quarta-feira, 8 de junho de 2022

K

Cai





A Lua cai,

parte-se,

rodopiam estilhaços,

nos brilhos loucos,

volteiam olhos

de antigos marinheiros

que na Lua viam o Caminho.


Hoje, as rochas restantes

já nada dizem 

e os olhos, dementes, 

só conduzem 

a escolhos 

que, por sorte, 

levam ao cavalgar 

das ondas, 

das próprias ondas

que estilhaçaram 

a Lua;


fechou-se o círculo. A Lua cai,

parte-se,

rodopiam estilhaços,

nos brilhos loucos,

volteiam olhos

de antigos marinheiros

que na Lua viam o Caminho.


Hoje, as rochas restantes

já nada dizem 

e os olhos, dementes, 

só conduzem 

a escolhos 

que, por sorte, 

levam ao cavalgar 

das ondas, 

das próprias ondas

que estilhaçaram 

a Lua;


fechou-se o círculo. 

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sábado, 31 de janeiro de 2015

K

contendo


O lixo.
Sempre lhe parecera um destino miserável.
Sem precisar de se lembrar que é reciclável,
agora.
Toda a vida fora alguém que não se sabia usar.
Melhor, fora alguém que nunca se soube dar uso.
Acima de tudo, fora um inútil para si próprio,
assim mesmo.
Agora que se via, que se avaliava, suspendera-se,
um suspiro frio, como frio era o seu olhar.
Análise bruta, essa. Desapontamento a escorrer.
Saltou para o caixote,
caiu fora dele.

(fonte da 
imagem: n/a)

(publicado
no blogue de Margarida
Fonseca Santos
77 palavras)

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quinta-feira, 31 de julho de 2014

K

Éden

Tinhas chegado.
O teu sorriso,
a tua pálida etiqueta,
o tom seco, distante, marcial
que parecias ter preparado no regresso
tinham surtido efeito: dei-te as minhas costas,
o meu silêncio embargado, mesmo assim, um silêncio,
cavo, pétreo como as vagas da Boca do Inferno,
em que nos revi, milhões de anos atrás num Paraíso
em que até os insectos nos traziam tranquilidade, o tempo ameno,
Deus vagueando pelas sombras… e agora, o desterro, o abocanhar a terra!!
 "Nunca deixes que o Sol se ponha sobre a tua ira.
Vai, exerce e busca o perdão e, então poderás deitar
a tua cabeça." 
Fala de Paulo de Tarso a Timóteo, discípulo e amigo
Também publicado no blogue 77 palavras de Margarida F. Santos
(Foto do autor,
obtida com telemóvel)

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terça-feira, 13 de março de 2012

K

queda XXII

Quantos eus sou eu?
Olho-me,
olhos escorrendo,
deslizando,
o meu umbigo 
fixado no hoje.
Não busco muito,
o que sou serei eu;
o ontem mastigou
o meu olhar,
os meus olhos debruçaram-se
e o esquecimento voltou;
talvez,
de tanto focar-me,
se desfizesse o íngreme
gesto,
o riso demente, insano,
jogado alto
no delírio do tempo!
Ah! 
Mãos vazias,
berço luzente da madrugada,
ergam-se, fechem-se,
segurem bem alto o cabresto,
impeçam 
a fuga desalvorada,
o tomar do freio nos dentes!


(fonte da imagem:

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quarta-feira, 2 de novembro de 2011

K

resvalo

Quero tropeçar num sonho,
em vigia maruja,
saltar o poleiro,
filar a liberdade,
qual falcão insano,
bêbado de vertigem;
e voltar ao início,
no desejo do regresso
ao tropeço e ao voo...

