Lembro-me que um crepúsculo,
que uma ausência de luz,
é, também, um caminho, num castelhano tosco: "más grande, más sencillo", sim, mais simples, em que, em fundo, se encontrará o escuro, oriundo da luz. Não faz mal: quantos caminhantes, no ensejo maior da caminhada, viram nuvens escuras presas em farripas esparsas de uma luz vencida? Abro os olhos, vejo, temo o temor, apenas. De resto, enfuno-me, e deixo que mesmo "más grande" o caminho não me abandonará, não me descalçarei sucumbindo às dores do desnorte, ao pesar da palavra oca.
Mesmo na minha migração,
na minha saída,
o que me prender
será apenas o coração
(esse, demasiado grande
para que o possa levar).
Não receio caminhar pelo escuro,
pela ausência.
Não temo o lugar,
talvez por ser
oriundo da luz.
Cá,
houve pescadores sem peixe,
operários sem féria;
cá,
a fome sentou-se às mesas,
trazendo consigo o manto negro,
a clara falange espetada
para os pratos enormes…
Serei, pois,
fiel a um caminho
que me leve longe.
Irei com ânsia
e sem espera.
Serei, pois,
fiel ao caminho e,
num gesto quase agnóstico,
espraiarei meus olhos,
fitarei cego os marcos,
as veredas;
os dragões ser-me-ão favoráveis,
e não me descalçarei
por mor do desnorte.
Transportarei no meu bolso o
Guia da
Profunda
Saudade
e assentarei
o meu nariz
no Sol do meio-dia.
"Más grande, más sencillo",
será também o meu apego
à terra,
a toda a terra,
enquanto funâmbulos perdidos
pedirem pelos cantos,
sorrindo um sorriso desgrenhado,
mas sincero, assim.
Sobre todas as coisas
guardarei o rigor do conhecimento,
a certeza
e a fidelidade de um coração
deixado longe.
Agora, depois de tanto falar,
parto, então;
olho o que foi o meu país,
sinto o remorso do abandono,
a que ele me votou,
porquê?
Nem sei.
Uma vaga de frio,
de modesto,
mas firme horror,
percorre-me a espinha,
sei que voltarei tarde,
sei que a minha terra
vai ficando só.
Trilho os caminhos
que milhares e milhares
de outros já trilharam,
mirando uma nação
que os não soube agarrar.
O português embarca,
como sempre,
no ciclo infindável
das Descobertas,
agora já não dilatando
a Fé ou o Império,
já não buscando a glória
ou a aventura…
(expansão do meu poema "Céu"de 30/10/12)
("Sê sincero para com os outros,
não detenhas a tua mão no labor da justiça,
assim na tua velhice terás o respeito
dos teus concidadãos."
Fala de Péricles a Tucídides, seu eterno discípulo)
(Imagem do autor
obtida com telemóvel:
"S. Pedro de Moel)
Etiquetas: escrever a vida
0 Comentários:
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial