sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

K

(???)


Tão perto

e o outro

vai-se esfumando,

a memória

já não lhe toca.

Há outros cheiros,

há outras cores nos ares;

olhos vidrados no nada,

pendurados em ninguém,

presos aos olhos

de quem passa,

silenciosos

revirando o chão.

Amor é nada,

vai,

deixa, deixa o obscuro gosto,

da ausência;

amor é nada,

deixa o travo da espera,

do frio nos braços

entrelaçados

em si.

Amar,

é amar o que não foi,

a fantasia,

o querer,

querer que o outro

fosse o que não era.

O amor sempre partiu,

numa fuga

infame.

(...)

Amor?

Melhor o frio

sem memória...
(a partir de um pensamento de blindness)
(Fotografia de J.N.)

6 Comentários:

Blogger Blindness disse...

O amor, quando não é obcessão, deixa uma lembrança quente... por vezes essa lembrança pode apertar ligeiramente o coração, mas se fosse assim tão mau já viviamos de portas fechadas para o mundo há muito...

segunda-feira, 24 dezembro, 2007  
Blogger Jaime A. disse...

Querida blindness:

O amor até pode acabar "por acabar", deixar uma lembrança que se esfuma; outras relações, por serem menos "exclusivistas", tenderão a perdurar mais. Na sua volatilidade e posse é que o amor se perde. Que achas?
Beijos

segunda-feira, 24 dezembro, 2007  
Blogger Blindness disse...

Mas quem somos nós se, num qualquer momento da nossa vida, não tivémos alguém que nos achasse seu e a quem nós achámos nosso?

Essa exclusividade... esse é o fim, as relações não devem ser exclusivas, não podemos ser exclusivamente filhos, irmãos, namorados, a nossa vida é um interlaçado de relações, umas mais próximas que outras mas nenhuma delas deve ser exclusiva, somos afinal de contas um ser social, sedento de relações com os outros...

sexta-feira, 28 dezembro, 2007  
Blogger Jaime A. disse...

Penso que esse é o toque a finados do amor: "tu és meu, tu és minha". Não pertencemos a ninguém e quem se lembra disso? Na sofreguidão do amor, a "propriedade" causa mazelas profundas, porque não sabemos mover-nos na liberdade que é nossa, por dever desta relação. Que resta então? Não sei.

PS - adoro os teus comentários. Incentivam-me à descoberta da palavra, da ideia.
És sempre muito bem-vinda.
Um beijinho

sexta-feira, 28 dezembro, 2007  
Blogger nmt disse...

ai o amor...tanto ja se disse e tão pouco fertilizou.
Bonito...parabens!

quarta-feira, 06 fevereiro, 2008  
Blogger Jaime A. disse...

O amor só fertiliza quando realmente existe. E isso quando será?
Grato pela tua visita e comentário.

quarta-feira, 06 fevereiro, 2008  

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"[...] Apesar de tudo o que se passa à nossa volta, sou optimista até ao fim. Não digo como Kant que o Bem sairá vitorioso no outro mundo. O Bem é uma vitória que se alcança todos os dias. Até pode ser que o Mal seja mais fraco do que imaginamos. À nossa frente está uma prova indelével: se a vitória não estivesse sempre do lado do Bem, como é que hordas de massas humanas teriam enfrentado monstros e insectos, desastres naturais, medo e egoísmo, para crescerem e se multiplicarem? Não teriam sido capazes de formar nações, de se excederem em criatividade e invenção, de conquistar o espaço e de declarar os direitos humanos. A verdade é que o Mal é muito mais barulhento e tumultuoso, e que o homem se lembra mais da dor do que do prazer."

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