Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
sexta-feira, 27 de março de 2009
K
escritos nas janelas
Escrevo para me não esquecer que devo escrever. Raspo o suor, escorro-o sobre as letras, escavadas. Ainda não encontrei a palavra, a maldita, mal dita palavra. Sobro-me: entre dois pontos, uma vírgula ou um ponto final. As mãos, a cabeça, ferem-se duma esmola de expressão. O português foge-me, escapa-se-me entre dois, três dedos. Remiro, vejo e revejo. Onde está o que desejei? O início? Par de bandarilhas, uma pega de caras, eis tudo. Uma vaga volta à arena, sem triunfo ou ânimo, talvez. (...) Eis-me aqui. Todo.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)