Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
K
verdana
As palavras já não têm álibi, já não são belas, já nada designam a não ser o escuro da sua ocultação. Nada as justifica, nada as perdoa, nada! a não ser o seu ajuntamento a que chamam texto. As palavras já não se guardam, já não nomeiam o presente em textos diários de pequeno-almoço. já não guardam o prazer indizível da leitura, no conforto das luzes baixas. Hoje, são apenas rutilâncias paralelas, amontoados de letras, escritos que vendem tudo o que quiseres, sobretudo o silêncio da parede cujo imperativo é escutá-lo. As palavras não têm álibi, conversam no escuro da sua ocultação, trânsito de Vénus, semi-eclipse de ideias esbatendo-se na modorrice dos dias.
("Guarda a tua boca das palavras insensatas. É nos teus lábios que se encontra a vida e a morte. Sê sábio, se não puderes elogiar, cala-te!" Fala de Jesus, dito o Cristo, ao seu discípulo amado) (fonte da imagem: foto do autor obtida com telemóvel em Santa Marta-Lisboa, algures em 2013)
Apesar do calor, da luz, o Outono insinua-se, espreita por detrás das árvores, num meio-sorriso de emergente vitória. E, numa tela de Silva Porto, pressinto o bafo tranquilo de uma era que se pressente. (fonte da imagem: http://aarteemportugal.blogspot.pt/2011/12/antonio-carvalho-de-silva-porto-1850.html)
A guarda imperial prostrou-se nas escadarias do palácio. Suavemente, os outros guerreiros ajoelharam depondo as espadas, as lanças, os escudos. Faziam-no ingenuamente: inútil é lutar com a morte: se esta levara o imperial senhor, por que não o faria com eles, os mais fortes de entre os mais fortes de todos? Agora, o império era um campo desguarnecido, território jacente numa aflitiva abertura à Europa. (Publicado em 77 palavras, o blogue de Margarida Fonseca Santos) (Fonte da imagem: https://bibliblogue.files.wordpress.com/2014/04/manfred-von-richthofen-4.jpg)
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)