quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

K

CONCENTRAÇÃO

Não, não conheço Treblinka,
Auschwitz.
Não divisei Eichmann entre secretárias risonhas, cínicas.
Mengele, Goering
nunca me foram apresentados.
Memórias rodadas,
transparências dolorosas.
O trabalho,
amigo do pão;
a pá, amiga da vertigem,
já não tombavam em verticais gozos lacrimais.
Não vi aqueles
que hoje,
veriam Treblinka, Auschwitz
em cada canto da sua liberdade incógnita.
Queridos alentos,
aplaudem
Eichmann, Mengele, Goering.
Suspiros, sussurros,
vagas de torcida inquietude;
caem três tordos,
três abutres gargalham,
nessa queda elíptica,
raiz quadrada da derrota estatística,
função singular de um "rouge"
assim petiscado,
numa fossa alva,
viva de memórias farpadas,
armas sem cravos,
gargalhadas reversíveis.

(imagem obiterada)

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K

The art of stealing

Steal heaven,

stars maybe.

Never steal a heart,

or a tiny cloud,

for they'll

hunt your soul

forever.

Steal me when I'm standing still,

steal a violet,

or a bike.

Beware of your hands,

for they steal

nothing worthy;

a wearable cricket

is to find

in one's pocket.

Try a grain,

a bit of sand,

all kinds of air blowing.

Maybe they'll listen

to your diving into a tricky foam

somewhere in Venus...

(inspirado num poema de Jim Jarmusch em moriana2)

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

K

teclas

Sonho na ponta do teclado,

na ponta dos dedos,

na ponta da unha.

Não há estrelas,

não há algodão,

não há aparato.

Sonho com cores que não há,

pessoas que nunca o foram,

fazendo o que nunca fiz.

Uma alma assim vive,

e um sopro tangente

não a sulca,

vibra-a!



(a partir dum poema de Paula Raposo)

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K

beijo


O beijo esvoaçou.

Ela pintalgava-o de esperanças,

mas o beijo,

aquele beijo-pássaro

amava mais os seus lábios,

por entre macias flores de segredo...
(a partir de um poema de Paula Raposo)
(imagem retirada da net)

domingo, 18 de janeiro de 2009

K

algoritmos de vida...

Esqueci o sonho,
ele esqueceu-me:
deambulei, olhos lívidos
de espanto,
pela maré fria da saudade.
Fui só,
medi meus passos,
visei madrugadas,
que só caminhos de longe
me trariam.
Vi sóis nascendo,
em horizontes casuais;
ocasos perdidos,
entre rochas dispersas.
O sono sem sonhos
afastava-me da aragem,
do corpo.
Misteriosa Lua
que, gentil,
me depositou
na Estrada de Santiago...

(imagem retirada da net)

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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

K

melífluos desvarios

o mel...

o mel foi sendo esquivado:

galgou ombros,

risonho, abraçou o pescoço,


subiu boca acima,


sorveu-se pela língua


(casta...),


aliou-se às lágrimas


(secas de tantos rostos enegrecidos).



(...)



A palavra,



encrespava-se num rio,




sem margem,




sem destino.




Um só nome brisava, amável,




numa candura




filha dum poente,




brilhando-lhe as costas,




ombros,




uma boca silente,




empalada em virginal anseio.



(inspirado num poema de moriana)

(imagem retirada da net)



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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

K

transcrição (...)


"Sou a gaivota

que derrota

todo o mar tempo no mar alto

eu sou o homem que transporta

a maré povo em sobressalto"

(José Carlos Ary dos Santos in As letras das canções)


Trepei ao poente,
trouxe o meu povo.
Êxodo letárgico,
a busca do sorriso.
Lentas,
gaivotas deslizantes,
em rotas de golfinho.
Inquieto, aquele povo-gente,
mirava um susto de mar irado.
Lobriguei caminhos,
atalhos de fuga.
Alguém quis ciciar uma oração;
o tempo fora longo, dorido,
assim a prece.
Longe, a fúria dos donos das vidas.
Agora, podíamos estacar ali pra sempre.
Mas a revolta fora nossa,
partiríamos menos amarrados,
mais nós!
Assim seria,
entre vagas,
entre medos,
entre tanto!!
(foto extraída da net)

