quarta-feira, 7 de agosto de 2024

K

Tua


A tua doidice
O odor,
A textura
Do teu sexo
As estrias de prazer,
Os holofotes da loucura
Tudo se aclara
Para seres minha
Posse fábula
Posse conto
Posse verso
Toda reclinada
Sobre uma paixão
Já acesa
Todos os teus membros
Enlaçados,
Na lenta escuta
Da madrugada
Que teima em
Unir nossas almas,
Mais do que nossos corpos,
Pois dia a dia tão colados
No grude do amor
Que não conhece ocaso…


Foto do A.

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domingo, 2 de junho de 2024

K

Sol


  • Há um Sol
  • enterra lento,
  • Em terra lento
  • até podia estar

um anoitecer magnífico,

teatral, sinfónico.
O barulho das pessoas
era indiferente:
entre o palrar,
o nada dizer,
condição de homens,
de mulheres
e até podia ser Saturno
num enterrar 
sepulcral,
que os copos,
as bocas continuariam
a nada dizer...
Mas era o Sol,
aquele magnífico,
lento,
enterrado Sol,
para mim K. 626,
um Mozart triste,
magnificente,
final,
acompanhava
aquele enterro.
Era sempre na terra
que tudo terminava,
Era aqui o sol pôr,
por entre a indiferença
de quem nunca soube mudar.
Para quê modificar-se?
se até o Sol tem sido
sempre igual?

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segunda-feira, 2 de outubro de 2023

K

Porta dos aviões


Uma escuridão clareou,

tonalizou-se.

A pulso, torneou

gestos esquecidos.

Era

como caças baixando

em porta-aviões

faiscantes,

rompantes,

impantes

lá,

na enseada,

num rasto

de fumo,

ruído,

poderio,

também acolá 

a escuridão,

sorriso alvar,

mergulho sob

o casco

em que

cinza é a cor

dum futuro

com navios

servindo-se da guerra…


(Foto do autor)



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domingo, 2 de julho de 2023

K

Cansaço


A solidão vicia,
O ficar sozinho

Cria espaço

A tantas dimensões 
O silêncio, 
ausência.

Conforto.   

Não pôr os olhos
em ninguém.

Descansar de mim,

dos outros.
Morrer só.
Um sonho adiado,
                   mesmo assim 
                                       ensejo.

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domingo, 2 de abril de 2023

K

Solstício em Março… em Setembro.









I


Os amores

Enlaçam-se

Beijam-se,

Sugam-se,

Voracidade

Canibal,

A fúria da

Faca aguçada,

Empernam em

Bailado emplumado,

Velhos dossiês

Capas rasgadas

Arquivos de amores falsos

Longos como

Sebes saltando

Como mulheres sadias e, afinal,

Tanto Amor

Enlaçado,

Voraz,

No entanto,

Todos distantes

Pelos restos do

Solstício…..


(Foto do autor)

(Texto publicado originalmente, com alterações, na minha página de Instagram)

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sábado, 25 de fevereiro de 2023

K

mão



  •   As tuas mãos,
  • O teu sorriso perlado 
  • Escorregando entre matizes de 
  • heras estáticas, o meu rir
  • Procurando o teu, as heras
  • Marcam o tempo que não há e eu
  • Fico, os dedos buscando esse anuir
  • Esse “já volto" que define o tempo
  • Em que vives, 
  • A tua longa e vivaz harmonia
  • Cadência de tempos em que a tua memória 
  • Nos brinda com a tua presença.

  • Estares ou teres estado,
  • É igual,
  • O teu tempo,
  • A tua presença 
  • Estão sempre por aqui,
  • Vislumbra-se onde estás,
  • Heras imóveis 
  • Em mil novecentos e tal…

(Fonte das imagens: acervo do autor)

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quinta-feira, 12 de janeiro de 2023

K

vertical

É nessa verticalidade, nesse chão que te foge que apontas ao alto que os ramos exigem mais. Ganhas aos prédios,


o Sol clama por ti 

dia após dia, 

até as tuas raízes são céu;

apontas sempre tão alto, 

ambicionas o véu do templo 

erecção madura essa, 

atalhas Lua, Marte, Júpiter, 

nem voltas, nesse teu ar

de delfim, Roi-Soleil, 

com um semi-sorriso

domesticas uma corte, 

um núncio apostólico, 

um inexistente primeiro-ministro... 

Que é feito de ti, cipreste? 

Que de tanto cresceres, 

foste parar à Corte de Versalhes, 

podada duas gerações mais tarde? 

(foto do autor)

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

K

Pegasus


 Eram os bastidores,

as asas fixas ao solo, vendas grisalhas, na sedução dos ares... Por que não estreitaste o focinho céus acima?