(foto do autor,
obtida com telemóvel:
S. Pedro de Moel, 2010)

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domingo, 21 de agosto de 2011

K

poema fechado

(...)
era um tropel poeirento, cigano
que marcava as curvas solenes
os rastos mais vincados, arcos
de vis medalhas ostensivas na
sua altivez de quem está rindo
do futuro, na ânsia de triunfos
e insígnias de vitória. Oh, céus
de trôpegas, até inesquecíveis
batalhas, em que os recontros
eram trilhados pelos passos e
pelos gritos. Hoje, não há um
só trecho, um só restolhar das
nuvens que testemunharam do
céu-aço que tudo cobria. Essa
era a verdade que corrompia o
sonho dos virtuosos. Porém, o
engano já não campeava, nem
era já lembrado, a paz recobria
tudo e os aldeões caminhavam
cantando, fazendo o pão justo
(...)
(fonte da imagem:
http://aviemet.divitu.com/,
Salvador Dalí: "Céu hiperxiológico")

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sexta-feira, 28 de maio de 2010

K

mãos...

agora as minhas mãos 
acariciam o nevoeiro,
afagam as pedras do caminho;
em trejeitos de alegria,
festejam o cálido Verão,
o teu sorriso triste,
ainda assim sorriso...
(fonte da imagem:
http://travel.paintedstork.com)

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sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

K

fugas


Voltei-me na esquiva do vento:
talvez fosse o fragor,
o galgar das trevas.
Assim,
duas,
talvez três
palavras:
(sós)
caminho-poente-
[-fuga...]

(imagem retirada da net: "Fuga", V. Kandinsky)

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

K

lá vai mote!

Hai-Kai

Nós temos cinco sentidos:
São dois pares e meio d’asas.

- Como quereis o equilíbrio?
(David Mourão-Ferreira in Antologia Poética)




São dois pares e meio d’asas
que nos levam ao real,
fazendo tábua rasa
de um loquaz temporal.

Os sentidos leva-os o vento,
no seu hábil destino;
volta o fugaz sentimento
num alegre desatino.

O equilíbrio não se quer,
os sentidos não o deixam,
não há atino nem volver,
nem aqueles que se queixam.

Voltou o fado,
o destino magoado,
o olhar petrificado,
o poente gelado.

(Não. Recuso o teu rir mortiço, as tuas chagas sem alinho, o teu ontem fixado. Matei um calendário, já… os sentidos, os sentimentos, tudo se esfumou num desequilíbrio mordaz. As mãos já se separaram há muito, os pulsos já nada partilham. Estou apontado para muito longe, lá… onde o céu engole os pinhais…)

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segunda-feira, 6 de julho de 2009

K

miradas


Nada. Sólo el cuchillo de Muraña.
Sólo en la tarde gris la historia trunca.
No sé por qué en las tardes me acompaña
El asesino que no he visto nunca.
(Jorge Luís Borges in Antología poética, 1923-1977)

O braço armado
da chacina,
segue-me
marcando os meus caminhos,
esquivos,
sombrios,
toldando-me os sentidos.
A tarde cinzenta
leva as marcas de água,
até pingarem de nostalgia,
de saudades.
Há passos que resvalam
na esguia lousa.
E nem a sesta de Muraña
rompe um braço armado
que nunca vi
e que fende a história
que me afasta.
(imagem retirada da net)

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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

K

...tocata e fuga

...arte na fuga,


no partir em doce delírio;


não há pontes,


só caminhos doridos.


Entrei destino adentro, o tempo comigo,


a falésia acinzentando-se,


sussurrando o ar,


pontiagudo na fronte.


Caminho,


já não o há.


Invento, fantasio,


sobreponho-me, já nem vagueio.


Só o tempo insiste,


só o tempo me arde.


Um mar claro de escura lua,


persiste num farol,


tremente como o calor que me leva.



(inspirado em Paulo Renato Cardoso Libertação (excertos) in Órbitas Primitivas publicada por moriana)
(fotografia de J.N.)

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quarta-feira, 2 de julho de 2008

K

em fuga


Não,

não criei o mundo.

Nem o corro,

demente.

Sorriram-me,

estenderam-me a mão,

rogaram-me que o possuísse.

Ri,

ri sem gosto.

O mundo tem-nos,

isso sim;

entre sóis e luas,

numa clara noite,

esquecida de memórias,

banhada de afagos esquecidos,

as pegadas rarefeitas,

submersas.

Morna a loucura,

o espanto,

entregam-me o mundo,

fujo dele,
fujo dele,
(...e fico!)


(inspirado por Menina Marota)
(Fotografia de J.N.)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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