Era total a minha inabilidade: acercava-me, numa saciedade imprecisa da memória; dizia: acerco-me, mas o sorriso caía, como uma praça forte que tombava às mãos impolutas de quem a merecia. Incapaz, o sorriso esmorecido, tentava lançar os frecheiros, os lanceiros, os caldeirões de azeite fervente, até. A conquista consumava-se, no entanto. Os aríetes, as escadas, os besteiros, iam matando a minha alegria, o meu sorriso desvanecia-se como a morte esbofeteava os soldados nas ameias e muralhas. Transmutou-se, então, o meu sorriso: de praça forte forte a sitiada e conquistada; o valor do saque era riso, fruto do orgulho nos meus campos a perder de vista. Ah! Se a minha alegria fosse uma palavra apenas! (fonte da imagem: http://pichost.me/1761943/)
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)