Senti o cheiro,
o bafo de uma noite
que trazia ainda os restos
de um rio quase adormecido,
embalado pelas ondas do mar que o afagava,
talvez já parado no tempo da curta sedução.
Era uma luz baça,
a que iluminava a travessa-da-entrada-do-bar-dessa-noite-encantada
resquícios de
uma tarde meio bolorenta,
pegajosa, também
ela em jogo de sedução,
de toca-e-foge,
agora-estou-no-coito.
Na
contracorrente, num jeito quase bamboleante,
passeavam-se
casais,
militares de
passo acertado,
desfile na
parada;
havia também
solitários,
(rotundos como
no jogo)
estes, abraçavam
as imperiais,
como se o
líquido sacudisse o isolamento,
num trago jogado
fora.
Outros havia,
(estes mais
interessantes),
pois não sendo
ainda dos primeiros,
já não seriam,
certamente,
dos segundos.
Não tinham
poiso:
onde
encontrá-los?
Talvez na baía
dos sonhos,
no teatro-savana-da-caça,
no retiro do
ver-e-ser-visto.
Enquanto se
encostavam à parede,
a perna dobrada,
um quatro em
busca de dois,
disfarçavam um
sorriso,
um ar de êxito antecipado,
uma vitória sem
luta.
Um jovem guardou-me
a atenção:
calças justas,
camisa engomada,
sapatos de bom
toque,
sem cigarro;
os lábios
descaíram um quase-sorriso:
seguiu pela entrada-do-bar-dessa-noite-encantada.
Passou o tempo
que a minha imperial
diluía.
Saiu,
conversando com a rapariga
mais bela,
mais linda,
mais bonita
que eu vira
nessa noite.
Falaram,
e eu, repórter
refinadamente
chegado ao grupo
dos segundos,
captei-os, entre
linhas.
O rir dele
penetrou pelo dela dentro,
o jogo dos
olhares estava consumado,
admirei os jogos
de pés,
assombraram-me
duas, três palavras
sussurradas
entre o vento nos
salgueiros ausentes,
o jogo de
sedução, enfim,
o toca-e-foge,
agora-estou-no-coito.
Seria de esperar
uma Lua
abençoadora,
beneplácito
murmúrio
de tocatas-e-fugas,
(mas isso é nos
filmes):
aqui há
cumplicidades,
trocas em vagas
ruidosas,
e as mãos
fugindo
(nem se sabe
para onde):
ela em jogo de
sedução,
de toca-e-foge,
agora-estou-no-coito
(sempre no
coito)
e ele com ela
jogando.
Agora a luz baça,
a que iluminava a travessa-da-entrada-do-bar-dessa-noite-encantada,
vai iluminando
as suas costas,
escorregando e
debruando
os seus
destinos,
os seus passos,
os seus
caminhos;
mas o que quero?
A vida está
suspensa
num jogo de luz
e sombras:
por muito que tente
e se acoite,
é sempre um:
"Affair de
Sábado à noite"
(fonte da imagem:
2 Comentários:
O clima dos sábados à noite muito bem aboraddo.
Gostei do teu poema, é magnífico.
Um abraço.
O clima dos sábados à noite muito bem elaborado.
Nem vi que saíu com erros...
Bom fim de semana.
Abraço.
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