que fora
E nunca deixara de ser,
Para reconforto
Da tua alma nívea,
Pura,
Despojo de dias felizes. 


(Foto do autor 
obtida com telemóvel:
Palacete em Lisboa,
Outono/19)

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sexta-feira, 5 de agosto de 2022

K

Futuro Imperfeito


As ruínas limitavam

o tempo,

eram um sol escuro

que pendia, cambaleava,

que fingia um 

acto quente,

luminoso,

cínico numa campanha

pueril na sua vastidão. 

Todo o chão 

sentava os passos

que, jocosos,

ensaiavam a travessia.

Reflectiam as colunas 

a baixeza, 

rumando 

para o lado em que

aquele sol,

sempre escuro,

amotinava os

ábsides, os cunhais. 

Forças ancestrais, 

longas, impantes, 

preparavam meticulosas, 

o fim, todos os fins, 

nem carbonizações restariam, 

nem arqueólogos aqui viriam 

num futuro distante. 


Na certeza 

de que o luar

seria cavalgado

entre mágoas nas

fissuras instáveis 

do Tempo...


#publicado na minha página do Instagram, com adaptações #tempo #colunas

(imzgem: arquivo do autor) 

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terça-feira, 19 de março de 2019

K

Ouve



Ouve,
sabes o mar?
A alternativa
ao sorriso desdentado
ao chão fletido sobre si,
na secura esquecida
de tempos assim,
como devem ser.

Há uma busca tão demente,
 um frenesim,
um vaivém de rupturas,
de perdas, 
que o céu faz-se obedecer,
num anil fero;
bendita a hora do crepúsculo 
inclina as árvores,
sorri ao vento,
à aragem amável,
mas feérica.

Ao longe a cidade,
formigueiro de braços 
e pernas inconsequentes,
rajada térmica,
onda sem frequência 
porque já passou o seu tempo.

Não evites o sol pôr,
o sorriso que as velhas
lhe encontram 
em caminhos de vagas intenções.

Mira, vê e olha!
Sê uno e manifesto,
não perdoes a iliteracia do gosto!
Sê uno e manifesto!

(foto do autor
obtida com telemóvel:
entardecer no bairro de Alavalade,
Lisboa, inícios de 2019)

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domingo, 11 de novembro de 2018

K

terminus












Aqui tudo termina.
Um Apocalipse revelado,
por entre as nuvens
flutua a espada
e também o cinzel,
o burel.
Numa semi-tranquilidade
louca,
paira o silêncio
dos mísseis de
cruzeiro,
cruzeiros sem volta;
nos giros almofadados
há vidas que fixam
em espanto e
calado horror
as nuvens:
prenúncio altaneiro e
mudo de novos,
rasos, loucos,
fins.
The end
 (📸 : anoitecer em Marvila,
vista para o bairro de Alvalade)
#revelação #revelation #whatiscoming #futuro

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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

K

o passeio


O passeio era contínuo.
Já nem tinha a mesma vida,
o céu nem lhe parecia azul,
ou as flores pintalgadas 
os guaches que lhe haviam dado
havia tanto tempo.

Era um passeio contínuo,
já nem descalça podia andar,
eram as botas que lhe haviam calçado
a sua obrigação.
Uma quase tropa 
naquela que fora a sua casa.

Tanto tempo perdido,
tantas palavras por dizer.
E uma marcha contínua,
sempre...
mais do que um passeio veloz,
uma fuga!


(Em 77 palavras,
Desafio 147, o passeio).

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quarta-feira, 26 de setembro de 2018

K

áureos...

É na ilusão do ouro
que as madrugadas
fluem pelas tuas veias;
caminhos que os barcos
esqueceram,
vórtices de algas,
sal das areias-rochas,
os corais vitoriosos
na espera.
Sim,
é em tons de ouro
que viras a página
de uma madrugada
que regressa
na suave brisa
das ondas
que se espraiam, 
leves, 
a teus pés.
(foto quase sem retoques,
Mortágua, algures no início 
do Outono) 


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quarta-feira, 12 de setembro de 2018

K

memória finalizante


.
É na memória 
que relembro o perdão,
o difícil de dizer:
“Eu perdoo-te”
e empurrar esse pacote,
bem embrulhado,
de laçarote,
para o fundo 
do esquecimento.
De lá brota,
 às vezes,
e é nessa acidez-relâmpago 
que relembro que o meu 
limite
se aproxima,
afasta
de um Perdão Infinito
gotejando 
a Sua essência,
na lentidão
do escorrer dos dias.

