terça-feira, 5 de abril de 2011

K
 A lenda do escultor

Assim termina a lenda
Daquele escultor:
Nem pedra nem planta
Nem jardim nem flor
Foram seu modelo.*

E na sua partida,
no rasto que deixou,
semearam rosas;
estavam certos
de que as suas imagens
alvejariam os céus,
no esplendor da ira;
e, no seu orgulho,
iriam zurzir o kitsch
- talvez a lenda
que o escultor 
tivera na fronte
e esquecera -

Assim termina a lenda,
e as rosas semeadas
trouxeram a paz,
e o povo benzeu-se,
murmurando um "Deo Gratias",
na calma preguiça
do cair da tarde.

(*Sophia de Mello Breyner Andresen,
poema Final in "O Cristo cigano")
(fonte da imagem:
www.descubraportugal.com.pt/,
claustro do mosteiro da Batalha)

Etiquetas: ,

segunda-feira, 6 de julho de 2009

K

miradas


Nada. Sólo el cuchillo de Muraña.
Sólo en la tarde gris la historia trunca.
No sé por qué en las tardes me acompaña
El asesino que no he visto nunca.
(Jorge Luís Borges in Antología poética, 1923-1977)

O braço armado
da chacina,
segue-me
marcando os meus caminhos,
esquivos,
sombrios,
toldando-me os sentidos.
A tarde cinzenta
leva as marcas de água,
até pingarem de nostalgia,
de saudades.
Há passos que resvalam
na esguia lousa.
E nem a sesta de Muraña
rompe um braço armado
que nunca vi
e que fende a história
que me afasta.
(imagem retirada da net)

Etiquetas: ,

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

K

teclas

Sonho na ponta do teclado,

na ponta dos dedos,

na ponta da unha.

Não há estrelas,

não há algodão,

não há aparato.

Sonho com cores que não há,

pessoas que nunca o foram,

fazendo o que nunca fiz.

Uma alma assim vive,

e um sopro tangente

não a sulca,

vibra-a!



(a partir dum poema de Paula Raposo)

Etiquetas:

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

K

...entre os dedos


Levitam os ares,

sopram os encantos;

entre os dedos

erguem-se pedras,

rochas antigas,

em que os tempos falavam,

roçavam a memória.

Hoje, teus dedos sussurram suspiros,

trejeitos d'ontem;

as mãos recolherão

a imagem da terra.

Entre suspiros me deito;

há caminhos na terra,

sulcos de desejo,

a memória eleva-se,

o corpo amorna-se,

enrola-se,

abraça-se no vazio das imagens,

das falésias dos sonhos...


(inspirado num poema de moriana)

Etiquetas: ,

"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

eXTReMe Tracker
online