quarta-feira, 1 de novembro de 2023

K

Tens trens?



Espero

na estação,

apenas a arrogância da névoa

num atraso celeste

ou infernal?

É longínquo o apito,

chega o ruído sobre mim nos carris,

desacelera, guincha, pára;

um ruído metálico percorre-me,

iça-me para dentro 

do Comboio da Não Existência: 

na carruagem 

nada…

como se um imenso vazio

um buraco tudo sugasse,

e a morte, a própria morte, 

oca de si,

me levasse ao colo

rumo à indiferença, 

ao desprezo 

{de mim mesmo...}.

Arranca, baforando,

não há lugar de chegada,

paragem assobiada,

familiar abraçada,

apenas o nada…

(“Guarda-te de chegares

    tão longe que nem 

    distingas os caminhos,

    ou as memórias

    dos que te são                    

    queridos.”

     Fala de Cristo a Saulo,

     em Damasco)

    


Originalmente publicado, com alterações, na minha página de Instagram (instagram.com)

(Imagem: acervo digital do A.)

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segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

K

Paletes

Por que escrevo?
Que pretensão é esta? 
A de lançar palavras, 
que tantas vezes se empilham, 
escorrendo menos do que
vocábulos, 
apenas letras;
a minha fúria 
da quase mudez, 
semiótica... 
(semióptica...) 

(foto do autor
obtida com telemóvel:
estação de metro 
do Saldanha-Lisboa) 

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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

K

Cruz de Pedra

Era a hora das vésperas
e o monge curvou-se,
os olhos no chão,
os ouvidos longe,
mas tão distantes
que a Palavra,
supostamente de Deus,
nem aflorou ao seu coração
Rezavam-se as vésperas;
os olhos rolaram pelo
chão de tábuas,
a testa a elas paralela,
a voz do oficiante:
Veníte, exsultémus Dómino;
iubilémus Deo salutári nostro.
Præoccupémus fáciem eius in confessióne
et in psalmis iubilémus ei.

Onde estariam as suas mãos,
supostamente postas?
Onde estaria a sua alma,
o seu fervor,
onde estaria ele?
Ele: frei Pedro da Sagrada Família?
Para onde teria fugido?
Que caminhos teria ele tomado?
Frei Pedro não o sabia.
Apenas estava longe de tudo,
de uma fé que gotejava
cada vez menos,
de uma regra que era cada vez menos sua,
de um geral que lhe era cada vez 
mais distante,
de irmãos que eram familiares
tão longínquos.
Afinal, só a Cruz,
só o Senhor era o seu Amigo,
o seu verdadeiro Irmão.

Agora,
só Jesus,
apenas.
O único GPS
dos seus caminhos errantes:
Frei S. Paulo de Todo o Mundo.

(foto nocturna obtida pelo autor:
jardins marvilenses)




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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

K

conversa de café

Image result for cascos de cavalos a galope
Esta é a vida de café,
sorriu Diógenes.
Aqui se destroem 
sistemas,
se constroem modelos,
se mata e gera a Humanidade.
São os rabos sentados
que trazem mais iluminação ao cérebro,
as ideias fixam-se como laca chinesa.
Aristarco respondeu:
é esta a vida de café,
o mundo passa 
e somos nós que o moldamos
fazendo bem
e bem fazendo.

Entretanto,
das colinas da Ática,
Alexandre e Aníbal
(tecidos no Tempo)
aproximavam-se,
o tropel dos cavalos
exalando cinza.

(fonte da imagem:
https://pt.dreamstime.com/fotografia-de-stock-royalty-free-cascos-de-galope-do-cavalo-image11249327)


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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

K

canto


Resultado de imagem para parede alentejana

                         Não há bosques,
não há relva
no meu pensar;
cristalizou-se-me o sonho,
pingou o tempo entre duas tílias
no regresso de uma barra azul
- fusão numa parede alentejana - .

