sábado, 13 de agosto de 2022

K

Mhi'alma








Sei que o tempo
É outro.
Que já não anoitece
Por detrás da tua colina,
Tens uma fraga, agora,
Contaram-me,
E também não queres
Fenómenos por lá.
Assim, muda o tempo,
O teu Sorriso
Os teus Olhos Bonitos,
Continuam iguais,

Iguais a tudo o que fora
E nunca deixara de ser,
Para reconforto
Da tua alma nívea,
Pura,
Despojo de dias felizes. 


(Foto do autor 
obtida com telemóvel:
Palacete em Lisboa,
Outono/19)

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quinta-feira, 4 de julho de 2019

K

Última edição


Naquele dia,
quando as páginas forem já 
pedra dura,
quando os meus olhos,
fechados,
não discernirem mais 
do que a névoa,
e todo o meu corpo já 
não for servo nem senhor...

Naquele dia,
sabeis que fazer:
com cuidado,
com frieza até,
retirai todos os meus livros 
e ofertai-os,
ofertai-os 
com simplicidade,
e com a minha ternura,
a todos os que com eles
se completem
e deles retirem,
ao menos 37,94%
do prazer
com que me bafejaram.

Partirei então, tranquilo,
amortalhado em folhas de jornal,
com as notícias frescas
desse dia,
dia de despedida
e de chegada.
(fontes da imagem: Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra)


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domingo, 2 de junho de 2019

K

Divinum lumen


No silêncio das carpetes, no ar almofadado, há uma surdina (una sotto voce), uma obsequiosa melodia vocal que se espalha pelos tapetes assim, lentamente, como o insidioso desastre em que gaivotas e corvos marinhos se enlearam numa dança cruel e finita.

(foto do autor
obtida com telemóvel) 

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quinta-feira, 1 de março de 2018

K

férreo ferrete

Já te peguei,
na minha cabeça,
entre quereres,
entre portas
envoltas em pó,
encontrei-te:
velho carimbo,
estampa, 
gravura;

timbraste-me,
levaste-me à
insanidade
da férrea lembrança,
(férreas águas 
da mal-saúde),
marcaste os meus dias
e ferraste-me;
Ferro de marcar gado

garanhão 
das terras inóspitas
não tem dono,
nem paga tributo;
apenas responde 
ao tribunal da insónia,
da corte marcial
da extinção.

(ou julgas, ferrete,
que um galopar louco,
entre insanos crepúsculos,
me leva a consentir o cabresto?)

(fonte da imagem:
http://ruralcentro.uol.com.br/noticias/marcacao-de-gado-o-ferrete-e-uma-marca-e-eu-nao-sabia-63492)

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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

K

pregação

À meia-noite de Natal,
entre gargalhadas,
rasgar de papéis e exclamações,
um sussurro:
Bem-aventurados 
os que se aconchegam e aconchegam
Bem-aventurados
os que riem e fazem sorrir
Bem-aventurados
os que descansam e deixam descansar
Bem-aventurados
os que abraçam e são abraçados

Bem-aventurados
sois vós que, 
     mesmo não tendo, dais,
     mesmo não podendo, dais,
     mesmo sem alegria, mesmo sem forças, dais

Bem-aventurados sois,
não sei se ganhastes o Reino dos Céus,
mas sei que ganhastes tesouros na terra. 

(foto do autor obtida com telemóvel:
S. Martinho do Porto 2010)

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domingo, 29 de março de 2009

K

Um triunfo

(imagem retirada da net)

Se morresse agora,
seria mais um pião

girando em pós

de sepultura.

Faria uma festa,

um alegre triunfo,

todavia solteiro,

naquele sonho dependurado.

Seria como se fosse

aquele último dia,

mais esquecido,

estonteante,

em malhas de pião,

de meninos antigos,

calções e chapéu,

esquecendo-me,

levando os despojos

de uma funérea "garden party".

(inspirado num poema de moriana)

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terça-feira, 30 de dezembro de 2008

K

parti - turas

As fronteiras esparsas,
os vincos estreitos.
A tristeza submersa
em olhos de carregados;
o embrulhar-se em si próprio,
os pulsos algemando os joelhos.
A mente estacada, distante,
cosida aos olhos cegos
num finíssimo adaggio.

(Lá vai o maluco, lá vai o demente...).



Um subtil despertar,
lento, suave
mas em progressão aritmética;
a mente desatando-se,
os joelhos libertando-se,
a tristeza transmutando-se
em sorriso largo.
Os pulsos berram de gozo!
A língua destrava-se em mil librettos!
O desejado allegro vivacce!!...
Os bolsos alegremente ocos...

(ou julgas que não existe ninguém que te veja...).

O amanhã fugiu serra acima;
este nanossegundo é,
e nada mais.
Há que trepar vida fora
para que a queda seja ainda mais fragorosa,
de borco para o nada,
para as lágrimas,
desejosas de lavar memórias.
Por que queres ser
"Requiem" e "Concerto em Ré Maior"?
Porquê a sumptuosidade,
porquê a soberba magnificente do génio?

Sofrer sempre,
ser ditoso
numa leve pausa
entre dós...


(em itálico, fragmentos de António Variações)
(imagem retirada da net)




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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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