quarta-feira, 3 de abril de 2024

K

Velho guerreiro








Numa pequenez rara,

abissal

Num rasgo de infinita bondade

Elevas o teu sorriso bom, para

Longe do que é efémero 

P’ra cá do final desejado.


Antes da fúria

E da danação:

Dos sismos e dos

Orgasmos, do

Instantâneo e do trovão.

Antes que o tempo seja

Dotado de mesquinhez, 

Que se alie a ti, 

velho guerreiro, nas 

Sombras de velhos contos,

De sagas-memórias 

Esfumadas, 

Trilhos para o esquecimento, 

Porque é esse o caminho

De todos os caminhos,

Não busques outro. 


Aperto a tua mão, 

Velho guerreiro, 

E reflicto 

-Nos teus olhos

Turvos, 

-No teu sorriso 

Aberto, 

-Na sinceridade 

De tuas mãos,


A beleza que ostentas, 

Esse manto de arminho, 

Que te cobre, 

É também real linhagem 

Finíssimo tule, 

Aristocrática humildade... 

Caminho e trilho reais,

Um beija-mão velado

que trouxeste de colónias

e possessões que, 

lascivas,

se te entregaram,

na fantasia do espanto:

“Vossa Majestade!

Altíssimo Rei!”

Na Metrópole esquecido,

Velho combatente de

Tua linhagem, de teu 

“Pedigree”.


Eternizas-te pela tua

dinastia fora,

Velhos quadros,

Tua face multiplicada/ex-quecida,

Senhor/raiz/centro/epicentro 

Dono de um sangue que não definhou.




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domingo, 2 de julho de 2023

K

Cansaço


A solidão vicia,
O ficar sozinho

Cria espaço

A tantas dimensões 
O silêncio, 
ausência.

Conforto.   

Não pôr os olhos
em ninguém.

Descansar de mim,

dos outros.
Morrer só.
Um sonho adiado,
                   mesmo assim 
                                       ensejo.

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domingo, 5 de março de 2023

K

Bússola

 







Calcorreavam os caminhos;

vinham dos moinhos altos,
detrás dos velhos choupos,
das urzes, de arbustos,
das acelgas miúdas.
Havia um pranto no ar,
duas exclamações
potentes entre si.
Pó nos caminhos,
estradas vivas, entre jardins.
Ao longe, o foguetório,
as bandas, a música.
Mas eles corriam atrás
doutros marcos, de vida nova.
Não a viam, não a tinham;
e os seus passos longos,
ignaros de festas, de folias,
retinham trajectos
sem bússola, sem rumo;
sem esperança, também.

(Foto do autor)

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quinta-feira, 15 de outubro de 2015

K

Outono, opus 2

As árvores vão-se fechando, o ar amolece, há um sabor a adeus e, nas janelas poeirentas do Verão, há um levíssimo travo a Natal.

(imagem do autor: Caramulinho, num Outono, imediatamente antes das mãos criminosas que trouxeram o fogo e a morte)

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

K

ver(-te)

Ontem,
estavas numa hora
de dormência,
em pé,
espreguiçando-te
para as árvores.
Era visível um anel de cabelo,
resumindo-se até à franja.
Os teus dedos esticavam-se,
como se quisessem deixar-te.
A tua figura esguia,
arqueada,
era um instante,
um momento contido,
uma impressão de Degas,
talvez Renoir,
que,
em arco imóvel,
juntou o meu dia de ontem
ao de hoje
em que te revejo.

(fonte da imagem:

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terça-feira, 5 de abril de 2011

K
 A lenda do escultor

Assim termina a lenda
Daquele escultor:
Nem pedra nem planta
Nem jardim nem flor
Foram seu modelo.*

E na sua partida,
no rasto que deixou,
semearam rosas;
estavam certos
de que as suas imagens
alvejariam os céus,
no esplendor da ira;
e, no seu orgulho,
iriam zurzir o kitsch
- talvez a lenda
que o escultor 
tivera na fronte
e esquecera -

Assim termina a lenda,
e as rosas semeadas
trouxeram a paz,
e o povo benzeu-se,
murmurando um "Deo Gratias",
na calma preguiça
do cair da tarde.

(*Sophia de Mello Breyner Andresen,
poema Final in "O Cristo cigano")
(fonte da imagem:
www.descubraportugal.com.pt/,
claustro do mosteiro da Batalha)

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terça-feira, 21 de julho de 2009

K

Olival

...a brisa entre as oliveiras,
num fim de tarde,

uma tristeza rolava

por sobre o olival

que,

de tão quieto,

trazia preso a si o anoitecer cálido de um Maio

[qualquer].

Era aquela hora da tarde

em que se deseja a sombra

entre os fios de erva,

deslizando,

qual cobra espreguiçando-se

em anéis de tonteria.

Não sei dos meus sentimentos:

devem espraiar-se algures...

algures entre o flanco

da surda casa

e o já provecto assento

tão coberto das memórias

de raios de Sol nublados...
(inspirado em excertos dum poema de Lucio Santoni em moriana)
(imagem retirada da net)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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