Mantenho os braços cruzados,fechados sob a cabeça, mergulhados nos olhos desviantes, na cegueira de desmentidos {acerca}... cercando o juízo, a dor do real, espremida, gotejando silêncios...
[.... lá vai o maluco...] [... eco, eco, eco...] [... de escuridão feito!] [.... lá vai o demente...].
(...)
Talvez volte a casa, e poisados os arreios da fantasia, calcorreie sonâmbulo, novos caminhos de Sol e Lua!
(fonte da imagem: www.abcgallery.com, van Gogh, "Semeador com sol poente")
Eras fraqueza. Tua pele macia levava-te ao sangue num olhar. Eras hipótese. Sem certezas, uma melancolia derramava-se do teu ventre. Eras cobarde. A valentia fugira-te havia muito.
El-Rey quis-te, era a guerra. Fugir? Vestiram-te, armaram-te: um cinto de guerra, braços e pernas escondendo tua frouxidão. Um escudo p'ra covardia. Um capacete ornando fantasias ausentes. E a espada! Cintilância na morte, abrigo da vida.
(...)
Transfiguraram-te! Da fraqueza, genica. Da hipótese, tese. Da cobardia, possança. El-Rey te quis, tu te tiveste, guerreiro sombrio, no rubro da contenda, a morte escorrendo pelo mundo abaixo. Os olhos em El-Rey, pés avançando por seu novo jugo.
(...)
Vontade d'El-Rey, acatam os homens, o Império engradece, a humanidade prostra-se!
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)