Florestas ridentes,
os mastros entrecortados,
a proa furando paredes
e paredes 
de algas.

Então verei
que tudo já foi 
dito,
inventado, 
feito,
e nada sobrou para 
o meu canto 
tão gregoriano, tão vetusto,
tão medieval, tão clássico.

(fonte da imagem:
http://castelocernado.blogspot.com/2010/12/cal-na-tradicao-alentejana-e-comendense.html)

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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

K

mar-rio

É  aqui que o rio
encontra o mar e,
nem sequer a sereia  
sabe do bater dos seus corações.
Na passada corrente do mar,
entre frondosos sonhos, 
sorrio à luz
e a uma sereia
que não capitula
ante o esquecimento
de um saber ancião:
que dizem as águas 
entre si? 

(foto do autor,
obtida c om telemóvel:
 uma manhã em Milfontes) 

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sexta-feira, 8 de junho de 2018

K

divunir























Hoje,
soube que separar
era unir futuros,
que viajar era caminhar para o ocaso 
com a mochila ao ombro,
só.
Soube que ao fim do dia
seria o meu livro que me esperava,
mais nada.
Soube que entre fogachos de meio-dia,
entre fluidos deslizantes de Outono,
pouco mais havia
e que o tom de auto-compaixão 
era interdito.
Soube, pois,
que os caminhos se desligam
na natureza política da traição.
Depois, em campanha,
no interesse, reganham o tacto
da reunião e a traição recua.
Agora,
digamos, pois, o acto de contrição.

(fonte do autor
obtida com telemóvel:
o chão da minha rua)

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sexta-feira, 6 de abril de 2018

K

Torre

Resultado de imagem para torre chapinhar
Freixos,
caminhos
à beira água.
Uma torre ensimesmada,
um gavião,
peito aberto,
lançadas as asas,
rasias ao coração,
enquanto chapinham,

pela tarde fora,
num entardecer de espuma.

(https://i2.wp.com/cruzilhadas.pt/wp-content/uploads/2016/06/Lagoa-Comprida-1.jpg?resize=710%2C340


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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

K

Marrocos



















Nas traseiras
de minha casa
há um cigano,
a quem, à noite,
por vezes,
o vinho ataca
(fantasio-o
encostado
a um candeeiro);
então grita e
uiva e 
trina,
e a sua voz trepa e
eleva-se e
a noite estremece;
lembro um Marrocos desconhecido,
uma noite cálida e
ao longe,
o Muezim 
chama para a oração,
e grita,
e trina,
e a sua voz trepa e
eleva-se e

a noite estremece; e
o meu cigano vizinho,
sem o saber,
transporta Marrocos
para debaixo da
minha janela,
numa memória ausente
porque de Marrocos
apenas conheço a mesquita
de Lisboa!

(foto do autor obtida com telemóvel)


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sábado, 9 de dezembro de 2017

K

chão... vida

Resultado de imagem para wet ground impressionist
Chão molhado,
esperança...;
o céu chora,
a terra emprenha,
esperança...;
aguardam-se lágrimas,
choro convulsivo,
esperança...;
(...)
descambam águas,
expectativa,
esperança,
certeza,
... vi-
da.

(fonte da imagem:
https://www.pinterest.pt/acurtis1082/impressionist-art/)

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terça-feira, 19 de setembro de 2017

K

Alegria fortissima em modo vivace


Era total a minha inabilidade:
acercava-me, numa saciedade imprecisa da memória;
dizia: acerco-me,
mas o sorriso caía,
como uma praça forte que tombava
às mãos impolutas 
de quem a merecia.

Incapaz,
o sorriso esmorecido,
tentava lançar os frecheiros,
os lanceiros, 
os caldeirões de azeite fervente, até.

A conquista consumava-se, no entanto.
Os aríetes, 
as escadas,
os besteiros,
iam matando a minha alegria,
o meu sorriso desvanecia-se
como a morte esbofeteava
os soldados nas ameias e muralhas.