Onde deixaste o enamoramento?

O amor pelo elemento gasoso?

Pela antiga janela por onde espreitam

coisas antigas, velhas e antiquadas,

janela empoeirada longe da vacuidade

dos tempos,

das fraquezas,

da altivez de quem acha que comanda,

de quem pensa que está aos comandos

de algo,

mas de que coisa?

Ah! Esse focinho céus acima!

45o, ou mais, de ataque,

o gosto de ganhar

a Deus, o Seu espaço, o Seu domínio,

guerrilha vectorial, triplo componente.

A altitude é tua amiga,

números embriagantes,

o azul abraça-te,

o lá embaixo diminui

assim, velozmente,

violentamente,

varado num assombro

másculo, mas silente.

do lado de fora:

MIKOYAN GUREVITCH MIG-31


--

Sent from my Freewrite

 December 16th, 2022   Page 1 of 1


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sábado, 8 de outubro de 2022

K

Bússola

 


 Buscaste longe a tua longitude,
os sargaços trouxeram-te às costas,
fingiste as tuas fraquezas,
grata ficaste às gélidas
ondas que transportaram
essa tua alma espectral.
Ervas daninhas, não eram ondas,
lamberam-te os tornozelos,
o carácter feérico,
a vaidade arrojada.
(...)
Que fizeste à tua alma?
Que nos contas dela? 
Sim, será espectral e feérica.
Dos teus medos,
desprazeres,
afastamentos,
nada nos dizes.
Só a bússola,
em caixa compacta
de madeirame antigo,
robusto e seco, 
nos dá conta
desse teu desnorte...
(foto do autor)

(publicação original na minha página do Instagram: https://www.instagram.com)

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terça-feira, 5 de julho de 2022

K

Luz, luar, laranja, Lisboa

 


Lisboa,

Azul/laranja,

Despenham-se flocos

Numa queda

Ageométrica, 

Sem energia cinética

Formulada. 

Não há números,

Letras:

-constantes

-variáveis

Nem as benditas letras gregas

(próximas ainda

Do semi-bárbaro cirílico,

Caríssimos Santos Cirilo

E Metódio, quão distantes estamos

De vós,

E a ousadia de criticamos o vosso alfabeto).

Sim, Lisboa dista a memória

De S. Petersburgo, de Moscovo, da Ekaterinburgo pequena e gigante nas saudades dalguns...

A distância do céu axul-ferrete

Aos telhados laranja

Estica-me o braço esquerdo

Busca em goteira

Pela solidão das chuvas/neves que,

Em tempo,

Se precipitam na abundância

Que só as babushkas abençoam.

#chuva #Moskva #precipitar #Lisboa

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sábado, 5 de janeiro de 2019

K

Pompeia

Esqueci
Que o mundo líquido
Era este,
Navegado
Esventrado,
Ciúme vago
De pérfida
Lança
A que chamam
Acordo
Mar com dono
Não domado,
Barbatanas
Flutuando,
Eriçadas
Numa vingança
Que se deseja
Morna 
Em preia-mar.
Que o mundo líquido
Era este,
Navegado
Esventrado,
Ciúme vago
De pérfida
Lança
A que chamam
Acordo
Mar com dono
Não domado,
Barbatanas
Flutuando,
Marcas
Eriçadas
De uma vingança
Que se deseja
Parda,
Rebolando
Pelos canhões
200 metros abaixo
Levando a morte
Numa taça
Tocada pelos lábios
De Vesúvio,
O  Magnificente.

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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

K

Há muitas noites:
as de insónia e desespero,
os olhos esventrando o tecto;
as de glória e honra,
os olhos buscando a lua;
as de farto aconchego,
os olhos buscando os teus.
Pingam as estrelas,
em jeito vivaz e mordente,
jura o pó sobre si próprio,
uma vez que a ele retornará.
Escorro-me pela noite acima,
busco os corpos celestes,
as crostas do tempo,
as tampas dos caixotes
em que se alojam vetustos ET.

Afinal,
os meus olhos fundaram
o Universo.

 (Poema publicado pela primeira em Belas Artes Belas

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domingo, 11 de novembro de 2018

K

terminus












Aqui tudo termina.
Um Apocalipse revelado,
por entre as nuvens
flutua a espada
e também o cinzel,
o burel.
Numa semi-tranquilidade
louca,
paira o silêncio
dos mísseis de
cruzeiro,
cruzeiros sem volta;
nos giros almofadados
há vidas que fixam
em espanto e
calado horror
as nuvens:
prenúncio altaneiro e
mudo de novos,
rasos, loucos,
fins.
The end
 (📸 : anoitecer em Marvila,
vista para o bairro de Alvalade)
#revelação #revelation #whatiscoming #futuro

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domingo, 22 de julho de 2018

K

justeza


Um dia, 
a noite irá despojar-se,
lenta,
em luxúria plena,
em vasos comunicantes
de coisa alguma.

