Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
K
origem
Vigia as tuas mãos, os teus olhos, os teu pulsos; não rasgues os teus dedos na caliça que te esqueceu; não ouças as visões - brindes do tempo; não cabeceies sobre o teu peito: já não há quem se incline sobre ti.
Regressa à tua terra, agarra os torrões, as ervas, abraça os teus trilhos e sorri ao vento, as madrugadas pertencem-te, e os poentes alargam-se e pintam-te a alma de ouro.
Gosto muito da obra poética de Nuno Júdice. O seu poema trouxe-me este à memória:
A Origem do Mundo
De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra, ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com a névoa da madrugada. O mundo, então, fica ao contrário: o céu, que não vejo, está por baixo da terra; e as raízes sobem numa direcção invisível. De dentro de casa, porém, um cheiro a café chama por mim: como se alguém me dissesse que é preciso acordar, uma segunda vez, para que as raízes cresçam por dentro da terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
5 Comentários:
Magnífico poema. Da vigilância e do regresso às origens.
Um abraço.
Gosto muito da obra poética de Nuno Júdice. O seu poema trouxe-me este à memória:
A Origem do Mundo
De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra,
ainda fresca, sai com as raízes; e mistura-se com
a névoa da madrugada. O mundo, então,
fica ao contrário: o céu, que não vejo, está
por baixo da terra; e as raízes sobem
numa direcção invisível. De dentro
de casa, porém, um cheiro a café chama
por mim: como se alguém me dissesse
que é preciso acordar, uma segunda vez,
para que as raízes cresçam por dentro da
terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.
Nuno Júdice, in "Meditação sobre Ruínas"
Um beijo
Regressar às origens,
meu caro,
eis o que procuram
os espíritos poéticos!
Um abraço
Muito bom...atordoante, eu digo!
Literalmente um baita empurrão para a vida que parece adormecida, ou simplesmente esquecida...
[]s
A todos vós:
estou muito grato pelas vossas palavras.
Bem-hajam.
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