Transmutou-se, então, o meu sorriso:
de praça forte forte
a sitiada
e conquistada;
o valor do saque era riso,
fruto do orgulho nos meus campos
a perder de vista.

Ah! Se a minha alegria fosse uma palavra apenas!
(fonte da imagem:
http://pichost.me/1761943/)


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quinta-feira, 4 de maio de 2017

K

Livro das Horas


Resultado de imagem para time passing by
Amiga:

A vida é um sussurro
que percorre as folhas do calendário
deixando-me atónito.
Cada ocaso é um só,
e as colinas escorregando pelas águas
tornam-se marcos onde o tempo,
forçosamente,
se imobiliza.

Sei que para ti, caríssima,
o tempo é um escolho,
deve ser esquecido 
enterrado, até.
Mas ele vulgariza-te
nas sombras que antecedem as rugas.

Sabes? 
Foi ontem que nos conhecemos,
que brincámos com as palavras
em jardins
escorados por esplanadas e risos.
Hoje, a galhofa é outra:
o tempo saltou para as nossas cavalitas
tapando-nos os olhos e a boca,
alimentando-se de nós.

Hoje, somos espelhos de todos os prazos;
somos resquícios de uma alegria
tão efémera como as folhas do calendário.
Somos pasto do tempo;
quebra, pois, os relógios
e o sortilégio das horas!

Um beijo grande.
Jaime
Resultado de imagem para time passing by

(fontes das imagens:
1ª - https://br.depositphotos.com/36283215/stock-photo-calendar-pages-flying-away-time.html
2ª - http://www.oh-i-see.com/blog/2014/01/09/reflections-on-time-passing/)

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quinta-feira, 14 de abril de 2016

K

madrugando

Adormecer.

É na dureza da tábua 
que se adentra a manhã,
deslizando-se sem torpor,
sem fricção.
É a madrugada
que roça as pálpebras,
o som do pó nas tábuas,
a noite esquecendo-se
pelas frinchas.
As folhas das árvores,
os ramos na ginástica da brisa,
o sorriso desdentado de um velho tronco.

A madrugada sopra,
de mansinho,
os restos da noite,
a poesia do sonho 
legitimado.














Varre, também,
a loucura dos olhos teimando-se 
abertos, 
a obsessão do pensamento 
ladeado na demência
das horas lentas,
fincadas no infinito.

É na madrugada
que se assina o pacto
com a luz,
mesmo na dureza
do seu refulgir metálico.

("Sê a tua própria dona.
   Se te inquirirem,
   sê uma só voz.
   Que nunca tenham uma ponta,
   um só átomo contra a tua conduta."
   Fala de Filemon a sua amada Baucis)


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quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

K

Esplanada

Mais um dia.
A esplanada,

a mesa,
o copo,
deslizavam

rumo a um sol
[estático].
O vento,
doce melancolia,
sugava-me para um lago 
não distante,
numa
[voragem]
de águas.

Mais um dia.
Tudo era sépia,
massa silenciosa,
meu 
[esquecimento],
minhas mãos soltas,
separadas,
livres,
abrindo-se em
[sentido único].

(Imagem do autor 
obtida com telemóvel:
Penacova e arredores,
início de 2016) 

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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

K

derama


Veste um sorriso,
como quem veste uma flor.

Acautela-te do frio

que a tristeza traz.

Lembra-te,

a vida pode ser uma peça de teatro,

tu até podes nem ser actriz,

mas mesmo como técnica de luzes,

serás sempre necessária;

por isso,

não te esqueças 

de te cobrir com um sorriso

e de deixar o drama

com os teus colegas 

lá no palco.

