segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

K
Frágil
Sorrio ao vento,
e é na fragilidade das palavras,
que me envolvo no silêncio.
Nas hastes do sonho,
penduro o meu olhar
[semicerrado]
no aconchego de um poente,
algures num mar luminoso.
Sabe-me a sal a minha face,
e,
nas correrias na praia
{mastros encimados por liras,
aqui e ali}
há um não-sei-quê de poético,
que leva e traz essas palavras
(frágeis)
na terna, fugaz memória
de um homem sentado à beira-mar. 

(fonte da imagem:
http://www.flickr.com/photos/pedrosz/)

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sábado, 26 de fevereiro de 2011

K

exército

É um exército contraditório este,
que busca a vitória na paz,
o combate na espera,
os vis despojos,
o sangue, até,
na quietude da sedução,
na tortura anunciada,
no caminho
que resvala
pelo declive profundo,
madrugada fora...










(fonte da imagem:
http://www.outdoors.webshots.com/)

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

K
Vendaval
Portimão, 20/12/89


Caro amigo:
De frente para um mar escuro com sombras, luzes fugazes de faróis ou barcos que partem ou voltam, escrevo-te sem saber bem porquê. Há como que uma necessidade de comunicar, de deixar registado; as conversas, por vezes, têm o dom de serem esquecidas, sobretudo aquilo que mais interessava que fosse lembrado.
Por tudo isto, resolvi mandar-te umas "imagens" que me ficam desta estada de fim-de-semana no Algarve. Tem sido um tempo de paragem (não necessariamente de reflexão) e de alguma tristeza. Sim, uma tristeza que, aparentemente, não tem razão de ser. Não se me têm aflorado recordações que, pelo menos, permitissem o tão estafado "balanço de fim de ano". Será a sensação de não ter feito nada, de não haver escrito algo que realmente me agradasse, que, enfim, eu tivesse encontrado o meu "caminho" na escrita?
Já deves de ter notado que me tenho quedado pelas "frases feitas", pelo "dejà vu"... afinal, parece que por muito que me "esprema"  não consigo escrever nada que me agrade, daí o refúgio nos lugares-comuns. Tudo se me afigura como isso mesmo: um gigantesco, um imenso lugar-comum. Mas, acredito, que não é pela fuga, pelo esconjuro daquilo que é visto e sentido pela multidão que eu me posso encontrar. Trata-se de enfrentar, de "procurar o que está por de detrás" de tudo isso que algo acabará por aparecer, algo acabarei por criar. Trata-se sobretudo de escrever muito, muito, de comparar com aquilo que já fiz, em suma, de aperfeiçoar-me, de pôr nos meus olhos a perfeição e nada mais do que ela...
Perguntar-me-ás: e foste tão longe apenas para isso? Não, "isto" aconteceu, foi uma consequência da tristeza que já trazia de Lisboa. Não temos saído muito, mas o estar com alguns amigos tem sido uma dádiva, não um refúgio.
Como já deve de haver uma comunhão de sentimentos: o de não apetecer (a ti ler mais, a mim escrever mais), daqui te envio um grande abraço.
J.
(fonte da imagem:
http://www.bretagne.com/fr/)

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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

K

o Magnífico



Brandistes o ferro,
das vossas mãos saiu a morte,
o esplendor;
caçastes os inimigos,
o ouro dos reis;
a pobreza fugiu-vos à frente
no pânico das ignorâncias.

Agora, os vossos vizires
ostentam o poder que é vosso:
a vossa Sabedoria povoa as ruas de Samarcanda,
a vossa Justiça abate-se sobre os povos sedentos;
num esplendor oriental,
o vosso palácio acumula prazeres vedados,
aromas ocultos;

e eu, habitante de Veneza,
sinto a boca seca, pastosa,
desse pó de ouro que desliza,
dormente,
por toda a vossa glória,
ó Dador de Leis,
Generalíssimo Senhor!

ثليمانقونقورم  Sua Majestade Imperial O Sultão Suleimão I,



















Soberano da Casa Imperial de Osmã,


Sultão dos Sultões


Kã dos Kãs,


Comandante dos Fiéis e Sucessor do Profeta do Senhor do Universo,


Protector das Cidades Santas de Meca, Medina e Jerusalém,


Imperador das Três Cidades de Constantinopla, Adrianópolis e Bursa, e das Cidades de Damasco e Cairo, de todo o Azerbaijão, de Magris, de Barkha, de Kairuan, de lepo, do Iraque Arábico e de Ajim, de Basra, de El Hasa, de Dilen, de Raka, de Mossul, de Pártia, de Diyarbakır, da Cilícia, das Províncias de Erzurum, de Sivas e Adana, de Karaman, Van, da Barbárie, da Abissínia, da Tunísia, de Tripoli, de Damasco, de Chipre, de Rodes, de Candia, da Província de Morea, do Mar de Marmara, do Mar Negro e também das suas costas, da Anatólia, da Rumélia, Bagdade, Curdistão, Grécia, Turquistão, Tartária, Circassia, das duas regiões de Kabarda, da Georgia, do planalto de Kypshak, de todo o país dos Tártaros, de Kefa e de todos os países vizinhos, da Bósnia e suas dependências, da Cidade e do Forte de Belgrado, da Província da Sérvia, com todos os castelos, fortes e cidades, de toda a Albânia, de todo o Iflak e Bogdania, bem como todas as dependências e fronteiras, e muitos outros países e cidades.

(imagem:
http://educaterra.terra.com.br/)

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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

K
Retrato
Uma batida em surdina,
um caco voando,
uma nuvem esquecida,
um riso vadio.
Suspiros em uníssono,
um resvalar entrecortado
de beijos em jura;
submersos são os raios de sol,
em catadupas de prata;
salve-se o meu juízo
servido numa bandeja,
entre duas perdizes
degoladas.

(fonte da imagem:

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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

K
Sombras
só quando amadureceres,
me dirás onde repousarão os teus ramos,
as tuas folhas,
para que me estenda sob a tua sombra,
esse lugar inesquecível,
berço de palavras,
de imagens,
de borboletas vadias...

(fonte da imagem:
http://cecilialevy.blogspot.com/)

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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

K
Estudo em ocre

Junto as minhas mãos,
vértice do meu viver:
o nascente e
o ocaso
em girassóis plenos de luz;
sorrio ao vento,
caminhante doirado do meu pensar,
dos rios que se não aplacam;
vejo os relâmpagos que brotam
na obliquidade de uma dança já passada;
o frémito,
a ansiedade talvez,
escorre pelos meus pulsos,
e as minhas palmas,
já devolutas,
erguem-se enlaçadas
no ténue triunfo da revolta...
(fonte da imagem:
Siqueiros: "Nuestra imagen actual")

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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

K

anoitece

Anoitece.
Ouvem-se, longínquos, 
os restos 
que as gentes deixam para trás.
A cidade estende-se 
para lá de si própria,
caminhando, lenta,
em procissão de fogachos.
Depois da refrega do dia,
há um torpor quase religioso,
uma batida em surdina,
que leva a cidade embora.
Embrulham-se nas sobras da luz
os que habitam nas volutas,
ziguezagueando firmes na certeza.

Há uma luz baça, avermelhada,
omnipresente,
refulgindo hirta,
por sobre o frugal saque do dia.

(fonte da imagem:
http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com/)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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