terça-feira, 18 de junho de 2019

K

a Lampedusa, homenagem de um plátano


A árvore,
verde alpinista
ensarilhou-se,
intrometeu-se,
enlaçou os arbustos,
na fuga canhestra
de ser madeira
de batel, falua,
caixão-caixote mediterrânico (…)

Tantas vezes em que Lampedusa
nem sequer se aproximou,
tantas vezes em que o sorriso do acolhimento
só trouxe campos
em que refugiar era de madeira,
até de árvore
ensarilhada,
intrometida (…)

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quarta-feira, 22 de agosto de 2018

K

Cruz de Pedra

Era a hora das vésperas
e o monge curvou-se,
os olhos no chão,
os ouvidos longe,
mas tão distantes
que a Palavra,
supostamente de Deus,
nem aflorou ao seu coração
Rezavam-se as vésperas;
os olhos rolaram pelo
chão de tábuas,
a testa a elas paralela,
a voz do oficiante:
Veníte, exsultémus Dómino;
iubilémus Deo salutári nostro.
Præoccupémus fáciem eius in confessióne
et in psalmis iubilémus ei.

Onde estariam as suas mãos,
supostamente postas?
Onde estaria a sua alma,
o seu fervor,
onde estaria ele?
Ele: frei Pedro da Sagrada Família?
Para onde teria fugido?
Que caminhos teria ele tomado?
Frei Pedro não o sabia.
Apenas estava longe de tudo,
de uma fé que gotejava
cada vez menos,
de uma regra que era cada vez menos sua,
de um geral que lhe era cada vez 
mais distante,
de irmãos que eram familiares
tão longínquos.
Afinal, só a Cruz,
só o Senhor era o seu Amigo,
o seu verdadeiro Irmão.

Agora,
só Jesus,
apenas.
O único GPS
dos seus caminhos errantes:
Frei S. Paulo de Todo o Mundo.

(foto nocturna obtida pelo autor:
jardins marvilenses)




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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

K

conversa de café

Image result for cascos de cavalos a galope
Esta é a vida de café,
sorriu Diógenes.
Aqui se destroem 
sistemas,
se constroem modelos,
se mata e gera a Humanidade.
São os rabos sentados
que trazem mais iluminação ao cérebro,
as ideias fixam-se como laca chinesa.
Aristarco respondeu:
é esta a vida de café,
o mundo passa 
e somos nós que o moldamos
fazendo bem
e bem fazendo.

Entretanto,
das colinas da Ática,
Alexandre e Aníbal
(tecidos no Tempo)
aproximavam-se,
o tropel dos cavalos
exalando cinza.

(fonte da imagem:
https://pt.dreamstime.com/fotografia-de-stock-royalty-free-cascos-de-galope-do-cavalo-image11249327)


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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

K

lume

Resultado de imagem para foto viral de incêndio em Portugal
Isto,
magoado silêncio
no crepitar funéreo,
a vida na louca tentativa,
doida serpenteando,
entre "flashes" trazendo a morte,
foi tudo o que sobrou.
Cinzas humanas,
urravando pelo perdão 
celeste,
pelo perdão
terreno.
O terreno vadio,
sem dono,
apagando-se num gesto suicida.
A morte tudo sobrevoava 
num esgar de vitória,
ave horrenda,
não deixando 
caminho,
trilho
ou vereda.
Ruína, por uma 
"alegada mão criminosa"...
(fonte da imagem:
www.tvi.iol.pt)

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quinta-feira, 31 de julho de 2014

K

Éden

Tinhas chegado.
O teu sorriso,
a tua pálida etiqueta,
o tom seco, distante, marcial
que parecias ter preparado no regresso
tinham surtido efeito: dei-te as minhas costas,
o meu silêncio embargado, mesmo assim, um silêncio,
cavo, pétreo como as vagas da Boca do Inferno,
em que nos revi, milhões de anos atrás num Paraíso
em que até os insectos nos traziam tranquilidade, o tempo ameno,
Deus vagueando pelas sombras… e agora, o desterro, o abocanhar a terra!!
 "Nunca deixes que o Sol se ponha sobre a tua ira.
Vai, exerce e busca o perdão e, então poderás deitar
a tua cabeça." 
Fala de Paulo de Tarso a Timóteo, discípulo e amigo
Também publicado no blogue 77 palavras de Margarida F. Santos
(Foto do autor,
obtida com telemóvel)

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quarta-feira, 5 de junho de 2013

K

na senda

Cristaliza-se o meu peito,
já perdi tantas palavras
neste vazio;
imobilizei a esperança
e suspirei:
na falésia medonha
urgia o encantamento
sobre as águas,
e,
só o seu vapor
me relembrava
os
píncaros abissais.

