Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
quinta-feira, 29 de maio de 2008
K
fluidez em dó menor
Flui o olhar, o som, a altercação. Flui em sentido, em pária névoa, em gaveta; aberto, num súbito desdobrar de umas asas altaneiras; daquele voo (esquecido) na fluidez do raio. Ecoam cravos, percussões latentes também, o ribombar das cordas, o fluir do olhar, da vista encantada. Drapejam velas, asas, na fila desaustinada daquele sopro, em que nada se queda, na queda dos olhos, naquela altercação sonante...
(em 26/05/08, 19H40, estação do metro Cidade Universitária)
(...)...entre dentes cicio, uma fala cega. Um dizer em arco, sem pilar, em coluna de água, baça. Navego em quedad'água; montes riem altivos, há três ou quatro largos, cinco caminhos verdes.
Um arco pulou em súbito desejo, em brilho oco, em estoque mosqueteiro. Assim se juntou a ponte, assim se uniu o fado...
Espio-me pelas grades d'ontem. O feriado não chegou a despontar; restou a tarde, o frio pela janela fora, um gemido espinha acima, olhos de longe, em fuga.
(...)
A cadeira só, um quarto soterrado, as mão cortadas, abertas, secas... antemanhã, já dia silente -
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)