Um dia,
haverá tempo
para que a Lua
aqueça a noite,
a vigia será curta
e o anoitecer abençoará
os desfalcados da vida.

Uma noite,
o troar das luzes
trará os relâmpagos
que amanhecem o vento
que a tua aurora gera,
em giros de sol
e pós de estrelas.

("Acautela os teus caminhos, 
até os teus trilhos, mas não deixes
de olhar para os céus: as estrelas 
ainda irão suspirar pela tua alma."
Fala de Alfeu para o seu mestre)

(imagem: foto do autor,
obtida com telemóvel-Marvila
num fim de ano)

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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

K

amarar

Resultado de imagem para old boat on the shore
Barco louco,
por que me buscas
e me trazes tua ferrugem,
talvez ouro
outrora?
Agora, apenas 
um rasto de águas,
das viagens de que fugiste,
para te vires acoitar
nestas margens doces
de um mero sonho
tão esquecido,
tão suavemente obliterado.

(fonte da imagem:

https://www.pinterest.co.uk/pin/283375001533997348/)

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domingo, 9 de abril de 2017

K

a negro

The dying swan by eReSaW
Timbrei o meu escrito:
os verbos,
os sujeitos
(tantos esses),
os complementos
(que, na sua limpidez,
na precisão do seu eixo
nada apontavam).

As palavras - tantas vezes - 
cansam,
enredam-se na boca,
na ponta dos dedos;
nem mostram a humildade
de um poente
caindo sobre si,
cisne morrendo-se.

Entretanto,
tenho de escrever,
escrever muito,
escrever de cor,
escrever até 
a dor derrotar os sentidos.

Que ofício este!
Ser e não ter,
ter e não ser...

(...)

e as palavras sem dono,
sem mestre,
vogando,
vogando sempre.

(fonte da imagem:
http://eresaw.deviantart.com/art/The-dying-swan-272293091)

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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

K

biblos




Quando for grande

quero ser repositor 

numa biblioteca infinita,

assim privado dos outros,

a espiar e a ler,


entre o ranger do soalhos,


no longínquo espaço 


que nunca verei;


estarei pois afastado,


arrumarei livros lidos 


há séculos,


esquecidos 
por quem já foi esquecido


e o meu alimento serão 


as palavras mais nutritivas


de Eça ou Garrett ou Namora,


Hemingway, Saramago ou Sophia,


Borges e todo o caos (...)


palavras alimentícias, decerto.


Estarei pois sentado no chão de páginas


as pernas cruzadas 


e a curiosidade infinita,


como infinita é a biblioteca,


em que, lembrem-se,


sou o repositor,


esquecido pelo bibliotecário.

(fonte da imagem: n/a)

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segunda-feira, 9 de maio de 2016

K

quando

Quando os passos
incertos
se tornarem estridentes,
quando o sorriso
vivaz
se tornar lerdo,
quando os meus olhos
despidos de ti
se tornarem centelha,
então saberei que o meu tempo,
que a minha fome de silêncio,
terão sentido na madrugada
que se alastra até pelo horizonte fora.

Diz-me quando for a hora,
desperta-me 
do terror hirto,
da chama já mortiça,
e deixa-me caminhar,
caminhar muito,
até ao fim do exílio simétrico,
que impus à minha alma.

(imagem do autor obtida
com telemóvel)

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domingo, 8 de novembro de 2015

K

partida

Partiste, mas não partiste: sempre foste uma espécie de pequeno paradoxo.
Não é, com certeza, um adeus mas um até já, meu querido.

(Recepção: Outubro/2010 - Doação ao Criador: 2/11/2015)

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sábado, 28 de fevereiro de 2015

K

Olhos

Hoje, apeteceu-me o carinho
dos teus olhos.
Apeteceu-me o toque
dos teus olhos no meu pescoço,
nos meus ombros.
Apeteceu-me ainda mais
a carícia dos teus olhos 
nos meus,
o veludo da tua íris
a passear assim,
um rasto 
aterrando suavemente
por mim acima,
perdido talvez 
nos sussurros das árvores,
recuando até aos deuses
que nos foram esquecendo,
na sua truculenta escapada.
Talvez hoje a brisa dos teus olhos,
o teu devoto cuidar
sejam memórias sentidas,
apenas.


(também publicado no blogue
77 palavras de Margarida Fonseca Santos)

(Fonte da imagem:
http://www.slate.com/articles/technology/future_tense/2012/03/eye_tracking_computer_programs_and_privacy_.html)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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