sábado, 2 de março de 2024

K

Dou voz de prisão aos três ou quatro 

sentimentos que ofegam por mim acima,

não obedecem e, na tristeza opressiva,

no cachecol vúlvico,

no insulto que paira sobre mim,

nada sobra a não ser a fuga,

o rito,

o grito,

o mito,

o fito longe

jazendo minhas órbitas,

escalpe

e unhas inúteis,

por isso mesmo trasladadas

para a euforia 

da passagem, da altercação mansa,

pelo ódio que sempre tive

por esta barca mal aparelhada,

manca, pífia, com que me sempre obrigaram

a fazer as travessias da Vida.

Nem o remo serve para a estocada final,

que me soubesse pôr a milhas da vida.

Nesta Barca de Caronte sou um condenado, 

fintando escolhos, sargaços e restos de gente…

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sábado, 2 de setembro de 2023

K

Serpes

 

Viver cansa,
Aborrece,
Satura.
Respirar
Nada traz
De novo,
Muito menos
O ar.
Abraça a víbora
E aguarda
A sua
Verticalidade,
E é nessa
Horizontalidade
Em que te ficarás,
Um afastamento
Em chocalho,
E tu já foste
Num riso
Que de acordado
Já nada tem.

Publicado originalmente na
minha página do Instagram
(www.Instagram.com)

(Foto do autor)

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domingo, 9 de julho de 2023

K

Kyno











Ter o cabelo azul

E os olhos louros;

Viver numa

paisagem de Mishima;


Ter a Morte 

no estábulo 

para saber sempre dela;

Ser, assim, figurante

num filme menor.

Astro em ascensão.



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domingo, 2 de julho de 2023

K

Cansaço


A solidão vicia,
O ficar sozinho

Cria espaço

A tantas dimensões 
O silêncio, 
ausência.

Conforto.   

Não pôr os olhos
em ninguém.

Descansar de mim,

dos outros.
Morrer só.
Um sonho adiado,
                   mesmo assim 
                                       ensejo.

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domingo, 5 de março de 2023

K

Bússola

 







Calcorreavam os caminhos;

vinham dos moinhos altos,
detrás dos velhos choupos,
das urzes, de arbustos,
das acelgas miúdas.
Havia um pranto no ar,
duas exclamações
potentes entre si.
Pó nos caminhos,
estradas vivas, entre jardins.
Ao longe, o foguetório,
as bandas, a música.
Mas eles corriam atrás
doutros marcos, de vida nova.
Não a viam, não a tinham;
e os seus passos longos,
ignaros de festas, de folias,
retinham trajectos
sem bússola, sem rumo;
sem esperança, também.

(Foto do autor)

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terça-feira, 19 de março de 2019

K

Ouve



Ouve,
sabes o mar?
A alternativa
ao sorriso desdentado
ao chão fletido sobre si,
na secura esquecida
de tempos assim,
como devem ser.

Há uma busca tão demente,
 um frenesim,
um vaivém de rupturas,
de perdas, 
que o céu faz-se obedecer,
num anil fero;
bendita a hora do crepúsculo 
inclina as árvores,
sorri ao vento,
à aragem amável,
mas feérica.

Ao longe a cidade,
formigueiro de braços 
e pernas inconsequentes,
rajada térmica,
onda sem frequência 
porque já passou o seu tempo.

Não evites o sol pôr,
o sorriso que as velhas
lhe encontram 
em caminhos de vagas intenções.

Mira, vê e olha!
Sê uno e manifesto,
não perdoes a iliteracia do gosto!
Sê uno e manifesto!

(foto do autor
obtida com telemóvel:
entardecer no bairro de Alavalade,
Lisboa, inícios de 2019)

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domingo, 20 de dezembro de 2015

K

sentir

Já sentiste

as flores

que a tua boca

pode criar?

Os mundos

que as tuas palavras

podem fazer florir?


Se o teu sorriso

amplo,

se as tuas palavras,
se a tua boca, 
enfim,
podem criar vida,
por que esperas?

(foto do autor
obtida com telemóvel)

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quarta-feira, 6 de novembro de 2013

K

flores em jeito de fim

sim,
esta é a hora
da nossa terra,
dos caminhos
(da noite)
das campas
alvas, delicadas,
servindo de poiso
aos gaios;
lembras-te
quando deslizavas 
as tuas mãos 
no frugal assalto
aos goivos
e aos lírios?


é na brancura
e no escuro da noite
que adormece o Sol,
em gestos suaves
de agonia,

num empréstimo
de flores 
[já extintas]

("Quando caminhares,
anda na bruma da verdade,
da paz; talvez encontres
a fruição no pó do caminho..."
Fala de Plauto a Tucídides,
seu discípulo nas horas silenciosas)

(fonte da imagem:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_Remy_les_Chevreuse_Cemetery_Fake_Ceramic_Flowers_02.jpg)

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sexta-feira, 6 de março de 2009

K

sacrossantas mãos



Por mil vezes que partisse,
bornal entrelaçado nas espáduas
(cálidas, quase vãs),
por mil vezes que voltasse,
litúrgico acto de despojo ,
nada me reconciliava
com a tua fronte longínqua, genial
(dizia-se…).
Um bornal,
ciclicamente desnudo,
um acto de pobreza,
uma ausência de abraço
terno, fácil.
Teus dedos finos
tanto se erguiam,
que refulgiam o divino.
Envolviam-se, então,
em tão veras crenças,
quantas as vezes em que meu bornal
marchara na sua muda obediência.

Prudentemente,
escassamente,
sorriste-me.
Meus lábios iniciaram a partida, então.
Meu bornal, agora completo,
agora leve de si,
encetava, o curso
da pobreza,
da obediência,
de uma castidade
(fidelíssima afinal...)



(imagem retirada da net)

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sábado, 3 de janeiro de 2009

K

... feixe...


...enquanto, contritos,

contemplamos o solo de nossas vidas,

tridimensionalmente ocas,

a luz do perdão penetra-nos,

humilde,

lenta,

suave,

tranquilamente,

quase em ar de desculpa;

lá fora,

os campos são fecundados

pelo amor da enxada,

pela força do camponês,

pela Graça do Senhor.



(inspirado num poema de Graça Pires)


(imagem retirada da net)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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