Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
K
Cedro
Já esquadrinhaste os fios tensos que fazem ser a tua memória? Que ramos escalaste para fazeres de uma árvore madura a vida que descuidaste? Na tua rapidez, os teus cruzaram-se contigo em sentido oposto, e tu, na tua gana, apontaste o nariz em frente, furando arbustos e contos.
Hoje, rendes louvor ao velho, ao sábio cedro; as tuas mãos engelhadas abrem-se ao tempo, à miragem de outros verdes; os teus olhos rendem-se aos bailados dos fios tensos, à luz ridente, ao afecto das raízes mergulhadas nas colinas do Líbano.
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
1 Comentários:
"Que ramos escalaste
para fazeres de uma árvore
madura
a vida que descuidaste?
Na tua rapidez,
os teus cruzaram-se
contigo
em sentido oposto,"
isto é divino, belo, excelso e retenho assim, pela citação que tanto me toca... Obrigado
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