Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
segunda-feira, 20 de maio de 2019
K
queda XXV
As ruínas limitavam
o tempo,
era um sol escuro
que pendia, cambaleava,
que fingia um
acto quente,
luminoso,
cínico numa campanha
pueril, vasta. Todo o chão sentava os passos que, jocosos, ensaiavam a travessia. Reflectiam as colunas a baixeza, rumando para o lado em que aquele sol, sempre escuro, amotinava as pedras-rochas, na certeza de que o luar seria cavalgado entre mágoas nas fissuras instáveis do Tempo...
Passeaste os olhos pelo corredor, pelo chão, encontraste os meus e sorriram-se. Aproximei-me do teu precipício, espreitei, e a vertigem puxou-me: "Onde estaria o teu olhar?" Senti que, contigo, sobrevoaria até o mar, raso de lágrimas. Tentaria, pois, o salto. Teus olhos riram, abraçaram os meus e demos as mãos, o Tejo indicando o caminho, o amanhecer o nosso limite. (foto do autor obtida com telemóvel: Lisboa vista duma das suas colinas)
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)