("Não fujas de ti próprio,
nem do tempo que te faltar,
haverá um resto de dia
que te será como um  bálsamo. "
Fala de Cícero a Septímio)

(Foto do autor obtida com telemóvel:
Guincho)

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sexta-feira, 19 de abril de 2013

K

partir...

Faz tempo, há que partir...
Saudades...
o cheiro a livro velho,
o chá quente
em vagas de conforto,
volutas agridoces...
Sentado na bancada
encosto a cara
à vidraça turva,
as gotas de água em modesto
deslizar;                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   o vento cantarolando,
as folhas dançam,
em doce sintonia
com as folhas de chá...
Ah! Mas a partida aguarda...

E o vento lá fora
na vã indecisão
dos sábios...
("Na tua partida não apresses a chegada,
saboreia a viagem e não detenhas a curiosidade:
em todos os teus caminhos
encontrarás sabedoria."
Fala de Plutarco a Hepatia,
sua discípula)
(fonte da imagem: www.lunapic.com 

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terça-feira, 24 de abril de 2012

K

solar


Duas horas.
Os campos abrem caminho
por entre o canto das cigarras.
O ar treme, vazio de pó,
e é esse deserto que o Sol assombra.
O grito encova-se
na inutilidade,
no fardo daquele dia.
Duas e meia.
O suor secaria nas têmporas,
se não houvesse deserto
e o canto das cigarras.
Três horas, quatro, cinco.
Quando os azuis se encontram,
o horizonte salpica-se de infinito,
e é nas gotas de suor
que não brotaram
que floresce este Alentejo,
para além do Tejo,
para além de mim!

(fonte da imagem:

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quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

K

queda XIV

Um trono,
duas coroas,
uma capital.
Guardaste o furor,
tornaste fiel a evasão,
a Europa esqueceu-te,
sobrou Castela.

Um trono,
duas coroas,
uma capital.
Teu confessor
abençoou-te a partida,
na praia, uniste razões,
numa certeza obsessiva,
galopante.

Um trono,
duas coroas,
uma capital.
Fugiu-te a corte,
guardou-te a derrota;
Lisboa, órfã,
um povo sonhando,
em degredo a querer-te 
onde nunca estarias.

Castela deu o passo,
no caminho que lhe deste;
Camões morreu contigo,
levando em si
a Pátria de Pessoa!

(fonte da imagem:
Paula Rego: "Alcácer-Quibir")

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terça-feira, 27 de abril de 2010

K

já nada (...)

(...) espero apenas
a dor de me esqueceres;
as tuas ausências,
os teus silêncios
despertam apenas
vagos vazios,
vestidos de cactos vetustos,
de pálidos postes,
de vagas mordendo
os restos da praia,
num vaivém surdo
de velhas vacilantes.

(inspirado num poema de moriana publicado
no seu blogue)
(foto do autor obtida com telemóvel)

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

K

sombra

Na porta,
a tramela
seca, descascada, parda,
enferrujada pelo pó de Outono.
Atento num vidro
toldado,
fosco,
(partido algures);
há nele um resto de poesia,
um resto de alguém.
Num prado castanho,
solta-se um corvo;
já não voa:
as asas
soltas
de breu, flores, suor.



Estalidos na sombra,
um sonho que voltou,
acre.
Há três pontas soltas
que levam as minhas lembranças,
tranquilas talvez.
Pela janela lascada,
o vidro já nem esconde
um palco pútrido
em ossadas esquecidas.

(publicado em 21 de Janeiro de 2009 15:33 e inspirado num poema de Ana Matias)
(imagem retirada da net)

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quinta-feira, 9 de abril de 2009

K

missiva... missão

Cara amiga:

Desfrutei da sua ausência.
As horas foram-se,
quase espiadas.
Fiquei quieto,
saboreando o sossegado silêncio,
sorrindo simples ao sol.
Entreabri a alma,
o coração,
partilhei vitórias,
passadas.
Amiga,
o seu partir
levou-me o vitupério,
o amargor,
a fétida bílis.
Amiga,
o chamar-lhe "amiga"
não será estranho,
paradoxo,
perfídia sarcástica?
Não:
partilhamos
o abrir das ondas,
o renascer das tílias,
o apontar da trajectória
duma qualquer lua,
da harmonia mundi.
Entre os abismos,
unimos o que nos afasta.
Isso basta.

Seu,
Jaime

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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