Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
K
passos
Um dia, os meus olhos saberão o caminho de volta, o retorno ao teu sorriso; até lá, serão as palavras, os poemas, que devolverão a memória, a luz dos teus risos, index sonoro da tua alma...
Agora, as minhas mãos mascaram-se de fumo, penetram até às frinchas dos sonhos, rolam por entre os últimos raios de sol, atrevem-se pelas minhas doces memórias, suspiram entre ais de flores bastardas.
Agora, os meus caminhos já não te inquietam, as minhas ilusões calam-se na noite, os meus olhos perdem-se sonâmbulos.
Pois agora a rendição, o pranto, a esquiva, triangulam-se na espera da hora vadia.
Eu gostava de ser como tu Não ter asas e poder voar (André Sardet, Foi Feitiço)
Sim, entre dois cedros caminhaste com passos obscuros, esfíngicos; vestígios num atalho esquecido, feérico. Deixaste tuas asas em minhas mãos enquanto a Lua despedaçava seus dardos entre as folhas, entre os galhos; teu rasto havia muito que se exumara e meus bolsos, que, de vazios, se rompiam. Ao longe, uma madrugada teimava em não romper por teus passos encobertos, teus voos incertos.
Sobra o caminho, entre dois passos, restou o dia [sóbrio]. Pingavam atalhos entre a folhagem, um verde aspergia os meus passos, o pó jazia liquefeito pelas lágrimas de um deus passeando na madrugada.
(...)
Por onde andaria o meu Alentejo, tresmalhado pelos seus montes, pelos seus trigais?
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)