domingo, 22 de julho de 2018

K

justeza


Um dia, 
a noite irá despojar-se,
lenta,
em luxúria plena,
em vasos comunicantes
de coisa alguma.

Um dia,
haverá tempo
para que a Lua
aqueça a noite,
a vigia será curta
e o anoitecer abençoará
os desfalcados da vida.

Uma noite,
o troar das luzes
trará os relâmpagos
que amanhecem o vento
que a tua aurora gera,
em giros de sol
e pós de estrelas.

("Acautela os teus caminhos, 
até os teus trilhos, mas não deixes
de olhar para os céus: as estrelas 
ainda irão suspirar pela tua alma."
Fala de Alfeu para o seu mestre)

(imagem: foto do autor,
obtida com telemóvel-Marvila
num fim de ano)

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sexta-feira, 16 de março de 2018

K

vida

E é no coração do vento,
nessas tuas mãos,
que o corpo se esvai,
numa rendição precoce,
desabotoando o meu sorriso;
é, pois, um jugo, uma quase
vitória,
um quase caminho
de retaguarda,
e é da varanda
que passo os olhos 
pela estrada,
num semi agreste 
sorriso,
alfa e ómega
duma vida
que se quer mulher.

(foto do autor 
obtida com telemóvel)

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quinta-feira, 1 de março de 2018

K

férreo ferrete

Já te peguei,
na minha cabeça,
entre quereres,
entre portas
envoltas em pó,
encontrei-te:
velho carimbo,
estampa, 
gravura;

timbraste-me,
levaste-me à
insanidade
da férrea lembrança,
(férreas águas 
da mal-saúde),
marcaste os meus dias
e ferraste-me;
Ferro de marcar gado

garanhão 
das terras inóspitas
não tem dono,
nem paga tributo;
apenas responde 
ao tribunal da insónia,
da corte marcial
da extinção.

(ou julgas, ferrete,
que um galopar louco,
entre insanos crepúsculos,
me leva a consentir o cabresto?)

(fonte da imagem:
http://ruralcentro.uol.com.br/noticias/marcacao-de-gado-o-ferrete-e-uma-marca-e-eu-nao-sabia-63492)

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sábado, 19 de novembro de 2016

K

chegará o dia


Chegará o dia
do embarque,
da vela solta,
do movimento
escalando
a espuma.
Então, à popa,
o vento 
sorrir-me-á
enchendo
a minha cara
de sardas;
e então aí 
serei
eu,
peregrino
sem retorno 
nem remorso.

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terça-feira, 18 de outubro de 2016

K

já não

Hoje entrei aqui e soube 
que já não é o dourado 
ou o estalar das folhas,
já não é a luz,
ou o anoitecer quase enxovalhado,
já nem sequer é o martelar fininho
da chuva
que me encantam.


É o apontar ao fim.
Ao fim do ano
com as luzes/cores/brilhos
da Celebração.
(foto do autor
obtida com telemóvel)



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quinta-feira, 29 de setembro de 2016

K

fim


Chego ao fim.

Os meus mastros gemem
na proporção 
do enfunar das velas.
A quilha escorregadia,
habitação de infinitas cracas,
e afins,
anseia pelas mãos dos homens.

Conheci tantas águas,
adormeci sob tantas estrelas 
e todo o meu caminho 
foi apenas o regresso 
ao porto de partida.

Sei que os mares

são muito mais do que 7,
e que os oceanos 
muito mais do que 5,
pois tantas vezes 
as vagas eram mais altas
do que a gávea,
paredes escuras, 
pétreas, rijas,
águas-vivas infinitas.

Terei visto tudo.
Já sirvo há muito:
gerações de marinheiros
aprenderam comigo
o ofício;
lutei o bom combate,
guardei a fé,
nada mais espero.

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quinta-feira, 9 de junho de 2016

K

p/b

Foi a preto e branco que te guardei.
Não mais te vi,
na memória 
nem o negativo restou.
Para sempre apaguei 
as luzes da revelação,
fechei o estúdio.
Hoje sei que fiz o melhor,
que arquivar-te 
foi acinzentar-te
a ausência.
Imagem seca, a sépia.

(fonte da imagem:
https://denverfotografie.wordpress.com/category/landscape/page/3/)

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quarta-feira, 25 de maio de 2016

K

troc-catroc

Longa é a noite.
Há uma estrada
que calça os teus sapatos,
há um torpor
que leva o som dos teus sapatos
ecoando nas estevas.
Ouvem-se insectos
que frutam o espaço 
onde ondula o teu tempo.
Não há escuridão,
não há medo;
apenas o ecoar dos teu sapatos
troc-catroc
catroc-troc.
Há quanto tempo caminhas?
Há quanto tempo buscas o fim,
o lar
(será?)
Tens de dar a mão 
à brisa,
quem sabe ela não te toma nos braços?
Quem sabe ela não calceta
os teus sapatos com a ternura
do final dos atalhos,
da chegada
e do regresso?
Tu, caminhante suave,
devotada aos trilhos
que os teus sapatos esboçam,
troc-catroc
catroc-troc,
sê feliz e magnífica
nas pistas que traçares
nessa liberdade que te pertence!


