domingo, 28 de junho de 2009

K

margens


o corpo está,

Alinhar ao centroa alma voa,

sem rumo,

sem destino, chegada

ou regresso.

O curso dos rios

traz a imagem rude,

disforme,

do corpo em anelos

sinuosos.

Brilha o horizonte tranquilo,

voa, em desvios sonoros,

a alma incerta,

quase discreta.

O corpo queda-se

no rol longo

de uma saída intramuros.


(inspirado no excerto do poema de Wislawa Szymborska "Gente na Ponte", publicado em moriana)

(imagem retirada da net)

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quinta-feira, 25 de junho de 2009

K

procissão







Calcorreavam os caminhos;
vinham dos moinhos altos,
detrás dos velhos choupos,
das urzes, de arbustos,
das acelgas miúdas.
Havia um pranto no ar,
duas exclamações
potentes entre si.
Pó nos caminhos,
estradas vivas, entre jardins.
Ao longe, o foguetório,
as bandas, a música.
Mas eles corriam atrás
doutros marcos, de vida nova.
Não a viam, não a tinham;
e os seus passos longos,
ignaros de festas, de folias,
retinham trajectos
sem bússola, sem rumo;
sem esperança, também.
(imagem retirada da net, pormenor do quadro de Dalí "A carcaça de um burro")

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domingo, 21 de junho de 2009

K

21/6









Hoje é Verão.

Chegou de manhãzinha,

pedindo licença,

algo rarefeito.

Trazia um sorriso,

uma mão cheia de oiro,

a outra de vagar.

Pintalgou-nos

de cores esquecidas

em trovão de alma.

(imagem retirada da net)

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sexta-feira, 19 de junho de 2009

K

sombra

Na porta,
a tramela
seca, descascada, parda,
enferrujada pelo pó de Outono.
Atento num vidro
toldado,
fosco,
(partido algures);
há nele um resto de poesia,
um resto de alguém.
Num prado castanho,
solta-se um corvo;
já não voa:
as asas
soltas
de breu, flores, suor.



Estalidos na sombra,
um sonho que voltou,
acre.
Há três pontas soltas
que levam as minhas lembranças,
tranquilas talvez.
Pela janela lascada,
o vidro já nem esconde
um palco pútrido
em ossadas esquecidas.

(publicado em 21 de Janeiro de 2009 15:33 e inspirado num poema de Ana Matias)
(imagem retirada da net)

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K

back to nothing


He did not speak,
he sat there
smoking
standing aside
almost forgotten
behind the smoke rings.
I was in front of him
(he pierced me with his look).
I did not sigh.
I waited
as the rain came.
He said nothing
though.
I found my ashes,
my unexpected dreams.
We both left,
no word,
no glare,
no nothing...
The skies produced a raven
while pouring
water drops
out of nowhere...


(inspirado no execerto dum poema de Jacques Prevert in moriana)

(imagem retirada de celticjeweler.com)

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quarta-feira, 17 de junho de 2009

K







Eu queria sentar-me no poente,
entre dois raios de Sol
intersectando-se
num arco em ogiva perfeita.
Queria saber do fim do arco-íris,
gelá-lo num anel tão polido
que reflectisse o tempo dourado
e me levasse entre dois segundos
infinitos,
como o clarão do luar.
Quando poderei ir,
os pés encharcados de eterna poeira luzente
em intermezzos de elegante claridade?



(imagem retirada da net)

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domingo, 14 de junho de 2009

K

antes que seja tarde...















Antes que seja tarde

quero passear descalço,

olhar os pássaros esmaltados,

as árvores em brios de ouro.

Antes que seja tarde

quero olhar a Lua

tirar a esquadria às estrelas,

sentar-me no pico da noite.

Antes que seja tarde

quero molhar as mãos

nas praias da Normandia,

vibrar nos ecos da Liberdade.

Antes que seja tarde

quero sentar-me, qual criança,

no fosso de uma orquestra

e planar ao jeito de Mozart.

Antes que seja tarde

quero entrar no átomo

e brincar com os electrões

como em aulas que não dei.

