Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
K
águas
Caem farripas,
musgos, satura-se o ar nas fendas do tempo. Humedeço os lábios e agarro os líquenes que me sustêm, b a l a n ç a n d o. Há falésias, há cavernas iluminadas, entre os fetos, os salgueiros, os lírios. Saturo eu e o ar, a roupa ensopa-se, esvoaçam memórias, essas secas, desejo imberbe de carícia. Renuncio ao objecto, à farra desonesta que me envolve, e o retrocesso é caminho, a vida flui, já enxuta, caminho a pé seco de virtudes...
("Lembra-te sempre da tua juventude, não a dês por perdida; tu és todo inteiro, desde os tempos da inconsciência." Fala de Aristóteles a a Alexandre (o Grande) antes da jornada)
O marulhar palpita-me o coração... ouço os meus batimentos nas têmporas das cavernas marinhas...
O Sol apenas se põe no horizonte... o alvorecer há muito que se despiu, lentos são os cânticos chorosos...
Há um portão, um marulhar de vento... um claustro, uma cela fechada, água rindo pelas paredes...
A cela morre de si para si... o horizonte desmaia, doce... na Flandres já não há tropas...
entre os musgos, há essa cela, esse silêncio húmido, os restos de uma viagem sem partida, um sossego malsão...
(a partir de um poema de marés publicado no seu blogue) ("Quando estiveres desamparado, lembra-te que o teu caminho é outro, não carregues só o que te não pertence." Fala de Pitágoras a Asclépio, seu protegido) (fonte da imagem: http://www.hotelclub.com/blog/five-adrenaline-thrills-in-hawaii/)
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)