quarta-feira, 7 de novembro de 2018

K

montra

Numa montra
empoeirada,
passado aos restos
mostrava-se tal qual fora,
quando em tempos
se vendera em restos
de sonhos piscos.
Os vidros,
ainda mirando os anos 20,
as prateleiras,
o chão flutuante
como a vida, 
todos se perfilavam,
na modorra
de algo que desliza:
tempo vitrificado
escorrendo... 

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sexta-feira, 17 de agosto de 2018

K

conversa de café

Image result for cascos de cavalos a galope
Esta é a vida de café,
sorriu Diógenes.
Aqui se destroem 
sistemas,
se constroem modelos,
se mata e gera a Humanidade.
São os rabos sentados
que trazem mais iluminação ao cérebro,
as ideias fixam-se como laca chinesa.
Aristarco respondeu:
é esta a vida de café,
o mundo passa 
e somos nós que o moldamos
fazendo bem
e bem fazendo.

Entretanto,
das colinas da Ática,
Alexandre e Aníbal
(tecidos no Tempo)
aproximavam-se,
o tropel dos cavalos
exalando cinza.

(fonte da imagem:
https://pt.dreamstime.com/fotografia-de-stock-royalty-free-cascos-de-galope-do-cavalo-image11249327)


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sexta-feira, 16 de março de 2018

K

vida

E é no coração do vento,
nessas tuas mãos,
que o corpo se esvai,
numa rendição precoce,
desabotoando o meu sorriso;
é, pois, um jugo, uma quase
vitória,
um quase caminho
de retaguarda,
e é da varanda
que passo os olhos 
pela estrada,
num semi agreste 
sorriso,
alfa e ómega
duma vida
que se quer mulher.

(foto do autor 
obtida com telemóvel)

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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

K

tu Antuérpia









Esqueci o p/b
do que sinto
na luz afável,
do entardecer
na minha
desconhecida
Antuérpia.
O brilho das
águas-régias
desfaz,
suavemente,
toda a paisagem,
mesmo sendo
Primavera.
Adormeço
a p/b e
não o lamento:
nada há
de mais belo
do que o cintilar
líquido, roçando
os sonhos suaves
nesta tua
Antuérpia natal.


(fonte da imagem:
https://praguecore.wordpress.com/2012/10/28/fall-break-part-2-canals-trains-and-more-fries-in-bruges-and-antwerp/)

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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

K

Paisagem com crise em fundo

Ao estender os olhos,
alonguei-me,
na esperança
do dia novo
que me prometiam
havia tanto tempo...
Mas era nas fissuras,
escorrendo-se,
espreitando,
que a garganta 
intumescia,
se exarcebava
no espectáculo do poder,
desculpando o desastre.
Fui sentindo um chão 
deslizante,
que me arrastava
(talvez para o menos infinito),
os meus pés resvalando
num caminho cego,
números pulsantes,
num vórtice insano...
Era a preto e branco
a paisagem que me envolvia,
um fumo enxaguante,
arrastando todos,
restos de comentários
políticos
esvoaçavam sem tino.
Era esse siso
que se perdera 
em artes de guerra
e confronto...
Foram sobrando as pessoas,
os cidadãos, os metecos,
essas a quem os tempos
não haviam perdoado,
e que os carregavam,
como fardos inevitáveis,
assim o poder lhes havia
[afiançado...]

"Ignora os tempos de fartura,
sê prudente no que possuíres,
partilha com o teu vizinho
para que não te falte,
e não confies no Senado, no Imperador."
(Fala de Nemestrino, patrício ilustre
 a Penélope, sua filha)

(fonte da imagem:



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quarta-feira, 8 de maio de 2013

K

serpes

Escorro-me,
fluido,
serpenteando
pelas vizinhanças
que, esguias
e sinuosas
te entretêm 
nas cálidas manhãs.
Ao meio-dia,
entre montículos,
salinas petrificantes
de memórias
cristalizadas,
esgueiraste 
os teus olhos
que rolaram,
rolaram
até mim.
Na epifania
do teu sorriso,
plantei orquídeas,
que reguei
com a minha pele.
Entre sorrisos inócuos,
percorro os teu braços,
canoas de mim.
Agora,
nos meandros
suaves,
do teu colo,
fluindo 
pelos teus lábios,
entrevejo
a busca já saciada,
o recheio consumido,
num ápice
de estertores pagãos...
Treasure Lake, credit- alexey trofimoy
(fonte da imagem:
artisticglobe.com)

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domingo, 24 de julho de 2011

K

Hess

Quando Hess tomou a sua vida,
os mares sussurraram aos ventos,
as praias lembraram a Normandia,
e o tempo soluçou,
preso às memórias.

Quando Hess tomou a sua vida,
houve vagas de medos pálidos,
como se a loucura voltasse nua
e as marcas do silêncio
se rebelassem loucas.

