Roo o sonho, na medida certa, onde me dói. Escuto, ouço, letras que se despenham, calotas doidas num convés. Houve dois, três saltos que me soltaram no meio das searas, vazias de pão, tão louras que me levaram a um Norte que me é vedado, ainda. Uma noite, entre sonhos, abrir-se-ão portas: Estocolmo/Oslo/Copenhaga/Helsínquia e o Norte abater-se-á, noite solar, longe, longe...
E as capitais esguias, furtivas, levarão os meus passos, os meus sonhos incertos onde já nada dói, onde já nada conta...
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)