sábado, 3 de fevereiro de 2024

K

Fim de tarde



A tristeza passeia-se

pelo fim de tarde.

Domingo, sempre

[entalado]

entre suas fráguas,

as margens do medo,

apertam

estas mãos sempre vazias,

logros duma esperança,

mártir, 

sacrificada no frágil altar 

duma certa bonomia.

O sol foi embora,

a lua tarda,

a mágoa instila-se,

paredes de mim,

sabes?

O tempo gastou-se,

rio medíocre,

banhando as mágoas do medo,

no vazio de uma semi-esfera,

desabitada de gente,

os seus moradores

sentimentos apodrecidos,

e,

enquanto a tristeza se passeia,

ladeiam-na

as distrofias,

tristes,

cíclicas,

de braço dado

com as fráguas 

que acima citei

e que amarinham

pelas paredes,

aranhas de Inverno…








[Publicado previamente na

minha página de Instagram

(www.instagram.com)]


(Fotos do A.)

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quinta-feira, 17 de abril de 2014

K

allegro?

Hoje,
as palavras sabem a cardos,
deslizam pela garganta
(pausa poética)
e é no silêncio que se aninham;
os trovões não se imiscuem pelas árvores,
o restolho ergue-se,
e os cardos voltam a triunfar; 
as palavras
(pausa poética)
são como sementes de trigo,
- pão antecipado -
e o silêncio embrutece os longos dias,
salpicados de janelas entreabertas,
de contraluz e de pó cobrindo os sentidos.
É uma santa quietude,
um elo que os cardos
unem:
sofrimento,
tristeza,
mudez.
(pausa poética)

("Evita os homens que não sabem rir,
os que querem assombrar-te 
com as suas palavras cinzentas.
Há divertimento nos números, nos ângulos
é belo o teorema que leva o meu nome..."
Fala de Pitágoras a Andrócles seu discípulo, 
após a descoberta)
Fonte da imagem: foto do autor
obtida com telemóvel 

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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

K

final

Ao longe,
entre os cedros,
figuras recurvas
comentavam, graves, 
o fim da poesia.
E o Sol desiçava-se, lento,
de um céu provocante,
malicioso,
o coro das cigarras cingia
o calor e a poeira doirada,
ao longe, cantarolava um regato
entre o piar de duas perdizes,
palpitavam os vermelhos,
os oiros,
em risos de descoberta...
e ainda falam,
em tom circunspecto,
do fim da poesia?

(fonte da imagem:
http://www.lilithgallery.com/,
van Gogh: "Campo de milho
com ciprestes")

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domingo, 6 de junho de 2010

K

demanda

O sossego da mansa luz,
a canção triste,
a noite da anunciação;
o silêncio,
a ráfia das memórias:
rente ao chão,
aquietam-se os sentidos,
secam-se os prantos;
as minhas mãos desenham
no sonho vigil,
um crespo soneto,
sisal de mim
tecido algures.
(inspirado num comentário
no blogue de marés
(fonte da imagem:

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terça-feira, 15 de setembro de 2009

K

poesia

Dou-te os passos da maresia, encontras os caminhos de agora
em algas circunscritas na direcção do teu olhar;
as águas sorriem aos teus trejeitos
de potra;
a Lua não te traz alentos
ou desesperos;
são brisas que resfolegam
peito acima
brotando pelos teus olhos
marejados de espanto;
já eras esposa, mãe,
amiga
abrigo, cabana,
lar,
tornas-te agora também
poesia.

(imagem retirada da net)

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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

K
Os seus passos eram mudos
porque a sua alma se libertara,
[em silêncio]
(imagem retirada da net)

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quarta-feira, 2 de setembro de 2009

K

excertos

Eu rio-me,
sorrio
dos velhos poetas,
eu adoro toda
a poesia escrita,
todo o orvalho,
lua, diamante, gota
de prata submergida
(...)

(Pablo Neruda, excerto de "O homem invisível")

... a poesia escrita leva-me ao eterno,
ao obscuro passado, presente de hoje,
aos risos cantados ao orvalho,
apáticos entre as luas da madrugada;
para onde caminhas, velho poeta,
que levas contigo o princípio da sabedoria?
A esmo palpitam tuas folhas rabiscadas;
e eu, manietado, escrevo com os olhos
nas estrelas fixas, algoritmos rasos de inocência...

(imagem retirada da net, "O descanso do poeta" de Marc Chagall)

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segunda-feira, 25 de maio de 2009

K

...o lápis

Onde estará o meu lápis?
Aquele que me pensava,
me traçava as linhas.
Fora o tempo dos receios,
dos trilhos sem caminho.
As emoções bailavam,
entre o tudo e o nada.
Nada mais.
Ausência.
caminhei entre as tubas,
violinos, violetas, trompetes,
uma orquestra absorta
em si menor.
Onde estaria o meu lápis?
Aquele que delineara com Braque,
satirizara com Eça,
e me deixara esperançoso
de uma arte que me transluz.
Agora estou mirando o tecto,
o infinito pra lá da janela.
O lápis da minha esperança…

(imagem retirada da net)


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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

K

(homenagem...)

Sou um vestíbulo do impossível um lápis
de armazenado espanto e por fim
com a paciência dos versos
espero viver dentro de mim



(Natália Correia in Defesa do poeta)






Quero um lápis,

uma tecla,

não, muitas teclas!


Quero escrever-me,


e desafogar-me.


Quero esfolar-me as entranhas,


o juízo, a demência absurda


de quem só já tem a liberdade.


Quero ser a antecâmara insuportável


do nascimento,


da morte (in)esperada,


da alegria e da felicidade e do perdão,


e da fúria e do choro e do ranger de dentes.


Sim, quero chegar a minha vida aos outros,


sem que eles me conheçam


e me execrem ou aplaudam
A indiferença com que os miro,


leva à rojo minha capa de desprezo.


Quero, com o que escrevo,


viver,


mais


e mais


em mim!!

(fotografia retirada da internet)

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

Iniciativa Legislativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico. Leia, assine e divulgue! Sopro Divino

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