sexta-feira, 8 de setembro de 2006
K KBin Bin Bin!!!
O sr. Bin (Ben?) Laden conseguiu o que queria. Desde 2001 que o mundo se interessa imenso por ele, escritores enriquecem escrevendo acerca dele, pessoas morrem (talvez) por causa dele, enfim todo o Mundo Árabe veio à cena por causa dele.
Infelizmente, o Mundo Árabe veio à cena pelas piores razões que se podem imaginar. Os media persistem em mostrar-nos mesquitas cheias de fiéis a serem arrazoados por sacerdotes enraivecidos. Sempre o Ocidente nas suas miras, sempre o grande Satã americano.
Talvez haja quem se lembre de Khadaffi na Líbia. Ele e as suas tropelias: treino de terroristas europeus (talvez?), o desafio constante à política externa norte-americana.
E a já eterna crise no Médio Oriente. Israel vs. vizinhos árabes. Danos colaterais de parte a parte. Pelo menos, nos anos 60-70, ainda todos tinham a "ombridade" de lutar entre exércitos. Hoje a realidade é mais personalizada... Um sujeito fazer-se explodir no meio de uma multidão já é muito mais mediático do que uma guerra entre exércitos que, tacticamente, avançam e recuam no terreno e que, portanto, aborrecem as audiências televisivas.
Mas tudo isto põe-me a pensar. Mas que raio de política externa têm os países ocidentais mantido ao longo das últimas dezenas de anos? Que têm eles feito para irritar tanto algumas facções do Mundo Árabe, ao ponto de se terem criado e desenvolvido redes terroristas brilhantemente organizadas?
Penso que uma das respostas está precisamente no que os ocidentais (e peço desculpa por tomar a parte pelo todo) não têm feito. Não têm respeitado, tomado atenção, conhecido a realidade árabe. Pelo pouco que conheço da "mentalidade árabe", há um sentido de algum desprezo pela nossa cultura actual. Provavelmente vêem-nos como demasiado materialistas, demasiado ansiosos nas nossas correrias, demasiado afastados da espiritualidade.
No entanto, foi a cultura árabe (depois do pó da conquista ter amainado) que manteve o elevado nível cultural de todo o Norte de África até à nossa Península Ibérica. A situação era, então, a oposta de hoje: a religião perpetuava os horizontes estreitos por essa Europa fora, enquanto sábios árabes comentavam Aristóteles, descobriam o zero (sim , o zero que tem um valor crucial para a nossa aritmética e que, obviamente, se reproduz por toda a Matemática), arquitectos desenhavam as contruções mais maravilhosas que ainda hoje nos transportam até aos "nossos" contos de fadas.
O Ocidente apenas tem olhado para os poços de petróleo do Mundo Árabe. Infelizmente, um país não é apenas aquilo que nos pode fornecer, não é apenas a interesseira amizade com a família real que reina com pulso de ferro esse mesmo país. Também quase destruir outro país para garantir o fornecimento do petróleo que produz, usando o álibi do estabelecimento da democracia também já não convence ninguém (sim, eu sei: o sr. Saddham era um sanguinário, só que a situação hoje não parece estar muito melhor).
Tentar dialogar com terroristas, pelo menos por agora, seria tentar uma relação unívoca. Pura perda de tempo. Mas seria perder tempo procurar conhecer melhor o Mundo Islâmico, o Mundo Árabe? Saber o que pensam, o que escrevem nos seus jornais, conhecer os seus pensadores, os seus homens de cultura?
O será melhor que ambas partes se continuem a mirar sobre o ombro e pensar que uma é melhor do que a outra? (Já agora, em termos culturais, o que é "ser melhor? Era só para ficar um pouquinho mais elucidado...).
PS - o autor penitencia-se por alguma inocência/ingenuidade evidenciada neste artigo
segunda-feira, 4 de setembro de 2006
KMeu amor
tem a casa limpa,
o ar lavado,
os lençóis prontos
para quando eu voltar.
Partirei assim,
amortalhado
pelas tuas mãos,
pelo teu carinho...
Azul serra
estendem-se os montes,
prolongam-se
até ao mais infinito.
Pedras ásperas,
descem mar abaixo,
e, ao fundo,
a água é leite,
raioso o Sol,
espuma nebulosa.
Brilha a areia
(ósculos de água);
a planura vence os montes.
Pressente-se um Outono
na brisa
tingindo o ar;
paira uma paz
que as gaivotas sabem...
Que os nossos políticos "resquiet in pace", para bem de todos nós.
Assim seja.
sábado, 2 de setembro de 2006
KSe tu...
o horizonte
era sempre laranja;
um alto monte,
a sua velha granja,
um trigo que envelhece.
Longe, a ponte
desce a mancha
que transparece
entre teus olhos
verdes,
em que mergulho,
num prazer pueril,
entre formas de
desejo...
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
-
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)