(foto do autor
obtida com telemóvel:
jardim nocturno em Marvila)



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sexta-feira, 8 de junho de 2018

K

divunir























Hoje,
soube que separar
era unir futuros,
que viajar era caminhar para o ocaso 
com a mochila ao ombro,
só.
Soube que ao fim do dia
seria o meu livro que me esperava,
mais nada.
Soube que entre fogachos de meio-dia,
entre fluidos deslizantes de Outono,
pouco mais havia
e que o tom de auto-compaixão 
era interdito.
Soube, pois,
que os caminhos se desligam
na natureza política da traição.
Depois, em campanha,
no interesse, reganham o tacto
da reunião e a traição recua.
Agora,
digamos, pois, o acto de contrição.

(fonte do autor
obtida com telemóvel:
o chão da minha rua)

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sábado, 9 de dezembro de 2017

K

chão... vida

Resultado de imagem para wet ground impressionist
Chão molhado,
esperança...;
o céu chora,
a terra emprenha,
esperança...;
aguardam-se lágrimas,
choro convulsivo,
esperança...;
(...)
descambam águas,
expectativa,
esperança,
certeza,
... vi-
da.

(fonte da imagem:
https://www.pinterest.pt/acurtis1082/impressionist-art/)

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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

K

escrevo

Resultado de imagem para office by the forest
E um dia este será o meu escritório 
(de scribo: escrever),
abrindo-se sobre a floresta, 
num sorriso ao vento,
à luz,
aos galhos partindo-se;
e então
não me poderei desculpar
com estas palavras
de que abuso.
O ar, a luz, os galhos
varrerão os meus textos,
e nem o gélido torpor
os atingirá.
Sobrará apenas
o meu
hipotético talento
somente.

(fonte da imagem: https://cdn.trendir.com/wp-content/uploads/old/trends/assets_c/2015/03/glass-book-nook-in-forest-thumb-970xauto-52352.jpg)

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sábado, 29 de julho de 2017

K

queda XXV

Resultado de imagem para vieira da silva
Olhei o horizonte,
esqueceu-me.
Os caminhos
inclinados,
os veios de ouro,
perdiam-se 
mar adentro.
Nada parecia nada.
Os antigos gestos,
os já sepultados valores,
as éticas limitantes
e libertadoras,
tudo se fora
com o horizonte 
que me subtraíra.

Agora,
apenas
uma partícula de água,
um grão de sol e outro de ar.
Nada mais.

(fonte da imagem:
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlWW3DLFrKPFpD31S1-kRIhvyoUqyadK7JksUoTuzdYHexWO2lvqJa1fr6dMcK70L6A8p5oHK7xnq9KOGBSGHCXVaLoM4WQxTkMfPPBXAkPfEyxGxBvPCdQgtu8k_sSMlOfT5C/s1600/untitled-1952.jpg 
pintura de Maria Helena Vieira da Silva)

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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

K

cor

A cor púrpura desliza,
na fronteira,
na mistura baça
da madrugada
que antecede a lâmina.
Espera-se a alva, 
o silvar,
o zunido cego,
já.
A luz espraia-se,
há um humor pétreo,
uma quase-cascata
que impera
precipitando-se
sobre os velhos arrozais,
migalhas de um Oriente
ao dobrar da esquina.
É a cor púrpura,
que a tudo remete,
que a tudo destina,
é a cor púrpura 
que aponta 
para lá do Ser,
para lá da Visão
e do Conhecimento.
Virtude primitiva
de um caminho
a que se chama hoje
consciência,
saber até.

Haverá
uma cor 
púrpura bastante,
que envolva
que cubra
que [nos] tape, até?

Regra de busca,
de regresso,
redenção última,
alento fugaz.

(foto do autor 
obtida com telemóvel)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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