Quando Hess tomou a sua vida,
ouvi gritos, lágrimas disfarçadas
pelas botas palmilhadas em rotas
esquecidas pelo juízo,
pela fria, dura História.
Quando Hess tomou a sua vida,
o esquecimento roçou a demência
e as almas aflitas aquietaram-se
na paz que se elevou,
curso doido das nuvens.

(fonte da imagem:

("Agora é a tua época,
a Urbe ainda te espera,
faz o teu trabalho por um tempo,
depois retira-te na tua frugalidade."
(Fala de Dioniso ao ditador
Quintus Cincinatus)

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segunda-feira, 23 de maio de 2011

K

memória

Foge-me o tempo,
fogem-me as palavras,
o relógio adianta-me os livros:
fincam-se como alas petrificadas;
há um pó de tempo futuro,
mescla de desejo ou ânsia,
numa indagação resignada,
enforcando-se nos ponteiros,
caminhos de estreito infinito,
enquanto as capas,
as contracapas,
as lombadas,
me calcam numa cilada
arcaica,
em tropéis de excertos...  
(fontes das imagens:
e

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

K
Ontem














Lembro-me de quando o sol era bom,
apenas porque sim,
e não pelo aquecimento global.
Lembro-me de quando os miúdos brincavam ao ar livre,
apenas porque gostavam,
e não por viverem num campo de refugiados.
Lembro-me de quando os miúdos gritavam,
apenas porque lhes apetecia,
e não por desafio violento aos adultos.
Lembro-me de quando tratava a lojista por "menina",
apenas pela simplicidade,
e não por uma vaga razão oculta.


Mas que voltas dá a Terra,
para que, a cada instante,
tudo seja "feito de novas qualidades?"


(fonte da imagem:
http://omeusofaamarelo.blogspot.com)

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segunda-feira, 18 de outubro de 2010

K

queda X

Que fizeste do tempo que te hão consentido?
Que bafos respiraste,
que passos deste
para que teus sonhos se não completassem?
Praticaste o crime dos sem-memória,
daqueles que velam nas esquinas
transidos, apertados pelo ontem, pelo amanhã;
exumam  o hoje,
entre gargalhadas dispersas, cavas,
e cruzam os olhos nas distâncias,
nas paredes onde medras,
líquene,
musgo,
graffiti imaculado,
espelho curvo sobre ti mesmo...
(fonte da imagem:
http://ledali.com/page/1/salvador-dali,
Salvador Dali: "Persistência da memória)

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quarta-feira, 28 de abril de 2010

K

antemanhã

(...)
os teus caminhos

descruzam-se;
já não regresso,
deixo a peanha vazia,
o altar escurecido,
as cinzas frias,
(de)votos já gastos;
nunca os deuses se emudeceram,
nem os acólitos sonharam
nas álgidas coxias do concílio;
(...)
um sorriso vago
de um fervor quási dormente,
guinava-se, cálido,
pelas fragas da antemanhã...









(editado em 14 de Abril de 2010, às 09:38

no site de marés, onde me inspirei)
(fonte da imagem:
http://insalatamiste.blogspot.com,
pintura de Claude Monet)

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domingo, 9 de agosto de 2009

K

Cá-las

Sinto em mim os compassos,
as notas em singular escalada;
sim, sobem
sobem sempre
em ritual augusto,
solene na majéstica figura.
Em seu redor,
as sombras recuam respeitosas,
reverentes;
alaga em luz e mistério
a boca de cena,
o auditório transido.
Timbra,
percute
o rosto,
o gesto vadio,
as mãos surdas,
o Mar Jónio,
a Grécia
sempre...


Norma, Medeia, Tosca, Lucia
abraçam-na
em oferta maternal,
risonha,
quando explode
"...chanter dix fois la même ópera... ça n'est-ce pas de l'art!!..."

(imagem retirada da net)

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domingo, 14 de junho de 2009

K

antes que seja tarde...















Antes que seja tarde

quero passear descalço,

olhar os pássaros esmaltados,

as árvores em brios de ouro.

Antes que seja tarde

quero olhar a Lua

tirar a esquadria às estrelas,

sentar-me no pico da noite.

Antes que seja tarde

quero molhar as mãos

nas praias da Normandia,

vibrar nos ecos da Liberdade.

Antes que seja tarde

quero sentar-me, qual criança,

no fosso de uma orquestra

e planar ao jeito de Mozart.

Antes que seja tarde

quero entrar no átomo

e brincar com os electrões

como em aulas que não dei.

Antes que seja tarde

quero olhar o fio de longe,

as águas marejadas,

os dias que me são tardios...
(imagem retirada da net, pormenor de "A persistência da memória" de Salvador Dali")

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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