São minhas as palavras que me corroem, me arrojam a mente pelo papel. Entre dois substantivos o verbo não se aquieta. Esfuma-se a ideia, o sentido. Passa o deserto pela Língua que, espúria, me atraiçoa o sentir. Em vão, junto os pulsos aos céus, a minha cabeça tomba, e um corropio feérico, desnuda a Palavra, seca, casca de nada, bocejo finando-se in sfumatto (ad miseria mundi...)
a palavra é substantiva saliva e úbero verbo que se abre como a flor à voz do dia. ou como a noite quando estende os seus tentáculos em corropio pelo sentir. devora-nos o fruto doce que nos encima a lingua
"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."
Naguib Mahfouz, romancista egípcio, na mensagem que enviou, em 1988, à Academia Real Sueca a agradecer o Prémio Nobel da Literatura, o único a ser atribuído até à data, a um escritor árabe
(cit. em "Dicionário do Islão", Margarida Lopes, ed. Notícias)
1 Comentários:
a palavra
é substantiva saliva
e úbero verbo
que se abre como a flor à voz do dia. ou como a noite quando estende os seus tentáculos em corropio pelo sentir.
devora-nos o fruto doce
que nos encima a lingua
______
um beijo
serenamente marítimo
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial