terça-feira, 13 de novembro de 2018

K
Disfarçava a sua total falta de competências sociais usando calças largas e ténis de sola grossa. Parecia alta, ostentava sempre um ar sério, não gélido, talvez distante.

Não era bonita, nem sequer gira. É provável que desejasse marcar presença pela pose; conseguia apenas mimetizar-se, fundir-se na atmosfera, ser apenas a moça das calças largas, dos ténis gigantescos. 

Uma só vez: a vi agradecer, a vi seguir alguém com os olhos, a senti morrer de amor. 
#77palavras #prettyfright #forgetmenot #howmany?

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domingo, 11 de novembro de 2018

K

terminus












Aqui tudo termina.
Um Apocalipse revelado,
por entre as nuvens
flutua a espada
e também o cinzel,
o burel.
Numa semi-tranquilidade
louca,
paira o silêncio
dos mísseis de
cruzeiro,
cruzeiros sem volta;
nos giros almofadados
há vidas que fixam
em espanto e
calado horror
as nuvens:
prenúncio altaneiro e
mudo de novos,
rasos, loucos,
fins.
The end
 (📸 : anoitecer em Marvila,
vista para o bairro de Alvalade)
#revelação #revelation #whatiscoming #futuro

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quinta-feira, 4 de outubro de 2018

K

o passeio


O passeio era contínuo.
Já nem tinha a mesma vida,
o céu nem lhe parecia azul,
ou as flores pintalgadas 
os guaches que lhe haviam dado
havia tanto tempo.

Era um passeio contínuo,
já nem descalça podia andar,
eram as botas que lhe haviam calçado
a sua obrigação.
Uma quase tropa 
naquela que fora a sua casa.

Tanto tempo perdido,
tantas palavras por dizer.
E uma marcha contínua,
sempre...
mais do que um passeio veloz,
uma fuga!


(Em 77 palavras,
Desafio 147, o passeio).

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quarta-feira, 8 de agosto de 2018

K

canto


Resultado de imagem para parede alentejana

                         Não há bosques,
não há relva
no meu pensar;
cristalizou-se-me o sonho,
pingou o tempo entre duas tílias
no regresso de uma barra azul
- fusão numa parede alentejana - .

Florestas ridentes,
os mastros entrecortados,
a proa furando paredes
e paredes 
de algas.

Então verei
que tudo já foi 
dito,
inventado, 
feito,
e nada sobrou para 
o meu canto 
tão gregoriano, tão vetusto,
tão medieval, tão clássico.

(fonte da imagem:
http://castelocernado.blogspot.com/2010/12/cal-na-tradicao-alentejana-e-comendense.html)

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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

K

mar-rio

É  aqui que o rio
encontra o mar e,
nem sequer a sereia  
sabe do bater dos seus corações.
Na passada corrente do mar,
entre frondosos sonhos, 
sorrio à luz
e a uma sereia
que não capitula
ante o esquecimento
de um saber ancião:
que dizem as águas 
entre si? 

(foto do autor,
obtida c om telemóvel:
 uma manhã em Milfontes) 

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segunda-feira, 21 de maio de 2018

K
Caminhas,
devoto sedutor,
atrás do táxi
que se prende
pela antena
e pela tecnologia.
Ganham aço
os teus sapatos,
nas reviravoltas das ruas;
não há silêncio
que te embale,
nem jugo
que te seja leve.
Agora,
2018 é o ano
do mais do que supersónico,
do mais do que arranha-céus.

Related image


Todo!!

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sexta-feira, 6 de abril de 2018

K

Torre

Resultado de imagem para torre chapinhar
Freixos,
caminhos
à beira água.
Uma torre ensimesmada,
um gavião,
peito aberto,
lançadas as asas,
rasias ao coração,
enquanto chapinham,

pela tarde fora,
num entardecer de espuma.

(https://i2.wp.com/cruzilhadas.pt/wp-content/uploads/2016/06/Lagoa-Comprida-1.jpg?resize=710%2C340


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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

K

escrevo

Resultado de imagem para office by the forest
E um dia este será o meu escritório 
(de scribo: escrever),
abrindo-se sobre a floresta, 
num sorriso ao vento,
à luz,
aos galhos partindo-se;
e então
não me poderei desculpar
com estas palavras
de que abuso.
O ar, a luz, os galhos
varrerão os meus textos,
e nem o gélido torpor
os atingirá.
Sobrará apenas
o meu
hipotético talento
somente.

(fonte da imagem: https://cdn.trendir.com/wp-content/uploads/old/trends/assets_c/2015/03/glass-book-nook-in-forest-thumb-970xauto-52352.jpg)

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terça-feira, 19 de setembro de 2017

K

Alegria fortissima em modo vivace


Era total a minha inabilidade:
acercava-me, numa saciedade imprecisa da memória;
dizia: acerco-me,
mas o sorriso caía,
como uma praça forte que tombava
às mãos impolutas 
de quem a merecia.

Incapaz,
o sorriso esmorecido,
tentava lançar os frecheiros,
os lanceiros, 
os caldeirões de azeite fervente, até.

A conquista consumava-se, no entanto.
Os aríetes, 
as escadas,
os besteiros,
iam matando a minha alegria,
o meu sorriso desvanecia-se
como a morte esbofeteava
os soldados nas ameias e muralhas.

Transmutou-se, então, o meu sorriso:
de praça forte forte
a sitiada
e conquistada;
o valor do saque era riso,
fruto do orgulho nos meus campos
a perder de vista.

Ah! Se a minha alegria fosse uma palavra apenas!
(fonte da imagem:
http://pichost.me/1761943/)


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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

K

Noite sem resposta



Noite de trovões,

de arruaça nos céus.

Uma casa destacando-se,

na sua pequenez,

no meio da cidade.

Por entre as árvores,

fui-me chegando,

as mãos tremendo no gesto;

gesto contido,

os dedos acariciando o vidro,

mais do que batendo.

Repeti,

a voz sussurrada

a acompanhar o chamamento;

respondia-me o fragor,

anulamento da minha chamada.

O quintal,

as árvores-penumbra,

continham a sombra

que me seguia,

quase réstia de mim.

A janela abriu-se,

nem terão sentido

os meus passos.

(fonte da imagem:

http://junkpit.net/2011/freehand-flinders-street-at-night-colour-and-black/)

(publicado no blogue 77 palavras de Margarida Fonseca Santos)

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domingo, 9 de agosto de 2015

K

Algumas faculdades


Foi-se aproximando o tempo das letras.
Letras,
mirando atalhos,
fixando-se num poente
em que a dor já nem se escreve.
As letras, serpenteando,
indagam o traço de união,
o hífen que as torne palavras,
[onomatopeias servem].
Letras,
que as marcas renovam,
travestindo-as
num ritmo cigano,
entre palmas, sapateado:
grave, agudo ou circunflexo,
cedilha,
“nada se perde…
tudo se varre
pelo tempo fora”.
Sim,
foi chegando a era das letras,
que se engolem,
se ignoram,
em sms efémeras.

("Rega a tua vida de saber, também.
Olha mais para o belo, sabe escassamente
o que os outros dizem. Deixa que a arte 
te afunde e te abençoe."
Fala de Demóstenes a Péricles,
ainda na Democracia) 

(imagem de Francisca Torres, 
blogue 77 palavras de 
Margarida Fonseca Santos)

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segunda-feira, 27 de abril de 2015

K

entardece

Um corpo marcado pelo vento,
as águas formam trilhos,
espreguiça-se o compasso,

a bússola treme.
O vento tresmalha algumas folhas,
só se ouve o restolho.
A colina beija, lentamente,
o riacho que se espalha
na brandura de um entardecer;
o sol fixa-se,
um gesto expectante ganha forma,
e o tempo pára,
numa apoplexia deslumbrante:
cerejas misturam-se no pó,
amoras mergulham sôfregas nos córregos,
a brisa morna tudo envolve numa prodigiosa
salada de frutas.
Entardece então.                         

