Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
K
queda XVII
; talvez o silêncio fosse a tua hora; talvez já não tivesses mais ancoradouros e te aproximasses das gaivotas, navegador sem estrela; talvez, se te visse hoje, não acreditasse na tua voz, nos teus contos marejados: seria o vazio que me irias passar, nessa tua voz de regato; talvez te faças à vela e, na busca vã das aragens, vás resgatando a dor, a imensidão do claro-escuro, no dorso semi-esférico da noite;
(...) e, nessa base, rodopiou esse teu centro de gravidade enrolando-se, decalcando-se esse teu corpo, pelas paredes desse abismo, dessa fama; vi a parede, esquadria de memórias, dessas que escolheste; um anteparo, um vão de janela: sentada, as mãos em volutas, colunatas de Bernini, debruças-te e essas fileiras de livros despejando-se amavelmente.
(...) Oh! Se já houvesse uma biblioteca infinita...
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)