quinta-feira, 4 de julho de 2019

K

Última edição


Naquele dia,
quando as páginas forem já 
pedra dura,
quando os meus olhos,
fechados,
não discernirem mais 
do que a névoa,
e todo o meu corpo já 
não for servo nem senhor...

Naquele dia,
sabeis que fazer:
com cuidado,
com frieza até,
retirai todos os meus livros 
e ofertai-os,
ofertai-os 
com simplicidade,
e com a minha ternura,
a todos os que com eles
se completem
e deles retirem,
ao menos 37,94%
do prazer
com que me bafejaram.

Partirei então, tranquilo,
amortalhado em folhas de jornal,
com as notícias frescas
desse dia,
dia de despedida
e de chegada.
(fontes da imagem: Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra)


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sexta-feira, 5 de abril de 2019

K

Para Pessoa “O cais era uma saudade de pedra”

No Mar Atlântico não cabe toda a Saudade dos portugueses, por isso Fernão de Magalhães criou o Oceano Pacífico para que nele se continuassem a escoar as saudades que ficaram por ressarcir: o Sal das Lágrimas dos Açores.

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terça-feira, 11 de dezembro de 2018

K

Há muitas noites:
as de insónia e desespero,
os olhos esventrando o tecto;
as de glória e honra,
os olhos buscando a lua;
as de farto aconchego,
os olhos buscando os teus.
Pingam as estrelas,
em jeito vivaz e mordente,
jura o pó sobre si próprio,
uma vez que a ele retornará.
Escorro-me pela noite acima,
busco os corpos celestes,
as crostas do tempo,
as tampas dos caixotes
em que se alojam vetustos ET.

Afinal,
os meus olhos fundaram
o Universo.

 (Poema publicado pela primeira em Belas Artes Belas

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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

K

o passeio


O passeio era contínuo.
Já nem tinha a mesma vida,
o céu nem lhe parecia azul,
ou as flores pintalgadas 
os guaches que lhe haviam dado
havia tanto tempo.

Era um passeio contínuo,
já nem descalça podia andar,
eram as botas que lhe haviam calçado
a sua obrigação.
Uma quase tropa 
naquela que fora a sua casa.

Tanto tempo perdido,
tantas palavras por dizer.
E uma marcha contínua,
sempre...
mais do que um passeio veloz,
uma fuga!


(Em 77 palavras,
Desafio 147, o passeio).

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quinta-feira, 8 de março de 2018

K

pintura

Resultado de imagem para almoço sobre a relva - edouard manet
Desfolho o teu livro,
as páginas derramam-se
na razão directa
de um tempo
brumoso,
entre raios de chuva.
Há no teu livro desfolhado,
no teu colo 
de terça à tarde,
um zumbido,
numa alva toalha,
que lembra
outros piqueniques,
com migalhas sobre a relva,
pedaços de pão
que o tempo esboroou.

(fonte da imagem:
http://pintura.blogs.sapo.pt/almoco-na-relva-edouard-manet-3268)

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sexta-feira, 2 de junho de 2017

K

Lar

Tem a coragem de não alimentares o teu dragão, os teus demónios ou os lobos que em ti habitarem.
Sê o teu lugar de acoitamento, teme só a tua própria madrugada.
Se, a meio da noite, acordares dá-te à escuridão e ela te protegerá.
Acima de tudo, mantém mal alimentado o horror que em ti busca descanso!

(fonte da imagem: foto do autor obtida com telemóvel: lareira beirã)

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quinta-feira, 27 de agosto de 2015

K

Transversal complacência

É quando te olho,
nessa mudez altaneira,
nesse teu meio-sorriso
(assim mesmo,
hifenizado),
que a minha complacência,
de viés,
desliza por ti acima,
num quase-tango
(também hifenizado).

Podes semi-cerrar
(hifenizadamente)
os teus lábios,
podes virar a cara
(e o rabo de cavalo,
sem hífen),
que a minha complacência,
deslizará sempre 
por ti acima;
e mesmo que navegues 
o teu pedantismo,
pelas águas indiferentes,
a minha complacência
sempre te atirará
borda-fora
(nem o hífen
te livrará
do mergulho 
e do espalhafato).

Assim será.

(fonte da imagem:
http://dopepicz.com/69332842-movie-gone-with-the-wind-dresses.html)

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

K

Ferreira do Alentejo

O Inverno ia no solstício.
Samarra, botas,
despedida adiada.
Ficou aquele Sol frio,
quase acolhedor.
O silêncio,
sempre.
Rumores de brisas.
O canto dos juncos
embalados nos sapais.
Duas cotovias dispersas.
A lareira amena.
Um sino ao longe,
chama ao borralho.
O Inverno incitara a chuva.

Silêncio.

Alguém se senta num poial.
O Sol porfia aquela luzerna.
O cheiro das filhós
trá-los de volta.
Há um nascimento
que os invoca.

Silêncio.

Crianças em roda,
a mesa abastada,
a alegria toda,
um sussurro terno
sob aquele Sol de Inverno.
(a moriana, pela inspiração...)
(foto extraída da internet)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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