Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
terça-feira, 5 de julho de 2011
K
ANGRA
Regresso.
É na viagem que me revejo,
no sonho da volta, no reentrar no ancoradouro das águas afáveis. Já nem vejo a corda bamba, o silêncio tornado juiz, o refluxo distante; guardo-me das palavras longas, ditas na farsa acre do tempo; hoje apenas quero afundar-me na maresia cálida, acolhedora, fluxo dorido das eras em memória de si mesmas (...)
"Guarda as tuas palavras, torna os teus gestos comedidos, não vá o destino enxergar-te e lançar sobre ti o cárcere, a infâmia." (Fala de Dioniso a Alexandre, o Grande)
(imagem do autor obtida com telemóvel: ocaso em S. Martinho do Porto, 2010)
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
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