quarta-feira, 8 de novembro de 2023
Kquarta-feira, 1 de novembro de 2023
KTens trens?
Espero
na estação,
apenas a arrogância da névoa
num atraso celeste
ou infernal?
É longínquo o apito,
chega o ruído sobre mim nos carris,
desacelera, guincha, pára;
um ruído metálico percorre-me,
iça-me para dentro
do Comboio da Não Existência:
na carruagem
nada…
como se um imenso vazio
um buraco tudo sugasse,
e a morte, a própria morte,
oca de si,
me levasse ao colo
rumo à indiferença,
ao desprezo
{de mim mesmo...}.
Arranca, baforando,
não há lugar de chegada,
paragem assobiada,
familiar abraçada,
apenas o nada…
(“Guarda-te de chegares
tão longe que nem
distingas os caminhos,
ou as memórias
dos que te são
queridos.”
Fala de Cristo a Saulo,
em Damasco)
Originalmente publicado, com alterações, na minha página de Instagram (instagram.com)
(Imagem: acervo digital do A.)
Etiquetas: Afectos longínquos, arco imóvel, entropia, escrever a vida
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
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Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)