Passei o promontório do medo, cruzei os remos, em jeito de espera; dois olhos secos como a dureza d'areia, fixaram-me como se o caudal das suas íris me tornasse ainda mais pagão, ainda mais gentio. Suportei as miradas, e remei, remei sempre em navegação de doce agonia, como se os meus caminhos fossem verdugos, ou ásperas calçadas. Depositei o meu olhar na crueza daquele tão nobre e frio; logo, arquejantes, se entranharam: o meu feito vadio, o outro vadiando livre...
(imagem retirada da net, do filme "clockwork orange")
Privilegia o ritmo e rima com as idéias paradas de quem observa. É notável o vai e vem das palavras...não sei se moras perto do mar aí em Portugal, mas tua gente é de mar, tua herança é de mar e tua poesia compassada como as ondas. Parabéns Poeta... aqui vivemos do lado da maior praia do mundo, cercado por águas de todos os lados na cidade portuguesa do Rio Grande do Sul.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
4 Comentários:
Um poema vincado. Beijos.
Privilegia o ritmo
e rima com as idéias paradas de quem observa.
É notável o vai e vem das palavras...não sei se moras perto do mar aí em Portugal, mas tua gente é de mar, tua herança é de mar e tua poesia compassada como as ondas.
Parabéns Poeta...
aqui vivemos do lado da maior praia do mundo, cercado por águas de todos os lados na cidade portuguesa do Rio Grande do Sul.
Ser, no promontório, o que vê e o que é visto. O que rema e o que é remo...
Um belo poema, este.
Beijos.
pelo olhar navego
adentro o nevoeiro
com a minha nau de sílabas
.
pelo mar, arquejo os meus verdugos
de infinitos gestos redesenho as marés
_______
infinito o caminho das naus
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