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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

K

anoiteceste


Anoiteceste,
as tuas mãos
enlaçaram os restos do meio-dia,
no teu colo
aninhaste a brisa do Outono,
nos teus cabelos soltos,
no seu roçagar cálido,
embalaste a areia,
a beira-mar.
Voltaste a sorrir ao Sol,
o mar ajeitou as ondas
numa espuma alegre,
contudo dissolvendo uma tristeza
sem dor, sem queixa,
prostração acre, doce.
Pelos teus olhos corre uma luz mortiça,
hasteando as velas numa chegada mansa,
o mar
meigamente
depositando-te,
na ternura de um dossel amoroso.

(imagem do autor obtida com telemóvel:
praia fluvial algures na Beira)

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terça-feira, 7 de outubro de 2014

K

Elogio do esquecimento


front
Amo as árvores:
as suas sombras
ladeiam
a entrada escusa,
frondosa,
do meu jardim secreto;
é nos seus ramos
que envolvo memórias
e os ditos
que ainda me atormentam;
pelo seu tronco
vão ganhando asas
olhares distantes
presos aos sargaços,
às profundezas
de mares primevos.
Uma gota de sol
e uma aragem amena
banham-me um sorriso,
lágrima sem retorno;
hoje reclinarei a cabeça
na raiz dourada
de um sicómoro,
parente de aves venerandas

em céus já esquecidos.
("Caminha sempre entre a loucura e a coragem serena; nunca deixes que os ventos te desviem os olhos; apresenta sempre a mesma face aos teus iguais; assim, a tua vida que terá valido     a pena."
(fala de Constantino a Messala seu protegido)
JAIME A. é um pseudónimo que se esconde atrás de alguém que se
perde e se encontra tantas vezes, que o que escreve lhe serve também
de bússola. Os outros, no entanto, não se guiam pelos seus textos.
Jaime A. também ainda não percebeu que significado têm os seus 50
anos.

 Nota: poema publicado na VI Antologia dos Poetas Lusófonos com algumas alterações

(fonte da imagem: http://www.studyblue.com/notes/note/n/quiz-3/deck/6350451)

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quinta-feira, 28 de agosto de 2014

K

oferenda


Gosto de oferecer livros. "Oferecer" (oferta) e não "dar" (uma doação).
Uma “oferta” que é quase uma “oferenda”: uma quase oferta a Deus, mas também o que se oferece para uma boa obra.
E que melhor obra haverá do que oferecer a alguém que prezamos um passaporte para uma viagem? Tantas vezes embarco sem destino quando abro um livro pela primeira vez…
Há rotas incertas: há livros que não proporcionam boas viagens, claro.

Gosto de oferecer livros…
(foto do autor
obtida com telemóvel:
Santa Apolónia, Lisboa, 2014)
(publicado no blogue
77 palavras
de Margarida Fonseca Santos)

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sábado, 3 de maio de 2014

K

(...)

Hoje queria deixar-vos aqui algo sublime, inesquecível.
Afinal, as palavras são apenas filas entediantes, o verbo não se solta,
nada qualifica seja o que for. 
Quatro linhas são o que resta de um sonho...

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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

K

avanços vs. recuos

Já esqueci o aborrecimento 
Na tarde em que fitaste com o teu olhar moroso 
Que me balançava como cavalo de pau. Nunca tive tempo para te dizer 
O quanto silenciaste a mágoa de ficar mirando o horizonte, as fragas, os céus de Verão
Os regatos, 
Os meus olhos;
O tédio que me invadia, afago gélido 
Como uma nuvem alta...
Em riacho...
Sonhei que eras uma sombra benvinda, um astro suplicante na voracidade dos lençóis, noite fora;
Os teu (a)braços folheavam-me os sentidos, dardejavam-me as têmporas; 
As mãos suadas, quase lilases, esfregavam-se em silêncio;
As palavras avançando temerárias,
Recuando tanto...

Hoje um grito soluçou-me a garganta:


"LIBERTAD O MUERTE!"


Outro ainda:


"HASTA LA VICTORIA! SIEMPRE"


E assim fiquei...


(foto: Caramulo muito antes do Holocausto
de Agosto-Setembro/2013;
foto do autor obtida com telemóvel)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

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