Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
quinta-feira, 28 de agosto de 2014
K
oferenda
Gosto de oferecer livros. "Oferecer" (oferta)
e não "dar" (uma doação).
Uma “oferta” que é quase uma “oferenda”: uma
quase oferta a Deus, mas também o que se oferece para uma boa obra.
E que melhor obra haverá do que oferecer a alguém
que prezamos um passaporte para uma viagem? Tantas vezes embarco sem destino
quando abro um livro pela primeira vez…
Há rotas incertas: há livros que não
proporcionam boas viagens, claro.
Gosto de oferecer livros…
(foto do autor
obtida com telemóvel:
Santa Apolónia, Lisboa, 2014) (publicado no blogue 77 palavras de Margarida Fonseca Santos)
Dois corpos, como duas folhas de árvore da ciência, do bem e do mal, fremitam em compassos binários, em pausas de suspiro. Celebra-se um Afecto, profundo, que cava mais longe, mais lá, do que um simples e periódico membro. Sob pulsos arcaicos, ritmos velhos de alvor, dois corpos sobem, num movimento sábio, arrastante, num monte, mais douto do que aquele de Vénus. Até a violência é bem-vinda, acarinhada. {Um nascente orgasmo espreita} Por detrás do dilúvio, jorram as oferendas a uma deusa pagã, reinando no templo, penetrado até ao sacrossanto altar.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)