Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
segunda-feira, 24 de dezembro de 2012
K
Só, entre cortinas
Fartei-me do governo, dos truques e tiques, das bazófias e bravatas, que me pregam ao poder. Sinto a mão pesada de assinar pactos, sinto a mão de Deus pousada na nuca, e uma inconsistência, um quase desapego da consciência magoam o silêncio, a solidão do poder. À janela, entre os reposteiros, vejo os derradeiros desfiles da fome, da paz armada, da peste. Então, a mão de Deus força-me a olhar para cima (...) nem consciência, ética, ou o que seja. Afinal, "podes amar Mamon, mas não podes esperar retribuição"...
(fonte da imagem: http://www.garoeiro.com.br/?p=5245) ("Ao poder está associada a tua solidão. Maneja-a com mestria e o teu consulado será breve, a tua memória estimada." Fala de Aristóteles a Alexandre, cognominado o Grande)
Ontem, milhares de bocas gritaram a pobreza, gemeram a tristeza. Ontem, orelhas moucas nem sei para onde se viraram, por onde se escaparam, numa cegueira atroz justificada com números, (estatísticas, chamam-lhes) que é aquilo que nunca fomos.
No entanto, milhões de braços-punhos, milhões de bocas-vozes gritam, gritam sempre, num fervor quase-religioso: "Viva Portugal!"
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)