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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

K

p/b





Neste rolo a preto e branco,
nesta roda,
neste claro-escuro,
vou passeando
os restos de mim
que foram sobrando 
pela estrada;
um riso aqui,
um suspiro além,
tudo é pertença do meu coração.
Ainda vejo a tua voz ao longe,
pressinto-te no sorriso 
que fizeste por perder 
entre as ervas daninhas:
a Lua, no entanto,
já nada quer connosco,
somos, pois, contrabandistas,
mercadores de sonhos
sem comprador...

(fonte da imagem: n/a)

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terça-feira, 1 de julho de 2014

K

O autocarro

Eu gosto dos ecrãs a 3D dos autocarros. As 
pessoas ganham mistério, nos seus caminhos, nas suas vidas. 
Às vezes, o autocarro apressa-se e vêem-se as pessoas ainda mais apressadas em direcção ao passado. Na paragem, tento adivinhar para onde vai, o que faz todo aquele povo.
Gosto de me sentar no autocarro, janela aberta para a minha cidade, lufada de gente a correr para um regresso de que nunca conseguirá fugir. 
(fonte da imagem:
https://www.flickr.com/photos/mtsullivan/4797947596/)
(Também publicado em 77 palavras)

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quarta-feira, 14 de maio de 2014

K

arbóreas

Amo as árvores:
com a sua sombra,
ladeiam a entrada
do meu jardim,
à sua sombra
voo pelas áleas 
onde se escondeu 
a loucura que me acomete.

As minhas árvores herdarão
os sonhos que nunca tive,
os desvarios
e as prevaricações,
os sentidos sem sentido.

Em frente ao meu jardim
moram as rosáceas
de velhas catedrais,
onde se oculta,
num estreito sacrário,
toda a pureza que me escapa.  
(fonte da imagem:
https://www.google.pt/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&cad=rja&uact=8&docid=1Ai0coMU-dAbvM&tbnid=GGDBZuyKvriKNM:&ved=0CAQQjB0&url=http%3A%2F%2Fwww.tripadvisor.co.uk%2FLocationPhotoDirectLink-g187371-d192291-i75071354-Cologne_Cathedral_Dom-Cologne_North_Rhine_Westphalia.html&ei=hJNzU8CvA8Wd7QbKvYCIDQ&bvm=bv.66699033,d.d2k&psig=AFQjCNEKvPbcGJAULmXN8XPcOaN8FF8IYw&ust=1400169707211538)


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quinta-feira, 6 de março de 2014

K

Pontas de dividir

No espaço de um ano,
vejo os morros a cair,
num acto de deslizar
quase inconsciente,
tal como eu
quando me solto,
no vórtice habitual,
que há anos me seduz
e me multiplica os eus.
ن 
(Fonte da imagem: n/a)

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sexta-feira, 8 de novembro de 2013

K

pinho

verde,
verde
verde 
que te quero verde;
um trilho,
marcado pelas rodas,
directo ao longe,
às asas das nuvens;
caminhas à rés
dos campos,
das flores,
dos pinhais,
o Sol brincando
entre os ramos,
os teus passos marcando
a espera;
há galhos que pisas
e guardam na memória
os tempos de Natal:
a fogueira, 
a Árvore,
os restos da mesa;


o verde,
o verde,
a flor do verde pinho...
(fonte da imagem:
http://maratonabttmangualde.blogspot.pt/2013/08/imagens-do-percurso.html)

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

K

manhã


Reinventei o som das águas
e, na sua duplicidade,
no seu escoar,
revi-me 
(a vida toda).
É uma luta desigual,
entre as tréguas 
dadas aos outros
e as guerras
contra mim...

O Sol 
empurra o seu brilho
para as águas,
quase transparentes;
há indícios de memórias,

certas,
no suspender
da respiração,
na visão baça

no abrir
dos olhos alagados...

(fonte da imagem:
http://www.mrwallpaper.com)

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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

K

águas

Caem farripas,
musgos,
satura-se o ar
nas fendas do tempo.
Humedeço os lábios
e agarro os líquenes
que me sustêm,
b
 a
  l
    a
     n
   ç
  a
n
d
 o.
Há falésias,
há cavernas
iluminadas,
entre os fetos,
os salgueiros,
os lírios.
Saturo eu e o ar,
a roupa ensopa-se,
esvoaçam memórias,
essas secas,
desejo imberbe
de carícia.
Renuncio ao objecto,
à farra desonesta
que me envolve,
e o retrocesso é caminho,
a vida flui,
já enxuta,
caminho a pé seco de virtudes...

("Lembra-te sempre da
tua juventude,
não a dês por perdida;
tu és todo inteiro,
desde os tempos da
inconsciência."
Fala de Aristóteles a
a Alexandre (o Grande)
antes da jornada)
(fonte da imagem:
http://www.unicamp.br/fea/ortega/eco/fotos.htm)

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terça-feira, 10 de julho de 2012

K

crime perfeito...

Tudo começou por ser estranho, como é já da praxe.
Parecia ter-se tratado de um crime. Suspeitos? Havia quem se risse à socapa: poderiam ser tantos que a contagem seria um exercício de futilidade.

            AG havia muito que aparentava ter-se retirado (era, apesar de tudo, ainda um suspeito).

            DB andava por essa Europa fora, aparecendo o suficiente para ainda ser lembrado.

            Quanto a SL tinha estado pouco tempo, era provável que nem tivesse muitas responsabilidades no assunto.

            Sobravam JS e PC: eram os mais recentes, eram aqueles cujos comportamentos poderiam denunciar algo. Sabia-se que JS estava fora, levando uma vida de alegre prodigalidade disfarçada de labor intelectual: suspeito! PC mencionara o assalto, trouxera-o para as conversas de café: suspeito? Havia até quem falasse em entidades estrangeiras: demasiado rebuscado?

            As pessoas estavam aturdidas, tristes, dobradas sobre as suas próprias carências. Tudo fora tão súbito: de repente tudo mudara, tudo se encaixara numa realidade nova e “teimosa” a que ninguém parecia querer adaptar-se. A escassez doía e, mesmo com promessas de dias melhores, mesmo com o encorajamento dos bons desempenhos, sobrava um gosto seco de ausência de infinito, do não-regresso dos dias felizes, em que ninguém se apercebia da felicidade, porque afinal era felicidade e ninguém a enxerga enquanto vive nela; é como a saúde, é como com as coisas que se tomam como adquiridas.

            Fui dar uma grande volta pelos portugueses: nos transportes públicos as pessoas aparentavam tristeza, como se a Selecção há muito não fosse feliz nos jogos efectuados, como se a inquietação escorresse pelas paredes depois de ter submergido toda a gente, como se o Sol teimasse em ser sombra e a Lua ausência.

            Viam-se agora mais pedintes que queriam comida e não dinheiro. Viam-se também muitos comentadores de TV a tentar explicar o inexplicável: nunca na televisão aparecera tanta gente a opinar, a zangar-se, a entristecer-se com a sua própria impotência.
           
No fundo, o facto de não se saber quem fora o perpetrador ainda deixava as pessoas mais baralhadas, isto não era um “crime perfeito”, não era algo se fizesse a quem tanto necessitava, “não se faz”, dizia-se, “não se podem assim roubar o Subsídio Férias e o Subsídio de Natal!”

(texto concorrente a um desafio de

(foto do autor obtida com telemóvel)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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