Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018
K
Marrocos
Nas traseiras de minha casa há um cigano, a quem, à noite, por vezes, o vinho ataca (fantasio-o encostado a um candeeiro); então grita e uiva e trina, e a sua voz trepa e eleva-se e a noite estremece; lembro um Marrocos desconhecido, uma noite cálida e ao longe, o Muezim chama para a oração, e grita, e trina, e a sua voz trepa e eleva-se e
a noite estremece; e o meu cigano vizinho, sem o saber, transporta Marrocos para debaixo da minha janela, numa memória ausente porque de Marrocos apenas conheço a mesquita de Lisboa!
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)