Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
sexta-feira, 25 de outubro de 2013
K
Hoje
Hoje, proclamo o armistício, o fim do pesadelo e das mãos crispadas. É o tempo das cerejas, dos louros e dos ramos de oliva. É o tempo do sol, dos risos luminosos e dos abraços. É agora que descemos os penhascos e molhamos os pés na areia; sim, molhamo-los na areia, abraçamos o vento e cantamos na madrugada.
Se os meus dedos agarrassem a sombra, a névoa que escorre pelos teus tempos; se as palmas das minhas mãos vaiassem as mágoas, as feridas que se escoam já pelas tuas ruelas; se os meus punhos nus esmagassem a cabeça disforme dessa tua tristeza; então seria o teu sorriso o cais, o refúgio, o caminho largo dos meus pulsos libertos!
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)