Hoje, vi a flor reverdecer, o verde a alastrar pelos campos acima, parecia que o vento norte, a chuva salgada, tinham tomado um atalho, um caminho, que nos deixava a flor, o regaço oculto das ervas, dos arbustos, que pariam mais e mais flores. E os pólenes bailavam, nas braçadas de tojo em estio, entre os galhos no meio dos pastos semeados pelo vento. ("Guarda-te dos mares, das ondas e da espuma. Caminha pelo leito seco das águas e sorri ao vento, teu companheiro de viagem." Fala de Orestes a Plauto, dramaturgo e poeta
A contradição atrai-me, em trejeitos de loucura e verve, e em semi-sorriso admiro:
- o vento,
- o torpor doce, melancólico, o vago prazer da dor escorrendo - o espreguiçar-me pelas encostas já ceifadas em canas quase fulvas,
- as janelas semi-abertas ao dourado, à despedida do calor que as usurpava, - as folhas que embalam baloiçando no esquecimento da areia que zurzia e esfolava.
Amo o suave oscilar do Verão, que entre a vigília e o claro sono, numa vil, pastosa estagnação gera um suave, tranquilo Outono.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)