Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
domingo, 5 de março de 2023
K
Bússola
Calcorreavam os caminhos;vinham dos moinhos altos, detrás dos velhos choupos, das urzes, de arbustos, das acelgas miúdas. Havia um pranto no ar, duas exclamações potentes entre si. Pó nos caminhos, estradas vivas, entre jardins. Ao longe, o foguetório, as bandas, a música. Mas eles corriam atrás doutros marcos, de vida nova.
Não a viam, não a tinham; e os seus passos longos, ignaros de festas, de folias, retinham trajectos sem bússola, sem rumo; sem esperança, também.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
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