Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
sábado, 25 de junho de 2011
K
LIMITES
É no efémero, na luta desigual, no esconder da arma, no deslizar da mão pelo veludo da escória, que enlaço o tempo, ato os atacadores das ideias, e olho em frente: as tabelas, as palas, os limites, as fronteiras, esvaindo-se orgulho acima...
esta guerra oculta, tão incerta,
arrepia-me,
afoga-me a garganta,
num jeito de catástrofe anunciada
"Pelo meio dos saberes procura, diligente, o caminho; não te deixes limitar pelo vão exercício da tua vontade" (fala de Dioniso a Hepátia)
Vem! Fala-me das palavras que escreveste, das luas que entretiveste na obliquidade do teu colo. Não te fiques (olhos vazios no termo da espera), não resgates as sílabas, as vozes das palavras, os signos; vem, simplesmente...
"Nos despojos da tua espera, podes ter buscado o sentido da cilada. Haverá dias, no entanto, em que a solidão te abençoará." (Fala de Dioniso a Édipo)
A contradição atrai-me, em trejeitos de loucura e verve, e em semi-sorriso admiro:
- o vento,
- o torpor doce, melancólico, o vago prazer da dor escorrendo - o espreguiçar-me pelas encostas já ceifadas em canas quase fulvas,
- as janelas semi-abertas ao dourado, à despedida do calor que as usurpava, - as folhas que embalam baloiçando no esquecimento da areia que zurzia e esfolava.
Amo o suave oscilar do Verão, que entre a vigília e o claro sono, numa vil, pastosa estagnação gera um suave, tranquilo Outono.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)