Dizer um poema é orar; todos os poetas são abençoados por Deus. (adapt. de Rosa Lobato de Faria)
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
K
Caronte
Devia de ter deixado as mãos cumprirem o seu destino: uma e outra falando, dizendo à morte o nada da sua vinda. Subi, pois, ao poço da viagem, entre dois mastros vazios, dois remos sucumbindo; zarpámos: Caronte a esmo sorria em vago tango de aluguer, a Lua fugira de soslaio, o vento sereno e negro, mergulhei, suave, a mão nas águas apagadas, no trecho de um fado vadio em voz de desalento fugaz (...) (querem débil, o meu clamor...)
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
2 Comentários:
Um belo poema! Uma foto linda escolhida! Muitos beijos.
o barqueiro que nos leva a alma entre dois mastros vazios.
e a lua
a cumprir o seu destino
duas mãos
em desalento
no breve trecho de um fado
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um beijo Jaime
gostei muito
obrigado!
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