Antes que seja tarde

quero olhar o fio de longe,

as águas marejadas,

os dias que me são tardios...
(imagem retirada da net, pormenor de "A persistência da memória" de Salvador Dali")

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sexta-feira, 12 de junho de 2009

K

Exercícios



Afasto a rede já afastada,

entretenho o ângulo já entretido,


caminho em esquivo caminhar.


Sinto o os restos dos sentires


e lentamente fixo a lentidão;


ocasionalmente miro o ocaso


e giro em fluente girassol.


Restos de fluidas marés restam


em longilíneas espumas longas.





E o ar de escrita em exercício


escorre pela mesa ofegante.


(imagem retirada da net)

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quinta-feira, 11 de junho de 2009

K

... preguiçando...

(...) a preguiça trepa dolente

entre dois raios de sol;

espraia-se por nós

como a brisa de verão;

é um torpor:

aquece o mar;

estende-nos nas certezas;

faz nossas as férias, sorrindo;

entra-nos porta dentro

sem avisar;

muda tudo

e sorri,

sorriso inocente

sem visto de chegada



(...)

a preguiça é um jogo de sombras;

uma nuvem clara,

um sorriso sem causa;

e não se explica,

porque não!



(inspirado em moriana)

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K

voos


Ave movediça,

em voo audível,

sobe, sobe

pelo infinito dos desejos.

Entre arbustos

de sombra e memória,

fixa a ausência

vira os segredos

e regressa ao voo

(para o passado imperfeito).

Abrem-se as asas e volteia

nas recordações

quase imberbes,

tremeluzentes.

Ouve o presente,

regressa,

e as brisas sopram

entre as folhagens...

memórias de voos

em ecos de longe...


(inspirado num poema de Tiago Patrício em moriana)

(imagem retirada da net)


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terça-feira, 9 de junho de 2009

K

(...) secreto...

(...) quero pousar,
em fio de arco,

rasar a terra,

baixar em clemente campo de flores.

Há um lugar imenso,

secreto,

tal jardim de Allah.

Recolho-me na sua entrada insuspeita.

Entre frondosas incógnitas,

entre arbustos alvos,

passo sorrindo;

estou só, pois.

Há um poente entre os roseirais,

enfronho-me em mim,

qual bicho em demanda de si.

Esquecidas as ruelas

abrem-me os braços;

fico na entreaberta posse de mim.

Passo por mim próprio,

miro o Sol rendilhado,

parca nesga do seu lumiar.

Em adolescentes bocejos

perco-me na preguiça do silêncio.

Nada se ouve,

nem cascatas de tritões,

nem chilreios doces;

apenas eu,

abraçando este meu jardim secreto,

este eu que se volatiliza em meigos mimos...

(imagem retirada da net)

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K

um príncipe













Vem conduzir as naus,

as caravelas,

Outra vez, pela noite,

na ardentia,

Avivada das quilhas.

Dir-se-ia

Irmos arando em um montão de estrelas.
(Camilo Pessanha in Clépsidra)



Nos caminhos em que suavam as velas,
em azuis desertos, quási sólidos,
vinham e iam volteios de cigarras,
em bamboleantes cercos de miragem.
Anil fundido, estrelas sempre,
azul alternando-se
ante rostos cavados pela maresia.
Ao fundo,
entre dois pontos,
um sonho,
dum Príncipe
com um só anelo:
arar as águas,
cultivar a liberdade!

(poema publicado no blogue http://www.gps-poetasdomundo.blogspot.com/ em que participo)

(imagem retirada da net)

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sexta-feira, 5 de junho de 2009

K

a vigília


A fronte pétrea perscrutava
um horizonte calvo,
desolado.
Manteve o silêncio,
entre pétalas de mar,
fogos de poeiras
entre troantes estampidos.
Soltavam-se baforadas
cíclicas, in tempo maggiore.
Jogavam-se arcos de bandeiras,
corriam crianças à solta,
em passada quase lunar
em fugazes sustenidos.
Inclinou-se,
a busca,
já quase uma intercessão.
O cieiro tomava conta
das rugas gastas,
em cada ponto.


Sobranceiras ao quadro,
duas semi colunatas de Bernini
fechavam o círculo,
em faustosa glória.


(imagem retirada da net)



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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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