Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
terça-feira, 26 de novembro de 2013
K
Flor
Hoje, vi a flor reverdecer, o verde a alastrar pelos campos acima, parecia que o vento norte, a chuva salgada, tinham tomado um atalho, um caminho, que nos deixava a flor, o regaço oculto das ervas, dos arbustos, que pariam mais e mais flores. E os pólenes bailavam, nas braçadas de tojo em estio, entre os galhos no meio dos pastos semeados pelo vento.
("Guarda-te dos mares, das ondas e da espuma. Caminha pelo leito seco das águas e sorri ao vento, teu companheiro de viagem." Fala de Orestes a Plauto, dramaturgo e poeta
verde, verde verde que te quero verde; um trilho, marcado pelas rodas, directo ao longe, às asas das nuvens; caminhas à rés dos campos, das flores, dos pinhais, o Sol brincando entre os ramos, os teus passos marcando a espera; há galhos que pisas e guardam na memória os tempos de Natal: a fogueira, a Árvore, os restos da mesa;
esta é a hora da nossa terra, dos caminhos (da noite) das campas alvas, delicadas, servindo de poiso aos gaios; lembras-te quando deslizavas as tuas mãos no frugal assalto aos goivos e aos lírios?
é na brancura e no escuro da noite que adormece o Sol, em gestos suaves de agonia, num empréstimo de flores [já extintas] ("Quando caminhares, anda na bruma da verdade, da paz; talvez encontres a fruição no pó do caminho..." Fala de Plauto a Tucídides, seu discípulo nas horas silenciosas) (fonte da imagem: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Saint_Remy_les_Chevreuse_Cemetery_Fake_Ceramic_Flowers_02.jpg)
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)