Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
sábado, 30 de janeiro de 2010
K
p o v o
Somos um povo ____improvisado sem estrela nem rumo,(1)
somos um povo ________arfando cego, apagado já o instinto
somos um povo _______num dez de Junho insano, indistinto
somos um povo _______viciado num azul ultramarino, extinto
"Esta é a ditosa pátria minha amada", olhos no poente descobrindo(-se), a Leste o forçoso apelo. Esqueces de quem és, o teu senhor, e só na batalha/estádio empunhas a tua bandeira
Vês tu? É o vento que se acerca, o sobressalto. Traz consigo, nos bolsos do poema, dois, talvez três, risos escusos. Não vês o pardo areal brilhando louco na gesta mais do que esquecida, desprezada? Não vês o vento, o espanto, a dor ressaltada? Não vês os olhos baços, presos nas esquinas das águas? Não vês? Por favor! Não vês? (...) Não. A tua voz ressalta, quase canta, mas teus olhos fecham-se à matiz dourada do tempo de agora...
Vagueei na imperfeita orla de rios entrecortados, correndo pelas vastas memórias de outroras esculpidos. Subi ao poço de encantos, na beira do restolho do tempo: nacos de luz espalhavam suspiros de olhos ocres em poentes quase sagrados; onde estariam meus dedos aninhados nos sons de pensamentos altivos? O regresso não tinha prazo nem demora: rodeei os ponteiros, tornei-me paz, espanto, até doçura; nas águas suspensas, soberbas, mergulhei o cansaço, o esvoaçar dos pensamentos (...)
Se a luz se fechasse na policromia do excesso; se o silêncio errasse pelo alvorecer do começo; se a noite se agigantasse nos pauis em que enlouqueço, então minhas mãos vagueariam no nascer de um pássaro a sul, regurgitado pelo encantamento de meus lábios [{segmentados}] (inspirado num poema de marés
(...) uma perda menor, um riso furtivo; esculpo o tempo, o grito rente à vida; uma ave grita, num sonho gélido; voltei, pois, às amarras, no verbo que me segue qual flecha ansiosa, qual trecho de Dante... (...)
(inspirado num poema
de marés)
Olhos não seguem estrelas brilhantes, é manhã num comboio cadente a trilhar o gelo exterior, Baltazar a encolher-se no saco, a pensar em Valentina que há dias foi ver o mar. Pássaro verde a galopar, a galopar, e a música a adormecer o tempo. Baltazar de pele desmaiada a levar a canção de embalar à Menina, a saber o caminho da casa que não é cabana, a saber dos pais, Sara que não é Maria e Rui que não é José, e a saber do berço branco que não é manjedoura nem tem palhas, a saber do berço a aguardar a Menina que se irá chamar Francisca. Baltazar a viajar para sul ao encontro do natal. (extracto de um poema de moriana publicado no seu blogue)
Balança o berço, na espera de amanhã. Embalados os sonhos, a espuma triunfante, a fronte em jeito de sorriso tardio (quem sabe?). Baltazar revolve laços nos nós de Valentina; Francisca descobre o caminho lasso, de regresso, deixando o berço, alvo, na solidão das tardes (aturdidas)
Abriguei a frota nos céus marejados e nas nuvens inquietas; e houve marés, e ventanias; e houve bonanças e meigas vozes; e houve um tempo e momices de cavername, e uma boca sublime, nas palavras rangentes, ruidosas, pálidas, no doce coalhar, leitoso, das águas, fluidas, cerrando-se!
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)