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

K

(des)contenção

Amotinei-me!
Aticei-me a raiva,
a ira, a fúria,
subiram e desceram meu estômago,
rilharam-me todas as entranhas;
nada sobrou dos seus raides.
Enfunei o o restante orgulho;
não se içava.
Acicatara-me forças demais.
Esfarrapei-me em frente,
num caminho que não era meu.
Cães do Hades
foram-me açulados.
A dignidade restante
levou-me ao destino:
o covil dos sabujos
ladrões de almas.
Por que lá fora?
Tinha uma entrega.
(imagem retirada da net)

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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

K

(...) vi-te há 2 mil anos em Anticetera


O tempo não te conhece,

enfuna-se no nada,

e, no vazio, segue uma pluma

de dourados futuros.

Queria que me visse,

e que te apagasse de ti

e que me arrebatasse também.

Para onde?

Afagados no seu bafo presente,

talvez espíritos dalgum Natal,

talvez coisa nenhuma.

Será o oco cântico

que nos velará,

do passado até nunca?



(a partir dum poema de blindness)
(imagem retirada da net)

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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

K

La solitude? Ça n'existe pas!!

Quem não amei, os filhos que não gerei,
as bicas tomadas obstinadamente a sós,
o rosnar uma resposta a quem me interpelava,
o desencorajar de qualquer relação.
Minha garganta seca de nada dizer; saberia eu ainda falar o que pensava?
Não importava. Nada, mesmo.
O esconço quarto alugado em que passava as férias, mirando um Tejo trazendo e levando partidas e chegadas que eu nunca faria. Era um rio curioso, quase metálico, que me ofuscava e atraía. Saía então, só com um fito: aquele plúmbeo glaciar de afectos, meu igual, meu irmão.
Para mim, Lisboa era o mês de Novembro:
frio, preparando o chuvoso Inverno;
o gozo que me dava ouvi-los a vilipendiar o mau tempo.
Eu gostava daqueles dias: cada vez mais curtos em que cada vez mais cedo as ruas se iam esvaziando. E eu cada vez mais só, envolto na gabardina, águia avançando
pelas bátegas duma água doce
que me abençoava a garganta.
Ah! Doce solidão
que sempre me acolhias em teus braços pétreos!
O teu silêncio eram a magia,
o prazer,
que me aguardavam no fim de cada dia.



(...)


Abri cuidadosamente a caixa de sapatos;
espreitei docemente tudo o que havia feito:
tudo, tudo mesmo
caberia numa caixinha de sapatinhos de bebé.


(inspirado num texto de moriana)
(imagem retirada da net)

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sábado, 3 de janeiro de 2009

K

(...)

O corpo foi deixando esvair-se,
um calor só enregelado
pelas luz das estrelas.
A claridade trouxe a paz,
o sossego;
o corpo deslizou para fora,
sabe-se lá porquê...
Rangeu a chave,
esperou-se outro corpo,
menos apressado, talvez.
A contra-luz,
a bailarina sentou-se grácil.
As estrelas aqueceram.
Nalguma lentidão dum "Quebra-Nozes"
escorregou, respirou pausas,
o seu corpo trouxe o calor
do teatro,
do parceiro,
das palmas,
tantas, tantas,
que saltaria dali,
em pontas,
numa fuga soberba de cisne...
Agora,
o sorriso,
a macieza daquele ar,
morno, violeta,
esqueceu a bailarina,
a mulher,
olvidou-se de tudo, de todo.
E do céu imaginado,
choveram estrelas cadentes...



(a partir dum pensamento de moriana)


(imagem retirada da net)

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K

... feixe...


...enquanto, contritos,

contemplamos o solo de nossas vidas,

tridimensionalmente ocas,

a luz do perdão penetra-nos,

humilde,

lenta,

suave,

tranquilamente,

quase em ar de desculpa;

lá fora,

os campos são fecundados

pelo amor da enxada,

pela força do camponês,

pela Graça do Senhor.



(inspirado num poema de Graça Pires)


(imagem retirada da net)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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