quarta-feira, 1 de agosto de 2012

K

Affair de Sábado à noite


Senti o cheiro,
o bafo de uma noite
que trazia ainda os restos
de um rio quase adormecido,
embalado pelas ondas do mar que o afagava,
talvez já parado no tempo da curta sedução.
Era uma luz baça,
a que iluminava a travessa-da-entrada-do-bar-dessa-noite-encantada
resquícios de uma tarde meio bolorenta,
pegajosa, também ela em jogo de sedução,
de toca-e-foge,
agora-estou-no-coito.
Na contracorrente, num jeito quase bamboleante,
passeavam-se casais,
militares de passo acertado,
desfile na parada;
havia também solitários,
(rotundos como no jogo)
estes, abraçavam as imperiais,
como se o líquido sacudisse o isolamento,
num trago jogado fora.
Outros havia,
(estes mais interessantes),
pois não sendo ainda dos primeiros,
já não seriam, certamente,
dos segundos.
Não tinham poiso:
onde encontrá-los?
Talvez na baía dos sonhos,
no teatro-savana-da-caça,
no retiro do ver-e-ser-visto.
Enquanto se encostavam à parede,
a perna dobrada,
um quatro em busca de dois,
disfarçavam um sorriso,
um ar de êxito antecipado,
uma vitória sem luta.

Um jovem guardou-me a atenção:
calças justas, camisa engomada,
sapatos de bom toque,
sem cigarro;
os lábios descaíram um quase-sorriso:
seguiu pela entrada-do-bar-dessa-noite-encantada.
Passou o tempo que a minha imperial
diluía.
Saiu, conversando com a rapariga
mais bela,
mais linda,
mais bonita
que eu vira nessa noite.
Falaram,
e eu, repórter
refinadamente chegado ao grupo
dos segundos,
captei-os, entre linhas.
O rir dele penetrou pelo dela dentro,
o jogo dos olhares estava consumado,
admirei os jogos de pés,
assombraram-me duas, três palavras
sussurradas entre o vento nos
salgueiros  ausentes,
o jogo de sedução, enfim,
o toca-e-foge,
agora-estou-no-coito.
Seria de esperar
uma Lua abençoadora,
beneplácito murmúrio
de tocatas-e-fugas,
(mas isso é nos filmes):
aqui há cumplicidades,
trocas em vagas ruidosas,
e as mãos fugindo
(nem se sabe para onde):
ela em jogo de sedução,
de toca-e-foge,
agora-estou-no-coito
(sempre no coito)
e ele com ela jogando.

Agora a luz baça,
a que iluminava a travessa-da-entrada-do-bar-dessa-noite-encantada,
vai iluminando as suas costas,
escorregando e debruando
os seus destinos,
os seus passos,
os seus caminhos;
mas o que quero?
A vida está suspensa
num jogo de luz e sombras:
por muito que tente e se acoite,
é sempre um:

"Affair de Sábado à noite"
(texto concorrente a um desafio de
 http://escrita-online.blogspot.com)
(fonte da imagem:

2 Comentários:

Blogger Nilson Barcelli disse...

O clima dos sábados à noite muito bem aboraddo.
Gostei do teu poema, é magnífico.
Um abraço.

segunda-feira, 06 agosto, 2012  
Blogger Nilson Barcelli disse...

O clima dos sábados à noite muito bem elaborado.
Nem vi que saíu com erros...
Bom fim de semana.
Abraço.

sábado, 11 agosto, 2012  

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

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