(foto do autor obtida com telemóvel
a partir de uma gravura)

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sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

K

Cidade


Não esqueço
as nossas tardes em Nova Iorque,
cidade a que nunca fui, aliás.
Sentados num banco de jardim

em Central Park,

um lago igual aos de Lisboa,

gozávamos as palavras

que se entrelaçavam

num esgar quase cosmopolita.

O tráfego respirava
em centelhas, em remorsos, talvez;
o respirar das pessoas
criava a cidade.
Não nos importávamos:
era num banco de jardim
em Central Park
que nos sentávamos,
nas nossas tardes em Nova Iorque,
cidade a que nunca fui, aliás.


(publicado no blogue
de Margarida Fonseca Santos)

(fonte da imagem: n/a)

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quinta-feira, 9 de abril de 2015

K

2 textos com 1 refrão


Texto número um














O caminho abre-se agora.
Sonhaste este dia,
até os olhos te doerem.
Chegou agora.
Vai!
Agarra o vento!
Agarra o céu!

Sê a dona dos teus passos:
é esse o teu destino!



Texto número dois

Agora és livre!
Agora os teus pulsos
desataram-se
na certeza da manhã clara,
do verbo cintilante.
Vai!
Agarra o vento!
Agarra o céu!
Sê a dona dos teus passos:
é esse o teu destino!

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quinta-feira, 13 de novembro de 2014

K

Folha


Chegou o Outono,
o bosque adormece,
a vida já escorrega,

lenta,

pela modorra

dos castanho-avermelhados.
Na terra, outrora viva,
o sono enlaça
o pão que há-de chegar;
os pássaros que restam,
acompanham,
numa melodia silenciosa
esta paz,
suspensa para sua fruição,
seu deleite,
seu tranquilo alento.



E, sempre que o Sol se põe,
sempre que a terra o abraça,

os ramos, já despidos,

sorriem meigos,

àquela modorra 
a que o bosque
chama adormecer
e nós, simplesmente,
Outono.

("Nas tuas viagens
detém-te e desfruta.
A Natureza convida-te,
sê polido." 
Fala de Xenofonte
a Anacreonte, seu general)

(Foto do autor,
obtida com telemóvel
a partir de uma gravura)

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segunda-feira, 11 de junho de 2012

K

serena sereia

Não vale a pena ergueres a tua madrugada
no teu canto mesclado de azul e verde;
fala antes para a tua sombra,
seja a melancolia a tua obra
mestra
que sustenta toda a tua vida,
como se fosse o teu Graal.
Há quanto tempo és sol e lua,
advento das auroras
dos dias felizes?

Ergue agora as tuas mãos em cálice,
vibra no fogo da tua mocidade,
cria uma amálgama
de dor e júbilo,
e canta,
canta sempre
aos marinheiros
e a todos os Ulisses
que navegam pelas águas
brancas de temor.


(fonte das imagens:
http://teives.com/books/five-run-away-together
http://mar-e-marolas.blogspot.pt/2011_02_01_archive.html)

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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

K

mornas














No tépido calor do meu abraço,
sinto a vaga brisa
de uma Primavera que tarda...

(fonte da imagem:
http://nalitagalaz.blogspot.com/)

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terça-feira, 23 de março de 2010

K

olhares

Pelos olhos de alguém,
há vestígios de pelejas,
que surgem sonantes,
pelo meu férreo silêncio...
Minhas mãos vazias,
trazem as brisas áureas, 
quentes, que, dantes,
arrastaram o meu povo...
Hoje, o mar não chama:
há caminhos distantes,
ausentando-se pelas orlas
de sonhos vítreos, esquivos...
(fonte da imagem

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quinta-feira, 27 de agosto de 2009

K

entrega

naquele Verão, a areia espraiada pelo vento
sucumbiu aos trejeitos baloiçantes das águas

(imagem retirada da net)

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terça-feira, 4 de agosto de 2009

K

cana(l)










Sondei um velho canavial;
nada me disse,
a não ser o lento marulhar das águas,
o jambé morno do vento (...)

(imagem retirada da net)

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segunda-feira, 20 de julho de 2009

K

sonho de mente

Já a brisa se despenhou.
Cristais esguios,
línguas e madeixas
de troncos ensimesmados,
arcas de tesouros vazias sem pedras,
nem nada.
Velhos búzios
encaracolam sopros de marés
que nunca houve
nem na mais mítica das quimeras.
As marés do mare nostrum
trazem relíquias
em forma de ânfora,
mas elípticas,
parabólicas,
talvez velhas equações
já esquecidas.
O volume do cone
quase dá os litros da mistura,
assim detida.
Um quarto de rajada
leva os restos de brisa,
melenas navegando.
Com tão pouco,
miríades de coisa nenhuma
afastam-se de rojo,
entre dois esgares
duma hárpia esvoaçante.


(imagem retirada da net)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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