sábado, 15 de agosto de 2009

K

pesadelo

Estreei-me nos umbrais do medo,
nas portadas frias,
escorrendo pavor;
apenas os meus passos
nas sombras delirantes
de um vento marcial.
Misturei a areia do tempo
em dois ou três baques
de solidão;
retive a contagem
de caminhos vindouros.
Já nem a taça
derramada sobre as Nações
me encantou ou deslumbrou,
assim como os passos dos féretros,
ou as trilhas escusas.
Meus olhos escaparam-se
em edípicas fugas,
rasteirados pela ânsia do vazio.
Agora,
arrisco um passo
na esperança
de que ainda reste
algum Boja(dor)...
(imagem retirada da net: pormenor de "The nightmare" de Henry Fuseli)


Etiquetas:

quinta-feira, 11 de junho de 2009

K

voos


Ave movediça,

em voo audível,

sobe, sobe

pelo infinito dos desejos.

Entre arbustos

de sombra e memória,

fixa a ausência

vira os segredos

e regressa ao voo

(para o passado imperfeito).

Abrem-se as asas e volteia

nas recordações

quase imberbes,

tremeluzentes.

Ouve o presente,

regressa,

e as brisas sopram

entre as folhagens...

memórias de voos

em ecos de longe...


(inspirado num poema de Tiago Patrício em moriana)

(imagem retirada da net)


Etiquetas:

segunda-feira, 25 de maio de 2009

K

...o lápis

Onde estará o meu lápis?
Aquele que me pensava,
me traçava as linhas.
Fora o tempo dos receios,
dos trilhos sem caminho.
As emoções bailavam,
entre o tudo e o nada.
Nada mais.
Ausência.
caminhei entre as tubas,
violinos, violetas, trompetes,
uma orquestra absorta
em si menor.
Onde estaria o meu lápis?
Aquele que delineara com Braque,
satirizara com Eça,
e me deixara esperançoso
de uma arte que me transluz.
Agora estou mirando o tecto,
o infinito pra lá da janela.
O lápis da minha esperança…

(imagem retirada da net)


Etiquetas: , ,

terça-feira, 19 de maio de 2009

K

Na passagem do uivo,

senti a brisa,

descarnada,

quase em fumo,

ou pó,

ou ambos.

Caminhei ainda,

dois cravos em justa liberdade;

papoilas,

memórias livres

(ainda).

Segui os passos da Via Crucis:

amarrações, cordames,

cercas vivas;

ao longe uma Caveira.

Caminhei,

a volta à passagem do uivo.

Tudo se sacudiu sobre mim:

somos livres, liberdade,

suor em sangue;

as flores esquecidas,

as palavras decaindo.

Encharcado em memória,

espreitei o amanhã,

arrepiado...

(imagem retirada da net)

Etiquetas: , ,

quinta-feira, 9 de abril de 2009

K

missiva... missão

Cara amiga:

Desfrutei da sua ausência.
As horas foram-se,
quase espiadas.
Fiquei quieto,
saboreando o sossegado silêncio,
sorrindo simples ao sol.
Entreabri a alma,
o coração,
partilhei vitórias,
passadas.
Amiga,
o seu partir
levou-me o vitupério,
o amargor,
a fétida bílis.
Amiga,
o chamar-lhe "amiga"
não será estranho,
paradoxo,
perfídia sarcástica?
Não:
partilhamos
o abrir das ondas,
o renascer das tílias,
o apontar da trajectória
duma qualquer lua,
da harmonia mundi.
Entre os abismos,
unimos o que nos afasta.
Isso basta.

Seu,
Jaime

Etiquetas: ,

terça-feira, 28 de outubro de 2008

K

O fundo


... queria fluir-me pra lá do Outono,
das nuvens,
das pedras que me levassem
para longe dos caminhos rectos;
sentiria pois os pulsos livres,
dos cravos,
a fronte, quem sabe, já solta.

Esquiva a mente,
tocou no solo morto;
ainda não houvera
regatos secos e bravos,
que me levassem
para além do Novembro.

Fiz jus ao tempo,
sentei-me na pedra mais baixa do meandro.
Estacado,
estava ali,
atado às minhas rochas de vazio.
Cruzei a perna,
gesto de pose, snobe,
teatral.
Algo que ali estivesse vivo,
nem por mim daria.
Sorri (des)cansado:
ao longe, ao fundo da mina,
serpenteava o som esperado;
o meu peso, a minha canga,
encontraria agora o seu par.

(Fotografia de J.N.)






Etiquetas:

"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

eXTReMe Tracker
online