quarta-feira, 1 de novembro de 2023

K

Tens trens?



Espero

na estação,

apenas a arrogância da névoa

num atraso celeste

ou infernal?

É longínquo o apito,

chega o ruído sobre mim nos carris,

desacelera, guincha, pára;

um ruído metálico percorre-me,

iça-me para dentro 

do Comboio da Não Existência: 

na carruagem 

nada…

como se um imenso vazio

um buraco tudo sugasse,

e a morte, a própria morte, 

oca de si,

me levasse ao colo

rumo à indiferença, 

ao desprezo 

{de mim mesmo...}.

Arranca, baforando,

não há lugar de chegada,

paragem assobiada,

familiar abraçada,

apenas o nada…

(“Guarda-te de chegares

    tão longe que nem 

    distingas os caminhos,

    ou as memórias

    dos que te são                    

    queridos.”

     Fala de Cristo a Saulo,

     em Damasco)

    


Originalmente publicado, com alterações, na minha página de Instagram (instagram.com)

(Imagem: acervo digital do A.)

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sábado, 2 de março de 2019

K

Campanário

Era sob aquela massa,
pedra,
ferrolho e postigo,
ar macilento,
escuro táctil,
paredes e ameias,
calçadas as pedras
que escorregava
um riacho,
outrora líquido,
pedras enceradas,
o sol ecoando-se.
Nos ares, 
pássaros
e morcegos
esquecidos
esquiva, louca. 
O vento, 
em arco pétreo
esquece as searas 
outrora fustigadas. 
Erecta, 
distante, 
a torre some-se, 
cavalo balofo, 
tentando alado, 
o escape. 
Aquela gorda flecha
de pedra:
surdez 
de um deus 
humilde, 
busca 
vã 
duma eternidade. 


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terça-feira, 13 de novembro de 2018

K
Disfarçava a sua total falta de competências sociais usando calças largas e ténis de sola grossa. Parecia alta, ostentava sempre um ar sério, não gélido, talvez distante.

Não era bonita, nem sequer gira. É provável que desejasse marcar presença pela pose; conseguia apenas mimetizar-se, fundir-se na atmosfera, ser apenas a moça das calças largas, dos ténis gigantescos. 

Uma só vez: a vi agradecer, a vi seguir alguém com os olhos, a senti morrer de amor. 
#77palavras #prettyfright #forgetmenot #howmany?

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quarta-feira, 27 de junho de 2018

K

augúrio

À noite,
até a luz se espraia 
em gestos vítreos,
em gestos de oiro,
pelas plantas
incertas do seu verde,
duvidosas da flor
ostentada em riste
de humilde presságio.
 
(foto autor obtida com telemóvel)

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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

K

tempo


Talvez 
tenha passado um ano,
um dia, quem sabe?
O tempo é meu amigo 
ainda,
e nos restos,
nas sombras 
que um relógio 
projecta 
nas paredes
de um amanhecer 
há um entregosto,
uma maré de risos,
de gemidos também.
E por entre os ecos,
as vozes da madrugada,
sente-se o chocalhar
dos seixos que o tempo
se recusa a lembrar.

(foto do autor
obtida com telemóvel)

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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

K

jogo de luas



Foi quando te vitrificaste
que me detive.
Paralisada,
entre os fetos,
naquele jardim de Inverno
que proclamavas teu.
Eras silicatos
que ardiam,
crepitavam
na noite
que se queria silenciosa,
mas cuja Lua
se esmerava nas marés
quase rompantes.
Brilhavas como nunca,
teus ombros oscilavam:
eram esmeraldas, eram opalas...
Havias estacado num triunfo de beleza,
num instante gelado,
tudo se decrepitaria a partir daí;
nunca te quereria ver anos depois,
serias, assim,
a juvenil, magnífica,
Vénus 
sem Botticelli,
seria assim que me perderia,
numa gazua 
expectante,
sem nada forçar,
a não ser a corrida da espera.
Nem ficaste indecifrável,
flor viçosa e corrente.
Apenas estatuária,
flor de sal,
nesse teu jardim de Inverno...

(fonte da imagem:

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

K

ver(-te)

Ontem,
estavas numa hora
de dormência,
em pé,
espreguiçando-te
para as árvores.
Era visível um anel de cabelo,
resumindo-se até à franja.
Os teus dedos esticavam-se,
como se quisessem deixar-te.
A tua figura esguia,
arqueada,
era um instante,
um momento contido,
uma impressão de Degas,
talvez Renoir,
que,
em arco imóvel,
juntou o meu dia de ontem
ao de hoje
em que te revejo.

(fonte da imagem:

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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

K

hoje

Falaste-me, hoje,
do tempo das cerejas,
dos lampejos de sol,
gritando por entre as nuvens;
daquela luz,
inveja da aurora
e da brisa,
sopro divino entre os ramos.
Falaste-me das esperas,
do círculo feito pelas palavras
enquanto bailavam,
como insectos na luz;
encandeavam-se na certeza
de um poema,
soletrando marcas de água
baptizadas no santo lume.
Sim,
falaste-me do tempo das cerejas
e o céu voltou a lembrar-se
do quanto fora azul
no esforço,
e no descuido
da busca sôfrega do arco-íris

(fonte da imagem:

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

K
Frágil
Sorrio ao vento,
e é na fragilidade das palavras,
que me envolvo no silêncio.
Nas hastes do sonho,
penduro o meu olhar
[semicerrado]
no aconchego de um poente,
algures num mar luminoso.
Sabe-me a sal a minha face,
e,
nas correrias na praia
{mastros encimados por liras,
aqui e ali}
há um não-sei-quê de poético,
que leva e traz essas palavras
(frágeis)
na terna, fugaz memória
de um homem sentado à beira-mar. 

(fonte da imagem:
http://www.flickr.com/photos/pedrosz/)

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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

K
TEMPO

Agora é o tempo do pousio,
dos sonos longos e fartos;
é o tempo das neves,
dos frios soltos
em que me estendo;
há ramos gingando
ao sabor das fogueiras,
estalidos, pé ante pé;
espelham-se os dias sujos
nas poças encharcadas
ladeando a terra prenha;
suspeitam-se golfadas de ar
transviando as memórias,
pecúlios, farripas de sol;

[paz nos caminhos mornos
em dormição aninhados... ]

(fonte da imagem:
http://extinto.blogger.com.br)

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quinta-feira, 15 de outubro de 2009

K

viagens

As minhas viagens espraiam-se
pelos livros de sonhos;

caminho pelas páginas
estando quieto,
num sortilégio de remanso,
de esperança dormente...
enquanto tomo de aguilhão a vida,  
para que me arremesse 
para lugares-longe,
tão longe como a lembrança
de dias felizes...

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terça-feira, 27 de maio de 2008

K
(...)...entre dentes cicio,
uma fala cega.
Um dizer em arco,
sem pilar,
em coluna de água,
baça.
Navego em quedad'água;
montes riem altivos,
há três ou quatro largos,
cinco caminhos verdes.



Um arco pulou em súbito desejo,
em brilho oco,
em estoque mosqueteiro.
Assim se juntou a ponte,
assim se uniu o fado...
(a partir dum poema de blindness)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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